Apolo 17 levou os últimos homens à Lua há 30 anos

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Só a Guerra Fria conseguiu impulsionar a viagem do homem pelo sistema solar DR

Há 30 anos, partia de Cabo Canaveral o último voo tripulado rumo à Lua: a missão Apolo 17 punha um ponto final ao desafio colocado pelo Presidente norte-americano John F. Kennedy uma década antes, quando os Estados Unidos tinham apenas 15 minutos de experiência no espaço. Ao todo, 12 homens pisaram o solo poeirento da Lua, entre 1969 e 1972. Mas, desde então, nenhum outro ser humano pisou outro planeta.

Entre os mais de 42 mil convidados e cerca de 700 mil pessoas que acorreram à Florida para ver o lançamento do poderoso foguetão Saturno V, no topo do qual os astronautas viajaram para escapar à atracção da gravidade da Terra, havia alguém que não acreditava no que o espectáculo anunciava: "Havia pelo menos um herético no grupo: Charlie Smith, com 130 anos, o mais velho americano vivo", recorda o comandante da Apolo 17, Eugene Cernan, no livro "The Last Man on the Moon".

"Ele tinha visto muitas coisas fantásticas na sua longa vida e a viagem da Apolo 17 estava mais ou menos a par com o dia em que o padre fugiu com o dinheiro dele e a mulher do diácono. 'Ninguém vai à Lua - nem eu, nem ninguém', dizia ele. Mas, mesmo assim, deixou-se ficar para assistir ao lançamento", recorda Cernan.

A arenga desconfiada de Charlie Smith quase ia sendo verdade, porque o mais velho e fiável computador do centro de controlo emitiu um alerta no momento da descolagem. Nada parecia estar errado, mas os três astronautas da Apolo 17 - Harrison Schmitt e Ron Evans, além de Cernan - tiveram de ficar à espera, presos aos assentos, a 110 metros de altura, no topo do mais poderoso foguetão construído pelo homem.

Nesta sexta missão tripulada à Lua, viajou o único cientista que alguma vez foi à Lua: Schmitt, que era geólogo e a quem Cernan chamava Dr. Rock. A alcunha até pode parecer afectuosa, mas na altura não o era assim tanto, pois havia uma guerra entre os cientistas e os militares pelos poucos lugares disponíveis para a viagem à Lua. A disputa acentuou-se depois de terem sido anunciados cortes no programa que levaram à anulação de algumas das missões previstas.

Na Lua, Schmitt descobriu um misterioso solo alaranjado. "Oh, ei, espera um minuto... Esta terra é cor-de-laranja!" Cernan confirmou a cor inesperada naquele cenário de cinza e branco: "Não, ele não está a ficar louco." Este solo era um excelente indício de actividade vulcânica na Lua, por isso Schmitt e Cernan recolheram amostras na cratera Shorty, ainda que as suas reservas de oxigénio estivessem a chegar ao limite. Schmitt estava tão excitado que não parou de falar até regressar ao módulo de alunagem que poisou na região de Taurus-Littrow.

Desde a Apolo 15, os astronautas dispunham de um carrinho para se moverem na Lua. Não só se podiam afastar mais do veículo de alunagem do que nas primeiras missões como podiam recolher bastantes pedras: ao todo, foram transportadas para o nosso planeta quase 400 quilos de rochas lunares.

Foi ainda montada no veículo fabricado pela Boeing uma câmara de televisão que podia ser controlada a partir da Terra. Assim, os cientistas que não tinham tido lugar na viagem podiam espreitar por cima do ombro dos astronautas.

Cernan e Schmitt permaneceram 75 horas no satélite natural da Terra, colocando experiências no solo lunar, recolhendo rochas e maravilhando-se. A 14 de Dezembro, Cernan subiu a escada do módulo baptizado Challenger, para empreender a viagem de quatro dias de regresso à Terra, deixando para trás as últimas pegadas humanas na poeira lunar.

Os norte-americanos tinham ganho, sem sombra para dúvidas, a corrida à Lua com a União Soviética, no contexto da Guerra Fria. Voos tripulados de ida e volta e a construção de estações espaciais tornaram-se a prioridade, nas próximas décadas, tanto de russos como de americanos. A exploração do resto do sistema solar ficou entregue a máquinas.

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