Pequim criticada por falta de tratamento do dissidente Liu Xiaobo, que está à beira da morte

Há apelos a confrontar o Presidente chinês na reunião do G20 na Alemanha por causa do Nobel da Paz.

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Postais com o rosto de Liu Xiaobo, numa campanha pela sua libertação lançada em Hong Kong ALEX HOFFORD /EPA

O escritor e dissidente chinês Liu Xiaobo, de 61 anos, já não está a reagir à medicação destinada a controlar o cancro de fígado e os médicos já avisaram a família para se preparar para a sua morte, diz o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

"Podemos perder Xiaobo a qualquer momento", disse um amigo do poeta, Ye Du. "A família recebeu ontem à noite [quarta-feira] o aviso de que poderá [morrer] esta manhã".

Na terça-feira, foi anunciado que a China autorizava que Liu Xiaobo fosse consultado por médicos estrangeiros, mas outro amigo esclareceu que o fígado do poeta estava a entrar em falência e que o seu tempo se estava a esgotar.

"O Governo chinês convidou especialistas alemães e americanos mas não houve qualquer comunicação para pôr o plano em prática", denunciou o activista político Hu Jia. Criticou também o internamento de Liu num hospital de Shenyang, no Nordeste da província de Liaoning, quando, disse, os especialistas chineses estão concentrados em Pequim. "Impedir Liu de regressar a Pequim significou retardar o seu tratamento. É vergonhoso".

Liu Xiaobo é o mais conhecido preso político chinês. Foi um dos líderes dos protestos estudantis pela democracia na Praça Tiananmen, em 1989, e foi condenado a 11 anos de prisão em 2009 por "incitamento à subversão do poder do Estado" por ter sido um dos principais promotores da Carta 08, onde um grupo de activistas pró-democracia pedem a reforma política do país e o respeito pelos direitos humanos.

Em Maio, quando foi diagnosticado com cancro em fase terminal, foi-lhe concedida liberdade condicional por motivos médicos. Mas no hospital foi isolado dos outros doentes e o seu quarto é guardado por polícias à paisana, diz o jornal britânico The Guardian.

A poeta Liu Xia, a mulher de Liu Xiaobo, está em prisão domiciliária desde 2010, embora nunca tenha sido acusada de nenhum crime, e impedidida de visitar o seu marido. Fez vários apelos para que o seu marido fosse tratado no estrangeiro, sem sucesso. 

O Governo chinês foi criticado pelas organizações de defesa de direitos humanos devido ao tratamento de Liu, que ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2010, pela "sua longa luta não violenta pelos direitos fundamentais na China". Não teve autorização para comparecer na cerimónia de entrega do galardão - foi representado por uma cadeira vazia em Oslo, uma imagem que se tornou icónica. As relações diplomáticas da China e da Noruega ficaram abaladas por causa deste Nobel, e só voltaram ao normal há pouco tempo.

O Pen Club America, e 154 galardoados com o Prémio Nobel, através da organização Freedom Now, assinaram cartas pedindo ao Governo chinês que autorizasse Liu Xiaobo a sair do país para ser tratado no estrangeiro

A notícia do agravamento da estado de saúde de Liu ocorre na véspera da cimeira do G20 em Hamburgo, em que estão organizadas marchas de protesto contra líderes que estão presentes, entre eles o Presidente chinês, Xi Jinping.

A Human Rights Watch (HRW) faz um apelo directo a que o G20 seja utilizado para pressionar Xi a libertar Liu: "O tratamento brutal e desumano de Liu não diminui depois de ter sido diagnosticada a doença terminal. A cimeira do G20 é um momento crítico para que algumas das nações mais ricas do mundo demonstrem que não ficam sentadas a ver um dos seus membros a agir com crueldade deliberada e sem limites", afirmou Lotte Leicht, directora da HRW para a União Europeia, citada num comunicado desta organização de luta pelos direitos humanos com sede nos EUA. "

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