Alguns distúrbios e muitos milhares nas ruas contra detenção de Puigdemont

Antigo presidente da Generalitat é ouvido num tribunal alemão logo de manhã. Na Catalunha, mantêm-se abertas todas as hipóteses, mesmo a tentativa de voltar a tentar investir o ex-líder.

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Os ânimos exaltaram-se junto à sede do Governo de Madrid em Barcelona Enric Fontcuberta/EPA
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Muitos milhares responderam à convocatória da ANC Marta Perez/EPA
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Manifestantes e membros da polícia anti-motim num cordão Andreu Dalmau/EPA
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Uma imagem da manifestação em Girona, cidade de que Puigdemont foi autarca Robin Townsend/EPA

Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se este domingo nas principais cidades da Catalunha contra a detenção de Carles Puigdemont, na Alemanha. Diferentes convocatórias fizeram transbordar o centro de Barcelona, mas no protesto diante da Delegação do Governo alguns tentaram furar o cordão policial e os agentes acabaram por carregar contra os manifestantes e disparar para o ar. Há pelo menos 50 feridos leves e três detidos.

Já era noite e muita gente não desmobilizava, depois de vários líderes independentistas terem apelado à calma mas prometido que a contestação não vai parar. “A União Europeia sentirá a sua responsabilidade”, afirmaram dirigente do PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão), de Puigdemont, pedindo a todos que mantenham “a calma e a confiança”.

O deputado da CUP (Candidatura de Unidade Popular), o partido à esquerda da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Carles Riera, antecipa que este foi o início de “um novo ciclo de mobilizações” e apelou a uma “greve geral” em protesto pela detenção de Puigdemont e pela entrada na prisão, na sexta-feira, de ex-conselheiros (equivalentes a ministros) e deputados. Para Riera, a detenção do “ex-presidente” é “uma demonstração das consequências da falta de democracia” em Espanha.

A CUP perdeu metade da sua bancada parlamentar nas eleições de 21 de Dezembro, em que o partido unionista Cidadãos foi o mais votado, mas os independentistas (principalmente graças a Puigdemont) reforçaram a maioria. Mas este partido mantém uma grande capacidade de mobilização: uma das manifestações foi convocada pelos chamados CDR (Comités de Defesa da República), formados ao longo dos últimos meses nos bairros de Barcelona e de outras cidades. Alguns foram criados por simples cidadãos, outros contaram com um empurrão da CUP.

Ora, depois de anos de um processo marcado por manifestações de mais de um milhão de pessoas sempre pacíficas, teme-se que a violência comece agora a ser mais comum. Nas redes sociais, alguns CDR anunciavam “o fim da paz social”.

A Associação Nacional Catalã (ANC), principal organização soberanista e promotora das mais gigantescas concentrações pela independência, tem agora dois dos seus ex-líderes detidos: Jordi Sànchez, suspeito de “sedição” e Carme Forcadell (que entretanto foi presidente do Parlamento autonómico na última legislatura), pronunciada por “rebelião” na sexta-feira.

A nova líder da ANC, eleita mesmo a tempo de convocar o protesto de domingo à tarde, Elisende Paluzie, afirmou que as associações têm diferentes opções de mobilização ao seu dispor. Antes do referendo ilegal sobre a independência, a 1 de Outubro, e da declaração de secessão feita por Puigdemont a 27 de Outubro, a ANC tinha desenhado um plano de acções de desobediência civil para tentar garantir a existência da desejada república.

Depois de voltar a fazer literalmente transbordar o Passeio da Grácia e muitas ruas do centro da capital catalã, a líder da ANC apelou à opinião pública europeia e, em particular, alemã, dizendo acreditar que um presidente eleito não será extraditado “para ser entregue a uma Justiça autoritária que está a falsear os factos”.

Puigdemont, que se encontra no centro penitenciário de Neumünster, no estado mais a Norte da Alemanha, será presente segunda-feira de manhã a um juiz.

"Soluções políticas"

Politicamente – e com a legislatura catalã bloqueada; o terceiro candidato dos independentistas à presidência, depois de Puigdemont e Sànchez, Jordi Turull, ficou em prisão na sexta-feira –, “a detenção de Puigdemont “só afunda mais os catalães no problema”, diz o líder dos Comuns (aliança do Podemos com o movimento de Ada Colau), Xavier Domènech.

“Este é um conflito de natureza política. A detenção de dirigentes políticos não nos aproxima de soluções, só bloqueia a sua possibilidade”, afirmou Domènech, anti-independentista que votou contra a investidura de Turull na quinta-feira. “Algum dia isto terá de acabar numa mesa de diálogo e com soluções políticas, não judiciais”.

Reacção contrária teve o líder dos Cidadãos, Albert Rivera, que se congratulou com a detenção do “fugitivo”. O Parlamento autonómico pode voltar a tentar investir um líder a 22 de Maio, dois meses depois da primeira tentativa falhada.

O PP voltou a pressionar a líder do C’s catalão, Inés Arrimadas, para se apresentar a votos, sabendo que esta nunca contará com uma maioria suficiente de deputados. Já entre os independentistas, tudo voltou a estar em cima da mesa, até aquilo que seria o braço-de-ferro final com Madrid, a alteração dos regulamentos do Parlamento para dar posse a um presidente que se encontre no estrangeiro ou esteja detido onde quer que seja. A CUP, aliás, já pediu para passar a integrar a Mesa do Parlamento, para assim abrir caminho a estas mudanças.

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