Operação policial lançada para desmantelar célula que terá apoiado Abedi

Autoridades britânicas estão cada vez mais convencidas de que o autor do ataque de Manchester não actuou sozinho. Salman Abedi poderá ter viajado para a Síria recentemente.

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A segurança foi reforçada em vários pontos sensíveis do Reino Unido EPA/FACUNDO ARRIZABALAGA

A polícia britânica suspeita que o autor do atentado terrorista de Manchester, Salman Abedi, teve apoio de uma rede jihadista activa no Reino Unido. Foram detidas cinco pessoas, incluindo um dos irmãos de Abedi.

Ao fim da noite de terça-feira, a primeira-ministra, Theresa May, anunciou a subida do grau de alerta para o nível máximo – algo que não acontecia desde 2007 – indicando o “perigo iminente de um novo ataque”. Os receios das autoridades britânicas assentam na séria possibilidade de que haja cúmplices do autor do atentado em fuga.

O ataque de Manchester “foi mais sofisticado do que alguns dos ataques que vimos anteriormente, e parece provável, e possível, que ele não o tivesse feito sozinho”, disse à BBC a ministra britânica do Interior, Amber Rudd.

As forças de segurança reforçaram a presença nas principais cidades britânicas. Foram mobilizados mais de três mil soldados para patrulharem os principais pontos considerados sensíveis. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Downing Street, onde o destacamento policial regular foi substituído por militares. No Palácio de Buckingham, o render da guarda foi cancelado, para evitar a mobilização de elementos da polícia necessários noutros locais.

A principal linha de investigação que está agora a ser seguida pelas autoridades britânicas está relacionada com o tipo de apoio que Abedin terá tido da hipotética rede terrorista. Os investigadores têm a convicção de que não foi o homem de 22 anos quem fabricou o dispositivo explosivo utilizado no ataque na Manchester Arena na noite de segunda-feira, após um concerto da cantora americana Ariana Grande.

Durante esta quarta-feira, a polícia fez mais detenções relacionadas com o ataque em várias operações na região de Manchester. São já cinco as pessoas detidas, sob suspeita de terem apoiado de alguma forma o autor do ataque. Também foi preso o irmão mais novo de Abedi, Hashem, de 20 anos, em Tripoli, capital da Líbia, suspeito de estar a preparar um ataque terrorista, de acordo com as autoridades locais.

A BBC cita um membro da comunidade muçulmana de Manchester que disse saber de várias denúncias de pessoas que há pelo menos cinco anos receavam o comportamento de Abedi. Duas pessoas chegaram mesmo a contactar uma linha telefónica de anti-terrorismo para referir o caso do jovem de origem líbia, que manifestava sinais de “apoiar o terrorismo”.

Salman Abedi nasceu em Manchester, em 1994, pouco tempo depois de os seus pais terem chegado ao Reino Unido com estatuto de refugiados, em fuga do regime líbio então liderado por Muammar Khadaffi. O pai terá combatido o regime líbio nos anos 1990 no Grupo Islâmico Líbio de Combate, com ligações à Al-Qaeda e catalogado como terrorista pelos EUA, antes de conseguir fugir com a família para o Reino Unido.

Integrado na comunidade líbia de Manchester – uma das maiores na terceira cidade do país –, Abedi chegou a frequentar a Universidade de Salford, onde estudou gestão durante dois anos até desistir. Em declarações à BBC, um antigo colega de escola descreveu Abedi como uma pessoa “divertida”, mas “muito irritável” e que facilmente ficava furioso.

Outras testemunhas dizem que o jovem tinha uma má relação com os pais – que entretanto regressaram à Líbia, onde vivem com o filho mais novo, detido esta quarta-feira. É incerto quando é que Abedi iniciou o processo de radicalização, embora haja muitos indícios de que terá coincidido com a sua saída da universidade, há cerca de um ano.

O ministro francês do Interior, Gerard Collomb, disse que Abedi terá estado “provavelmente na Síria” nos últimos tempos, onde poderá ter tido contacto com o Daesh. O ataque foi reivindicado pelo grupo, mas as autoridades britânicas não conseguiram determinar qual o grau de envolvimento entre Abedi – e os seus potenciais cúmplices – e o grupo jihadista. Em muitos dos recentes ataques na Europa, a ligação dos seus autores ao Daesh era mínima – em geral, apenas responderam a “apelos” por parte do grupo, mas não tiveram qualquer contacto directo com operacionais. A polícia está também a investigar as viagens frequentes de Abedi à Líbia nos últimos tempos.

A confirmação de que o autor do atentado de Manchester terá viajado para a Síria irá levantar muitas dúvidas em relação à capacidade de monitorização das autoridades britânicas. Os serviços de informação calculam que mais de 800 britânicos – muitos dos quais provenientes da região metropolitana de Manchester – tenham viajado para a Síria para lutar pelo Daesh. O comissário europeu para a Segurança, Julian King, disse em Março que apenas “um quarto” destes combatentes permanecem na Síria, à medida que o Daesh vai perdendo grande parte do terreno que conquistou desde 2014.

 

 

 

 

 

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