Berlusconi e 5 Estrelas fazem ensaio para legislativas na Sicília

Itália entre a aliança do ressuscitado antigo primeiro-ministro e o partido fundado por um comediante.

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Berlusconi num comício em Palermo Guglielmo Mangiapane/REUTERS

Quando o resultado das eleições regionais deste domingo na Sicília forem anunciados, políticos, comentadores e jornalistas verão uma quase premonição: quem vencer esta votação estará muito mais próximo de conseguir uma vitória nas legislativas do próximo ano. Há dois protagonistas: a aliança de direita liderada pelo antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi e o partido populista de ideologia difícil de definir Movimento 5 Estrelas.

A aliança do partido de Silvio Berluconi, Força Itália, com o anti-imigração Liga Norte e os nacionalistas Irmãos de Itália está ligeiramente à frente na última sondagem, com 33% contra 31,5% do 5 Estrelas, ou seja, uma margem demasiado próxima para que se possa fazer prever o vencedor.

Já a distância para o terceiro lugar não deixava dúvidas para a má posição do Partido Democrata (PD), do primeiro-ministro Paolo Gentiloni e liderado pelo ex-chefe de Governo Matteo Renzi: o seu candidato Fabrizio Micari, 54 anos, aparece nesta última sondagem com apenas 16%, muito próximo de outro partido de esquerda, o Artigo 1, dois pontos percentuais abaixo do PD.

A esquerda parece ter desistido: Renzi – ao contrário de Berlusconi e de Beppe Grillo, o comediante fundador do 5 Estrelas e a sua principal figura – não fez muita campanha. "É uma batalha que já perdemos", disse um candidato de um partido que faz parte da aliança do PD, Carmelo Coppolino. 

A Sicília, com cinco milhões de habitantes, é vista como uma região representativa de Itália em termos eleitorais, e onde se antecipam tendências que se tornam, pouco mais tarde, nacionais: foi o caso com a derrota do partido de Berlusconi na Sicília em 2012, cinco meses antes da derrota do então primeiro-ministro a nível nacional, depois de quatro mandatos como primeiro-ministro. Berlusconi, que enfrentava vários processos dos quais foi sendo absolvido ou recorrendo, acabou por ver uma condenação por fraude fiscal confirmada pelo Supremo em 2013.

As questões fracturantes estão ali em primeiro plano, diz o diário norte-americano The New York Times. É a região mais pobre de Itália e uma das mais pobres da Europa, tem uma taxa de desemprego de 22%, o dobro da média nacional, e 57,2% de desemprego jovem (a média nacional é de 36%). 

Mudar é preciso

Tanto a direita como os populistas vêem nesta eleição uma oportunidade de uma rampa para as legislativas: o centro-direita dá uma expectativa de que a aliança conseguida na Sicília possa resultar a nível nacional (apesar das diferenças, a aliança tem-se mantido) e que Berlusconi, com 81 anos, faça a viragem do político dado como acabado para o político renascido, que se apresenta agora como alguém a quem a idade trouxe experiência e moderação.

O 5 Estrelas, pelo seu lado, espera descolar da identidade de um partido que até agora apenas está no poder em câmaras para obter o controlo de uma região, e de conseguir apresentar-se como um partido que pode fazer gestões mais complexas.

“Se vencermos na Sicília, conseguiremos com certeza fazer chegar a toda a Itália a ideia de que é possível mudar”, declarou o candidato do Movimento Cinco Estrelas, Giancarlo Cancerello, 42 anos, citado pelo New York Times. “Estas eleições sicilianas terão impacto bem para além das fronteiras da Sicília.”

“A possibilidade de uma eleição do 5 Estrelas é o motivo pelo qual todas as atenções estão concentradas na Sicília”, disse o analista Roberto D’Altimonte, do CISE, Centro Italiano de Estudos Eleitorais, ao jornal Politico. “Seria a primeira região com um governador 5 Estrelas, o que seria um sinal da sua força no Sul e um progressivo fortalecimento a nível nacional”, diz.

Mas uma vitória do candidato Nello Musumeci, o candidato da direita, que foi três vezes eurodeputado e secretário de Estado do Trabalho do último Governo de Berlusconi, teria também o seu peso. “Se vencerem, os eleitores vão ver Berlusconi como um homem capaz de fazer milagres, que pode renascer das cinzas”, disse D’Altimonte.

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