Nobel da Medicina na conferência sobre globalização da Gulbenkian

O Prémio Nobel da Medicina, Sidney Brenner, esteve hoje presente num ciclo de conferências sobre a globalização organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que este ano foi subordinado ao tema "Ciência, Cultura e Religiões". Ao lado de Brenner estiveram o ex-director do CERN Chris Llewellyn Smith e Bjorn Lomborg, autor do polémico livro "O Ambientalista Céptico".

Brenner, que tem como próximo objectivo sequenciar o genoma de cem mil pessoas até 2020, não gosta do termo genoma humano, evidenciando que o que existe são os genomas de cada indivíduo da espécie humana, todos diferentes. O homem que ganhou o Prémio Nobel da Medicina por ter contribuído para um melhor entendimento do processo da morte celular, com aplicações no tratamento de várias doenças, nomeadamente o cancro, não estabelece diferença entre o que é ciência fundamental e ciência aplicada. A aplicabilidade de uma descoberta científica é uma questão de incidente, de acidente, ou apenas transcendente", afirmou.

O cinetista enfantiza o papel da tecnologia no mundo actual, o que faz com que as descobertas científicas se tornem num benefício para as pessoas. Segundo este cientista, a tecnologia é muito mais difícil de fazer do que a ciência: "Quando não há solução para um problema na ciência, muda-se o problema, enquanto que na tecnologia isso não se pode fazer - ou se resolve o problema, ou não”.

Com sentido de humor e sem estar preso a um discurso fixo ou a algum suporte técnico, falou do desejo da imortalidade que faz com que o ser humano não cesse de procurar tratamentos para as doenças, de forma a prolongar a sua vida o mais longe possível e quem sabe um dia até ser imortal - "o que é importante não é a imortalidade mas o desejo do homem ser imortal”.

Sobre o controlo que o mundo globalizado deve exercer sobre a comunidade científica, Brenner defende apenas que não é possível dizer a um cientista que não pode continuar a tentar resolver um determinado problema porque está a pôr em causa o futuro da humanidade - "dizer isto a um cientista não é possível, porque o mais certo é que ele então não pare mesmo de continuar a procurar a chave para aquela caixa de Pandora".

Também presente na conferência, Chris Llewellyn Smith falou da sua experiência como ex-director do CERN, em Genebra, um dos mais importantes centros de investigação científica e tecnológica do mundo. Duma forma clara e incisiva, Chris Llewellyn Smith expõs as suas ideias que enfantizam a importância da colaboração cientifica entre países no progesso da ciência. Llewellyn Smith acredita que a ciência pode ser extremamente importante na criação de laços entre países que se encontram em conflito por razões políticas, criando uma base de entendimento devido a uma linguagem em comum - a ciência. Dá exemplos como a importância do CERN nos países do pós-guerra da Europa Ocidental e da Europa de Leste, em contactos feitos entre a Palestina e Israel, ou a cooperação espacial entre os EUA e a União Soviética.

Com 37 anos e um ar desportivo, Bjorn Lomborg trouxe as suas constatações sobre o estado do ambiente global, que estão também publicadas no seu livro "The Skeptical Environmentalist". Lomborg começa com a frase "Livrem-se dos mitos", seguida de um gráfico sobre a evolução das calorias por dia e por pessoa ao longo do tempo. Segundo este doutorado na área das Ciências Políticas, actualmente há muito menos fome do que noutros séculos, sendo a tendência do gráfico para continuar a subir. Seguem-se outros gráficos sobre os recursos petrolíferos, a poluição e o aquecimento global. "O mundo está melhor, não está bom, mas está melhor", esta é a frase que Lomborg não cessa de repetir.

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