Afinal, afastado do poder, o PP vai apresentar emendas ao seu próprio Orçamento

Os conservadores tinham garantido na sexta-feira que aprovariam a lei no Senado, onde têm maioria. Sánchez já tem um problema parlamentar e ainda nem formou governo.

Um dia depois do aperto de mão de dos desejos de "sorte", o partido de Rajoy começa a tirar o tapete a Sánchez
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Um dia depois do aperto de mão e dos desejos de "sorte", o partido de Rajoy começa a tirar o tapete a Sánchez Emilio Naranjo/Reuters
Sánchez escolheu governar sozinho, apesar da oferta para integrar o executivo de Iglesias, que aqui o abraçava depois da votação de sexta-feira
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Sánchez escolheu governar sozinho, apesar da disponibilidade de Iglesias, que aqui o abraçava depois da votação de sexta-feira JJ Guillen/EPA

Mudança de ideias, por estratégia ou princípios (daqueles que só contam quando já não se tem nada a perder), o Partido Popular deu o dito por não dito: na sexta-feira, depois da aprovação da moção de censura que transformou Pedro Sánchez em primeiro-ministro e expulsou do poder Mariano Rajoy e os conservadores, membros do partido garantiam que os seus senadores aprovariam o Orçamento Geral do Estado. Agora, um dia depois da posse do socialista, avisam, preparam-se para registar quaisquer emendas que considerem "oportunas".

Na prática, isto significa uma dor de cabeça de dimensão considerável com que Sánchez não contava – antes mesmo de nomear os seus ministros. O líder do PSOE ia tentar governar com um orçamento que descreveu como "um ataque ao Estado-providência", mas pelo menos não corria o risco de ficar sem orçamento quando se propõe governar com o apoio parlamentar de uma minoria.

Aprovado no Congresso com o apoio do PNV (Partido Nacionalista Basco), o orçamento de 2018 teve um custo alto para Rajoy. Em nome do apoio dos bascos, o agora ex-chefe do Governo sacrificou a reforma das pensões de 2013 (que impunha subidas mínimas de 0,25% enquanto houver défice na Segurança Social) e, com isso, parte do trabalho da anterior legislatura, aceitando ainda adiar até 2023 a aplicação do chamado "factor de sustentabilidade", que iria impor cortes nas novas pensões de reforma já a partir do próximo ano.

Num Congresso tão fragmentado (o PP tem 137 deputados e o PSOE 84, em 350), cinco deputados podem fazer facilmente a diferença. E para os cinco eleitos do PNV a questão das pensões tinha grande peso: há meses que as segundas-feiras se tornaram no dia do protesto dos pensionistas, mas enquanto em Madrid se reuniam algumas centenas nas imediações do Parlamento, em Bilbao eram milhares a cada semana à porta da câmara municipal.

Foram os mesmos deputados que votaram o orçamento ao lado de Rajoy, fazendo-o crer que estava seguro no lugar até 2020 e ao fim da legislatura, que agora se uniram aos socialistas para aprovar a moção de censura que o fez cair. "Faremos o nosso trabalho parlamentar. Tendo maioria absoluta no Senado, o Grupo Popular introduzirá as emendas que considere apropriadas", afirmou a vice-secretária de Estudos e Programas do PP, Andrea Levy, em declarações na sede do partido.

Questionada sobre se as emendas vão visar o acordado com o PNV, Levy respondeu apenas que está aberto o prazo para registo de vetos (aliás, cinco dos partidos que apoiaram a moção apresentaram vetos logo na sexta-feira, algo que com a promessa do PP de votar "sim" não preocupava o PSOE).

Por coincidência, o debate no plenário do Senado está marcado para terça-feira, dia em que o PP vai reunir o seu Comité Executivo Nacional e iniciar o debate interno pós-perda de poder. Levy não quis adiantar nada sobre esse encontro, sublinhando apenas que o partido se prepara para fazer uma oposição "séria, responsável e activa". E deixando o aviso, ao PNV e não só: "Os que são responsáveis por terem assinado essa moção de censura também são responsáveis por assumir as consequências das políticas do senhor Sánchez."

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