Museu da República e Resistência abre hoje junto à Cidade Universitária

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Horários alargados, cybercafé e uma biblioteca com mais de 50 mil livros são alguns dos atractivos do novo espaço DR

O Museu da República e Resistência inaugura hoje novas instalações, entre a Rua da Beneficência e a Avenida das Forças Armadas, em Lisboa. Horários alargados, cybercafé e uma biblioteca com mais de 50 mil livros são alguns dos atractivos do novo espaço, que tem a assinatura do arquitecto Keil do Amaral e foi criado com os olhos postos nos estudantes da Cidade Universitária.

Desde há muito que o antigo edifício da vila operária Grandella, na Estrada de Benfica, se revelava pequeno para os colóquios e exposições que ali se realizam. Por enquanto o museu continuará a manter estas instalações, mas tudo indica que o filho depressa venha a ocupar o lugar paterno, se funcionar a esperada dinâmica com a Cidade Universitária. O República e Resistência tornou-se, em poucos anos, uma referência para os amadores da história do século XX. Ali deixaram os seus testemunhos ou foram evocadas muitas das personalidades que resistiram politicamente ao Estado Novo.
"Pediram-me para meter o Rossio na Rua da Betesga", diz Keil do Amaral, bem-humorado. À força de ir estendendo as potencialidades do projecto inicial, as novas instalações ficam logo à partida cheias como um ovo. Por isso, o arquitecto é taxativo: "Aquele espaço já é muito pequeno. Será talvez excessivo chamar-lhe biblioteca-museu."
Para responder a todos os itens do programa museológico tiveram que se estabelecer prioridades e, mesmo assim, foi preciso recorrer a uma "interpenetração" dos espaços. O edifício, erguido de raiz, possui dois pisos, um térreo e o outro numa sobreloja. A biblioteca tinha primazia, pelo que todo o espaço que foi possível arranjar no piso superior lhe foi destinado, empurrando o sector dos serviços para uma nesga de pequenas salas. Mesmo orgulhoso da biblioteca, "que beneficia de uma grande exposição à luz", o arquitecto sublinha que a sua capacidade é limitada a 30 leitores.
"O palco responde a um dos objectivos programáticos, mas, como é impossível alargar infinitamente um espaço limitado, vai ter apenas cinco metros de boca e três de fundo", queixa-se Keil do Amaral. Está equipado com um único camarim, por que não foi possível esticar mais a área disponível, o que implica que os espectáculos tenham um número reduzidíssimo de actores. "Serão diálogos monologados", ironiza o director do museu, João Mário Mascarenhas, que acentua o lado positivo: "Mesmo assim arranjou-se um auditório para 85 pessoas."
O facto de a [futura] sede da Associação Académica de Lisboa (AAL) ficar instalada paredes-meias com o museu foi fundamental para estabelecer com ele um acordo de parceria. Os dois projectos cresceram em conjunto e pode dizer-se que são gémeos", diz Isabel Baptista, da direcção daquela associação.
Uma das prioridades da AAL é disponibilizar espaços de convívio para os estudantes. As sucessivas restrições orçamentais têm atingido, em primeiro lugar, os espaços não lectivos e nenhuma das três universidades públicas de Lisboa, nem tão-pouco a Católica, dispõem de "campus" onde os estudantes, sobretudo os que se encontram em quartos alugados, separados do meio familiar, possam dispor de uma mesa, de um computador - em resumo, de um espaço conveniente para concluir os "trabalhos de casa", quando as bibliotecas das escolas se encerram.
O conceito do Museu da República e Resistência, enquanto lugar e registo da memória do século XX , através de debates, colóquios e testemunhos, ia ao encontro daquelas necessidades estudantis. O director do museu compreendeu o partido que podia tirar da situação e deslocou o programa do exclusivo recenseamento de efemérides que vinha da fundação, em 1993, para o de uma instituição que conquista os seus públicos, ao cativar visitantes com os serviços que lhes propicia.
Em vez do habitual restaurante museológico, que as mais das vezes se resume a cafetaria, desperdiçando o investimento nele feito em equipamento, fez-se um cybercafé. Dado ser frequente as exposições e colóquios prolongarem-se até à meia-noite, é possível estender esse horário a outras actividades. Fez-se do cybercafé uma ala autónoma, cujo horário vai das 10h00 às 2h00.
A mesma coisa com os serviços da biblioteca. Graças a mecenas e a dádivas de protagonistas em eventos que marcaram a história do século XX português, o acervo do museu em história contemporânea reforçou-se e é já uma referência para os investigadores da área das ciência sociais e humanas, garante João Mário Mascarenhas.
E dá como exemplo o espólio do historiador e jornalista Carlos Ferrão, compreendendo mais de 40 mil obras sobre acontecimentos do século XX, com relevo para o período da I República e da II Guerra Mundial.
Vão estar disponíveis nas novas instalações mais de 50 mil livros. Por isso, em vez de os fechar numa biblioteca-arquivo, optou-se por criar um espaço aberto, com consulta informatizada e terminais com acesso à Internet.
A utilização do auditório seguiu o mesmo caminho. Sendo um equipamento necessário ao museu, nada impede que seja disponibilizado para iniciativas conjugadas com a AAL, sempre que esteja livre. O seu âmbito de intervenção foi alargado com uma nova valência, a do espaço para eventos artísticos ou "perfomances". Enfim, um laboratório para espectáculos experimentais.

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