Líder da OMC: "Temos de esperar para ver" qual será a política comercial dos EUA

Roberto Azevêdo trouxe ao Conselho de Estado português uma visão estratégica do comércio mundial e as grandes tensões do mercado de trabalho global.

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Roberto Azevêdo com Marcelo Rui Gaudêncio
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O director-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) considera “precipitado” dizer que os Estados Unidos vão adoptar uma política comercial proteccionista e prefere esperar para ver como se vão concretizar as políticas anunciadas por Donald Trump. “É necessário ver um pouco como as mensagens que foram ditas e que são expressadas na imprensa possam traduzir-se em termos de política comercial”, disse Roberto Azevêdo aos jornalistas em Lisboa, onde participou na reunião do Conselho de Estado.

Questionado sobre o discurso proteccionista do Presidente norte-americano, avisou: “O representante comercial americano ainda não foi confirmado. Precisamos ter a equipa comercial estabelecida e a promover uma política concreta. Até lá é difícil fazer comentários”. Claro que as apreensões existem, por debaixo do discurso diplomático. “Os EUA são um parceiro comercial importantíssimo, é um país importantíssimo, estamos todos a ver como irá evoluir, mas é precipitado dizer que adoptarão uma política comercial num sentido ou noutro, temos de esperar”, insistiu.

Sobre a reunião do Conselho de Estado, o brasileiro recentemente eleito para um segundo mandato na OMC afirmou que se tratou de uma conversa estratégica de “alto nível”, “abrangente e horizontal”, em que não se falou só de comércio e economia. “Falámos de grandes tendências, onde estamos na economia mundial, para onde caminha o comércio mundial, as grandes tendências dentro dos países, as tensões sociais, movimentos políticos”, afirmou.

E acabou por revelar que uma das grandes preocupações é sobre a evolução das relações de trabalho num mundo tecnologicamente cada vez mais desenvolvido. “Identificámos problemas como a realidade do mercado de trabalho do séc. XXI, com muitas incertezas e inseguranças, sobretudo para um trabalhador que não tem um nível educacional muito alto e tem o seu emprego ameaçado pelas inovações tecnológicas: o que fazer com essa força de trabalho, que tipo de políticas podem ser adoptadas em termos de qualificação profissional e de segurança social”, disse.

A pergunta tinha sido sobre os desafios para Portugal e Roberto Azevêdo respondeu de forma abrangente porque, afirmou, “procuramos identificar os principais problemas que se colocam hoje às economias avançadas, e eu vejo Portugal como uma economia avançada, dentro do espaço europeu”.

O senhor OMC mostrou-se “muito honrado com o convite” do Presidente da República para esta reunião, lembrando que “Portugal sempre foi um país voltado para o comércio, e o Brasil é a prova da expansão comercial portuguesa”.

No final de duas horas e meia de reunião, uma nota informativa do Conselho de Estado era bastante mais lacónica e diz apenas que foram analisados “o enquadramento, a evolução e os desafios do comércio internacional, nomeadamente tendo em atenção o importante papel no crescimento económico e na criação de emprego, no futuro próximo e as implicações para Portugal”.

Nesta quinta reunião do órgão de aconselhamento do chefe de Estado não estiveram presentes o ex-Presidente Cavaco Silva, por motivos de saúde, Leonor Beleza, por estar a receber a Presidente do Chile, e os dois líderes dos Governos regionais dos Açores e da Madeira, que estão a participar na cimeira das regiões ultraperiféricas, em Bruxelas.

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