China acusa Washington e Seul de lançarem corrida às armas com novo sistema antimíssil

Começou a ser instalado na Coreia do Sul o THAAD. um sistema antimíssil que Pequim considera uma ameaça que põe em causa "o equilíbrio estratégico na região".

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Teste de um interceptor do sistema antimíssil THAAD. U.S. Department of Defense, Missile Defense Agency/REUTERS

Os primeiros componentes do sistema antimíssil norte-americano THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) chegaram à base sul-coreana de Osan esta segunda-feira à noite. Concebido para mitigar as ameaças norte-coreanas, é visto como uma ameaça pela China. "O Governo chinês vai dar os passos necessários para garantir os nossos interesses de segurança", disse Geng Shuang, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.

O sistema anti-míssil "vai trazer a corrida às armas a esta região", afirmou a Xinhua, agência noticiosa oficial chinesa, sem poupar nas palavras críticas aos EUA e à Coreia do Sul. Mas noutro artigo, não poupou igualmente a Coreia do Norte, cujas acções estão na origem desta decisão, avisando Pyongyang que "tem de encarar a realidade de que não pode fazer dobrar Washington nem Seul, nem consolidar a sua segurança com uma tecnologia nuclear imatura". 

A notícia da decisão norte-americana e sul-coreana chega apenas um dia depois do lançamento de quatro mísseis pela Coreia do Norte, três dos quais aterraram na Zona Económica Exclusiva japonesa, percorrendo uma distância de cerca de 1000 km e atingindo uma atitude de 260 km.

Pareciam ser uma versão melhorada de mísseis tipo Scud, dizem fontes dos serviços secretos e militares sul-coreanos, citados pela Reuters. A agência noticiosa norte-coreana KCNA avançou que se tratava de um "exercício de treino para atingir as bases norte-americanas no Japão", citando o líder Kim Jong-un, relata o jornal Japan Times. A KCNA adianta ainda que Kim Jong-un supervisionou pessoalmente o lançamento. 

Exercícios militares irritam Pyongyang

Este disparo, e a atitude belicosa norte-coreana, surgem no momento em que se realizam exercícios militares conjuntos entre os EUA e a Coreia do Sul - que são sempre motivo de tensão na região.

O sistema antimíssil THAAD consegue interceptar e destruir mísseis balísticos de curto e médio alcance durante a última fase dos seus voos. O sistema antimíssil THAAD consegue interceptar e destruir mísseis balísticos de curto e médio alcance na última fase do voo. Mas não transportam ogivas explosivas — não têm capacidades ofensivas, e sim defensivas. Devido às suas características, não interceptaria mísseis chineses eventualmente destinados aos EUA. Para Pequim, o mais incómodo é o alcance dos radadres do  THAAD.

A confirmação da instalação do sistema THAAD na Coreia do Sul irritou os líderes da Coreia do Norte, da China e da Rússia, que afirmam que os radares poderosos do sistema antimíssil podem ser uma ameaça à sua segurança. 

"As consequências pesam sobre os ombros dos EUA e da Coreia do Sul. Recomendamos, com firmeza, às partes relevantes, que travem o processo de instalação [do THAAD] e deixem de seguir pelo caminho errado", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.

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Protesto em Seul contra a instalação do THAAD no país JEON HEON-KYUN/EPA

O jornal estatal chinês Global Times avisou que a possibilidade de recomeçar uma guerra na Península da Coreia está a aumentar por causa dos exercícios militares sul-coreanos e americanos e dos lançamentos de mísseis norte-coreanos. "O povo chinês está zangado por ver que o programa nuclear de Pyongyang forneceu uma desculpa para que Seul montasse o THAAD", diz um editorial deste diário.

Boicote comercial na China

Os EUA e a Coreia do Sul dizem que o sistema é defensivo e que não querem que constitua uma ameaça nem para Pequim nem para Moscovo. No entanto, as “acções continuadas e provocativas da parte da Coreia do Norte”, com o lançamento de quatro misseis balísticos “confirmam a prudência” da decisão de trazer o THAAD para a Coreia do Sul, disse o almirante Harry Harris, comandante do US Pacific, num comunicado do exército norte-americano.

Começa a haver repercussões civis da decisão de montar o THAAD - que deverá estar terminada até Abril, segundo a agência sul-coreana Yonhap, embora a sua instalação na Coreia do Sul não gere unanimidade. Tem havido protestos contra o sistema norte-americano.

O boicote contra uma cadeia de supermercados coreana, a Lotte, que permitiu que o sistema THAAD se instalasse nos seus terrenos, é a face vísivel desse descontentamento. De acordo com a Reuters, a China já fechou 39 lojas Lotte, e a cadeia tem sido alvo de ciberataques. A Coreia do Sul já avançou que vai apresentar uma queixa na Organização Mundial do Comércio, por causa esse boicote. Pequim é o maior parceiro comercial de Seul.

Os EUA e a Coreia do Sul já salientaram publicamente a necessidade de aumentar a velocidade do desenvolvimento de novas tecnologias para fazer frente à Coreia do Norte. A decisão de levar o THAAD para a Coreia do Sul foi tomada em Julho de 2016, e a Administração de Donald Trump já tinha reiterado a vontade de avançar com o plano. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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