E que tal uma remodelação?

António Costa precisa de um pretexto para mexer no Governo. E a ida de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo é melhor do que qualquer outro. Com a vantagem de que aparece no momento certo.

Mário Centeno vai ter uma nova vida. Precisará de um reforço do gabinete por cá, vai ter um gabinete por lá (em Bruxelas). Não vai poder faltar a mais reuniões do Eurogrupo. Para além do nosso Orçamento, Centeno vai ter de fazer de polícia de outros também. E preparar as novas regras da zona euro — adivinhando-se um consenso difícil entre norte e sul, entre Paris e Berlim.  

Há uma semana, quando comemorava dois anos de governo, António Costa disse-nos que está “momentaneamente cansado”. Talvez seja de aproveitar o Natal, porque a vida do primeiro-ministro vai ficar ainda mais difícil: perdendo meio ministro das Finanças, perde na verdade o único membro do Governo com peso suficiente para travar o lado mais perigoso da “geringonça” — e os desejos simpáticos, mas por natureza infinitos, dos restantes membros do seu Governo.

Há dois anos no Governo, Costa habituou-nos a ser bombeiro para todo o serviço. Resultou bem durante mais de um ano, mas começou a soçobrar depois de Pedrógão — por ironia, no momento em que decidiu ir de férias, deixando o rescaldo dos incêndios e do assalto em Tancos para Santos Silva. Nessa altura o focus group não se ressentiu, mas o Governo sim.

Mas a semana, aquela semana de férias, não foi claramente suficiente. Os casos não acabam, o Governo provoca alguns sem necessidade, por instintiva reacção ao Facebook. Há discursos que não se percebem, a comunicação que não funciona. E um primeiro-ministro que não chega a todas.

António Costa precisa de um pretexto para mexer no Governo. E a ida de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo é melhor do que qualquer outro. Com a vantagem de que aparece no momento certo.

O mandato chegou a meio, o Governo precisa de um novo fôlego. Costa precisa de mais experiência e independência política, para assegurar que os dossiers lançados não ficam a meio. Precisa de ideias novas, para garantir que os dois anos que se seguem não são como os últimos seis meses. Precisa de voltar a tomar o pulso e de mostrar iniciativa, acabando com o ciclo das remodelações a pedido das circunstâncias, como aconteceu em Agosto (por causa do “Galpgate”) e em Outubro (por causa da segunda tragédia com incêndios). 

Tudo isto é só política, mas é disso que os governos são feitos. Costa teve ontem uma extraordinária vitória diplomática, pondo um ponto final nas teses da oposição sobre a condução da sua política económica. Mas agora vai precisar de mais. Ano novo, vida nova. Será?

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