Negócio de Dias Loureiro em Porto Rico feito contra pareceres internos

O investimento da SLN, detentora do BPN, feito em Porto Rico foi de 56,5 milhões de euros
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O investimento da SLN, detentora do BPN, feito em Porto Rico foi de 56,5 milhões de euros José Carlos Coelho (arquivo)
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A operação de aquisição de duas sociedades tecnológicas com sede em Porto Rico pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN) em 2001 e 2002, numa transacção ocultada das autoridades portuguesas, foi desaconselhada por escrito pela equipa técnica do grupo que avaliou o projecto por o considerar de elevado risco.

O negócio foi liderado por José Oliveira Costa, antigo líder da SLN/BPN, e por Dias Loureiro, que na altura era administrador executivo do grupo. A transacção acabaria por ser concretizada com base num relatório favorável entregue pelas próprias empresas de Porto Rico que tinham como investidor o libanês Abdul Rahman El-Assir, amigo do ex-ministro e que é descrito na imprensa internacional "como traficante de armas".

"Que fique bem claro que o projecto de Porto Rico foi considerado por mim de elevado risco e da minha parte foi desaconselhado por escrito", explicou Jorge Manuel Vieira Jordão, contactado pelo PÚBLICO para esclarecer o seu envolvimento na tomada de posições accionistas nas duas sociedades, a NewTech e a Biometrics Imagineerin. Na altura em que os factos ocorreram, este economista (actualmente na Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo), era quadro superior do grupo de Oliveira e Costa, e trabalhava na SLN Novas Tecnologias. Em 2004 Vieira Jordão já era administrador da SLN, tendo pedido a demissão em Dezembro desse ano.

Negócios ocultados

Vieira Jordão entrou em 2001 para a SLN Novas Tecnologias, como quadro técnico, tendo sido encarregue de estudar o dossier de Porto Rico. A empresa era então presidida por Dias Loureiro, que assumiria funções executivas na administração da holding SLN em Novembro de 2001, ou seja, um mês antes de se concretizar a compra de 75 por cento da NewTech, e dois meses antes da tomada de posição de 25 por cento na Biometrics. As duas operações não constam dos registos oficiais da SLN, foram ocultadas das autoridades e implicaram um investimento da ordem dos 56,5 milhões de euros.

Vieira Jordão explicou que entrou para a SLN quatro meses antes do primeiro contrato de aquisição ter tido lugar e que nessa altura percebeu "que o negócio já estava acordado". Ainda assim, foi-lhe pedido para ir a Porto Rico, um paraíso fiscal, avaliar a viabilidade dos equipamentos associados às empresas (leitura de cheques e de folhas A4 e máquinas alternativas às Multibanco).

Que apreciação fez do projecto? "Escrevi um memorando que dirigi aos presidentes da SLN SGPS e da SLN Novas Tecnologias, e onde refiro, entre outras coisas, que o negócio não era aconselhado por ser de elevado risco", esclarece Vieira Jordão.

Em Outubro de 2001, a administração da SLN pediu novamente a Vieira Jordão "colaboração para estudar vias de optimização dos equipamentos da NewTech e da Biometrics na América Latina, o que [o] levou a viajar até ao Brasil, Argentina, Chile e Venezuela". "Voltei a colocar reservas ao negócio." Como reagiram os responsáveis da SLN? "Acusaram-me de ser céptico."

Vieira Jordão explicou que a operação acabou por ser concretizada com base num plano de negócios apresentado pela NewTech e pela Biometrics, e que chamava a atenção para o seu grande potencial. E adianta ainda que na administração da SLN Novas Tecnologias, liderada por Dias Loureiro, existia um "grande entusiasmo" quanto às potencialidades do negócio.

Reunião com Abdul El-Assir

Durante a sua intervenção neste dossier contactou com o empresário libanês Abdul El-Assir? "Sim. Em Outubro de 2001, antes dos contratos de aquisição terem sido oficialmente celebrados, fui chamado para participar numa reunião em Lisboa, onde estavam presentes os responsáveis da SLN e o investidor das duas empresas", revela Vieira Jordão. E adianta: "Foi um encontro fugaz e recordo-me que se chamava El-Assir e que era tratado por mister."

Ao longo da conversa com o PÚBLICO Vieira Jordão fez, repetidas vezes, questão de esclarecer que "não concordou com o negócio" e que está disposto "a prestar todos os esclarecimentos que forem necessários às instâncias competentes". Contactado pelo PÚBLICO, Dias Loureiro recusou fazer mais comentários sobre a sua passagem pelo grupo SLN.

A ligação do ex-ministro de Cavaco Silva ao grupo SLN remonta a 2000, quando vendeu a Plêiade (que possuía com José Roquette), tendo, por contrapartida, ficado com uma posição accionista na holding que controlava a 100 por cento o BPN. A alienação da Plêiade atirou para o universo da SLN uma empresa marroquina (a Redal) da área das energias, e que foi intermediada pelo libanês El-Assir. A 30 de Novembro de 2001 Dias Loureiro foi nomeado administrador executivo no BPN. Nove meses depois de ser indigitado administrador do BPN SGPS, deixaria o lugar e diz que em 2003 vendeu as suas acções da SLN e renunciou a desempenhar funções executivas. Mas manteve-se como administrador não executivo até 2005, com o pelouro de uma empresa de componentes de automóveis, detida em 50 por cento pela SLN.

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