Quim Torra falha primeira votação para ser investido presidente da Catalunha

Candidato independentista prometeu “restaurar as instituições” e investir novamente Puigdemont, antes de falhar o primeiro voto de investidura no parlamento. Rajoy “não gostou” do que ouviu. Segunda-feira há nova tentativa.

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Quim Torra discursou no parlamento catalão Alberto Estevez / EPA

Se dúvidas existissem sobre o posicionamento do candidato à presidência do governo da Catalunha, Quim Torra, relativo ao caminho que quer seguir, elas foram completamente dissipadas aos primeiros segundos da sua intervenção no debate de investidura deste sábado, no parlamento de Barcelona: “Não deveria ser eu a estar aqui hoje. Teria de ser o presidente legítimo, Carles Puigdemont, acompanhado por todos os presos políticos e exilados”.

O que se seguiu foi uma firme e decidida defesa do ex-presidente do governo catalão, da causa soberanista e da intenção de liderar um projecto político que expresse a “inalterada vontade em aplicar” o “mandato do 1 de Outubro” – o dia do referendo independentista não reconhecido por Madrid, que abriu caminho para a declaração unilateral de independência no parlamento e que espoletou a intervenção do Governo espanhol nas instituições catalãs.

Proposto pelo Juntos pela Catalunha (JxCat), com o apoio da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) para presidir à Generalitat, Quim Torra submeteu-se à votação dos deputados, mas não conseguiu juntar os apoios necessários para ser eleito. Ainda que tenha alcançado 66 votos – contra 65 do bloco constitucionalista – o candidato precisava de uma maioria de 68 votos para a investidura imediata. Nada que Torra e a ala independentista do parlamento não estivessem à espera. O foco esteve sempre na segunda votação, agendada para segunda-feira, onde apenas é necessária uma maioria simples. 

Se é certo que os 66 votos favoráveis chegam para eleger Torra na próxima sessão – até porque os deputados detidos e auto-exilados delegaram os seus votos –, essa possibilidade está dependente da atitude dos quatro deputados da Candidatura de Unidade Popular (CUP), que este sábado se abstiveram. O partido anticapitalista vai reunir-se no domingo para decidir se aprova, se chumba ou volta a abster-se na segunda-feira.

Terá sido igualmente para ganhar a simpatia da CUP que o candidato garantiu que, em caso de nomeação pelos deputados do Parlament, vai “trabalhar incansavelmente para a república”, “restaurar as instituições” e retomar o “processo constituinte” com vista à elaboração de uma Constituição catalã.

Isto sem esquecer que o seu papel passa apenas por liderar um governo “excepcional”, “provisório” e “de transição”, que apenas deixará de o ser quando Puigdemont – fugido à justiça espanhola e na Alemanha – regressar para ser investido. “Nada será normal até que recuperemos as nossas instituições e a nossa democracia”, disse aos deputados.. 

O editor de 55 anos, reconhecido por aliados e opositores políticos como uma das vozes mais radicais do movimento independentista catalão, ofereceu “diálogo” ao presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, e pediu “apoio e mediação” ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

O candidato lembrou ainda quando o rei Felipe VI, num discurso proferido no parlamento catalão em 1990, disse que a Catalunha poderia ser “os que os catalães queiram que seja”. Comparando essas palavras com as intervenções públicas do monarca sobre a crise catalã, Torra lamentou: “Assim não, majestade”.

“Sim, sou um radical”

O discurso de Quim Torra foi muito elogiado por Puigdemont, que o catalogou como “memorável”. Numa mensagem publicada no Twitter, o antigo presidente da Generalitat disse que Torra foi “brilhante” ao reforçar “a dimensão histórica” do “momento de excepcionalidade que vive a Catalunha”. 

Já o presidente do Governo recusou-se a “fazer juízos sobre o candidato”, mas admitiu que “não gostou” do que ouviu em Barcelona. “Não gostámos do que vimos e do que escutámos. Não é representativo do que é a Catalunha”, reagiu o Rajoy, citado pelo El País.

Outra das vozes críticas para com Torra foi Inés Arrimadas, líder do Cidadãos na Catalunha e vencedora das eleições de Dezembro na região. “Foi o discurso mais radical que alguma vez se pronunciou no Parlament. É muito preocupante”, lamentou, em declarações à TV3, e voltou a reforça-lo na sua intervenção na sessão plenária.

Pouco antes da votação, Torra voltou ao palanque do parlamento catalão para responder aos deputados que rotularam o seu discurso de “radical”, “incendiário” e “perigoso”. E confessou: “Sim, sou um radical. Gosto de ir ao fundo das questões”. 

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