“Agora quero ser Presidente”, diz Lula

Partido dos Trabalhadores insiste na sua candidatura à presidência do Brasil. Alguns apoiantes apelam a “desobedecer” à Justiça, depois da confirmação da condenação.

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"Vamos lutar em defesa da democracia em todas as instâncias, na Justiça e principalmente nas ruas", disse o PT em comunicado após o julgamento de Lula LUSA/Fernando Bizerra

O Partido dos Trabalhadores não desarma e um dia depois de Lula da Silva ter visto a sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro confirmada pelos três juízes do tribunal de segunda instância de Porto Alegre (que até pediram a ampliação da pena de nove anos e meio para 12 anos e um mês) anunciou que o seu nome é o único que admite como candidato às eleições presidenciais de Outubro

“Estamos lançando a pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República”, disse a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, no início da reunião da comissão executiva nacional do partido. “Lula, guerreiro do povo brasileiro!”, gritaram os militantes presentes na reunião das lideranças nacionais do partido, reunidas na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o maior sindicado do Brasil.

A defesa de Lula já tinha afirmado antes do julgamento que iria esgotar todas as hipóteses de recurso, antes de tudo por questões técnicas que visam atrasar a fixação da sentença de quarta-feira. Só assim será possível travar a própria condenação e permitir, assim, a Lula da Silva candidatar-se às presidenciais, para regressar ao cargo que ocupou entre 2003-2011.

No final do julgamento, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, tinha já afirmado que os votos dos juízes tinham sido “claramente combinados”. O PT, garantia, vai lutar para que Lula possa voltar a ser Presidente.

O problema, para o partido, é a ausência de alternativas. Apesar do que diz Lula – “Temos outros candidatos” – só ele, segundo as sondagens, garante o voto de um terço dos brasileiros. Isto, quando o partido ainda recupera do trauma da destituição (que considerou “um golpe de Estado) de Dilma Rousseff, sucessora de Lula, em 2016

“É o começo da grande caminhada que, pela vontade do povo, vai levar o companheiro Lula novamente à Presidência”, concluiu Hoffman. Alguns membros do PT e movimentos aliados já pediram “desobediência” face às decisões judiciais. “Nós, os movimentos populares, não aceitaremos de forma alguma e impediremos com tudo o que for possível que o companheiro Lula seja preso”, afirmou João Pedro Stédile, da coordenação nacional dos Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra.

“Não tenho ilusão de que vamos achar saídas por dentro das instituições”, disse o líder do partido no Senado, Lindbergh Farias. “Só temos um caminho, que são as ruas, as mobilizações, a rebelião, a desobediência civil”, disse ainda, acrescentando que será preciso “prender milhões de pessoas” antes de conseguirem prender Lula. “Agora quero ser Presidente”, afirmou, por seu turno, o próprio Lula, falando de “farsa judicial”.

Para já, Lula permanece livre e à vontade para fazer campanha. “As duas próximas semanas vão ser cruciais”, adianta o advogado e jurista Eugênio Aragão, ex-membro do Ministério Público Federal e antigo ministro da Justiça na presidência de Dilma Rousseff, muito crítico do processo contra Lula.

Os jornais e a generalidade dos analistas aconselham o PT a reflectir num plano alternativo, que poderia passar pela candidatura do antigo ministro Jacques Wagner ou de Fernando Hadad, ex-presidente da Câmara de São Paulo. Descrevendo a condenação dos juízes de Porto Alegre como “a pior derrota do percurso político” de Lula, o editorial do jornal Globo estima que agora a sua “candidatura seria quase um milagre”.

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