Mário Soares incentiva esquerda a aprender com Lula

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O trabalho de Lula à frente do Governo brasileiro foi elogiado Alessandro Della Valle/EPA

O Ex-presidente português Mário Soares propôs hoje em Paris que os políticos de esquerda aprendam com o Governo brasileiro "o novo caminho" que está a ser traçado pelo chefe de Estado do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

"É um grande estadista que está a dar a volta à política não só na América Latina como na Europa", afirmou Soares aos jornalistas.

Mário Soares foi a única personalidade portuguesa a estar presente numa recepção organizada na residência oficial do embaixador brasileiro em França, Marcos de Azambuja, que encerrou a primeira visita oficial de Lula à Europa.

O Presidente brasileiro seleccionou uma série de personalidades da esquerda francesa, onde se destacaram os antigos primeiros-ministros Lionel Jospin e Michel Rocard, o ex-ministro da Cultura Jack Lang, o actual líder socialista francês, François Hollande, entre outros.

O ex-Presidente português disse que a presença destas personalidades é a prova do reconhecimento do papel de Lula, que está a abrir um "caminho novo e com que todos temos de aprender".

O actual deputado europeu português, que participou no Fórum Social Mundial de Porto Alegre (Brasil), classificou como "excelente" a prestação de Lula no Fórum Económico Mundial de Davos (Suíça).

Para Soares, o Presidente brasileiro "disse exactamente a mesma coisa [em Davos] que em Porto Alegre e foi corajoso ao falar da importância do combate à pobreza e à miséria, mesmo se a audiência não partilhava dos seus ideais". "Acho que ele está a fazer o que pode", acrescentou.

Questionado pela Lusa sobre se Lula pode assumir um papel de destaque na Internacional Socialista, organização à qual actualmente o Partido dos Trabalhadores do Brasil não pertence, Soares respondeu afirmativamente. "Penso que ele pode ajudar muito" a Internacional, frisou.

Presidente do FMI renova confiança no Governo de Lula

Já o director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Koehler, afirmou, também hoje em Paris, que está confiante na política do Governo brasileiro, chefiado por Lula da Silva.

À saída de uma reunião com o chefe de Estado brasileiro, o presidente do FMI disse-se convencido de que o Executivo brasileiro "tem uma agenda pró-crescimento", mas com preocupações sociais, o que considera uma política "correcta".

O FMI concedeu um empréstimo de 30 mil milhões de dólares (sensivelmente o mesmo valor em euros) ao Brasil no passado mês de Agosto, ainda sob o Governo de Fernando Henrique Cardoso, mas foi assumido o compromisso de que o país procuraria pagar a sua dívida externa. "Espero que possamos apoiá-lo", declarou Koehler.

O presidente do FMI salientou também o trabalho do ministro brasileiro da Fazenda (Finanças), António Palocci, de "que os mercados estão a gostar".

Apesar de reconhecer que "a economia global tem colocado novos desafios que tornam a tarefa mais difícil", Kohler disse igualmente que está optimista em relação ao futuro do Brasil, até porque as suas autoridades, frisou, "demonstram que querem cumprir o que prometeram".

O presidente do FMI lembrou ainda a decisão do Governo de Lula de atrasar a compra de aviões militares para aplicar o dinheiro na luta contra a pobreza no país, opção que mostra a "aproximação política que está a ser tomada para usar mais eficientemente o dinheiro".

Reunião "de grande importância"

Por sua vez, o ministro brasileiro da Fazenda disse que esta reunião, em que houve um "longo diálogo" entre Lula e Koehler, "foi de grande importância", já que foram confirmadas as expectativas de que o Brasil vai cumprir os seus compromissos perante o FMI.

Palocci sublinhou que o Brasil tem assumido a postura mais adequada nesta altura, praticando uma política tradicional nos assuntos macroeconómicos, procurando a criatividade para estimular o desenvolvimento e uma atitude agressiva nas relações comerciais com o exterior.

Fazendo um balanço desta primeira visita à Europa, Palocci considerou importante o desafio feito por Lula ao pedir prioridade na ajuda à luta contra a pobreza e a miséria numa altura de crise económica. "Se mesmo as grandes empresas têm dificuldades, quanto mais as pessoas necessitadas", lembrou.

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