Governo grego pede "novo acordo social" para evitar colapso do país

A linha seguida por George Papandreou no discurso que fez ontem à população grega soaria a repetição a qualquer português que, durante a última década, tenha estado minimamente atento aos desenvolvimentos políticos do país. O primeiro-ministro começou por dramatizar a situação económica e orçamental em que se encontra actualmente a Grécia, continuou, culpando o anterior Governo pela herança deixada, e concluiu, pedindo sacrifícios à população e anunciando uma série de medidas de austeridade.

A Grécia "ou muda, ou afunda-se", avisou Papandreou, dando conta das dificuldades de financiamento internacional que o país pode vir a sentir, se não conseguir corrigir um défice que se deverá cifrar este ano em 12,7 por cento do PIB e começar a reduzir uma dívida pública que já supera os 120 por cento do PIB.

Para fazer isso, defendeu o primeiro-ministro, são precisas medidas "dolorosas" e "um novo acordo social". "Todos nós vamos ter de perder o nosso conforto", disse, ao mesmo tempo que garantia que nos próximos três meses serão tomadas "decisões que não foram tomadas durante décadas".

Entre estas medidas estão o congelamento de parte dos salários da função pública, o corte de 10 por cento na despesa social, o limite de novas contratações no Estado, o fecho de um terço dos gabinetes de turismo da Grécia no estrangeiro e o ataque à fraude fiscal, com mais impostos sobre as empresas com off-shores e nova legislação anticorrupção.

Houve, contudo, a preocupação de excluir os escalões de menor rendimento das medidas de austeridade e mostrar que os mais ricos também são afectados. O Governo prometeu aumentos acima da inflação para os funcionários públicos com salários mais baixos e anunciou a imposição de uma taxa de tributação de 90 por cento sobre os bónus distribuídos pelo sector bancário.

O objectivo final é colocar o défice abaixo de 3 por cento até 2013 e começar a reduzir a dívida a partir de 2012. Nos mercados, que têm vindo a exigir taxas de juro cada vez mais altas para emprestar dinheiro ao Estado grego, o ambiente, antes do discurso, era de grande desconfiança relativamente à ambição do programa de consolidação que viria a ser apresentado. As taxas das obrigações gregas continuaram a subir. Depois do discurso, já ao fim do dia, as primeiras reacções dos analistas internacionais eram as de que as medidas anunciadas eram pouco específicas e não chegavam para concretizar um corte tão forte no défice como o previsto.

Uma das dificuldades que se antecipam para a concretização de um plano com metas tão ambiciosas de consolidação orçamental é que o Governo socialista assumiu este ano o poder na sequência dos protestos violentos que se fizeram sentir nas ruas devido à crise económica que se abateu sobre o país a partir de Dezembro do ano passado. O Governo de centro direita, mesmo sem tomar qualquer medida de austeridade para controlar as finanças públicas, registou uma forte quebra de popularidade à medida que a economia ia caindo.

Na campanha eleitoral, Papandreou apresentou-se como alternativa, precisamente apontando para a necessidade de garantir aumentos reais dos salários e um reforço das políticas sociais. Quanto tempo resistirá o executivo perante os protestos que venham a surgir assim que comecem a ser aplicadas medidas que vão no sentido contrário? Esta é a questão que está a ser colocada pelos investidores dos mercados internacionais, que já mostraram não estar disponíveis para dar muitas oportunidades.

Sugerir correcção
Comentar