Mais um motim no Brasil: 14 horas de rebelião, 27 presos mortos

Em duas semanas, o número de mortes nas prisões já é equivalente a mais de um terço de todo o ano passado. Violência entre os grupos rivais do Primeiro Comando da Capital e do Sindicato do Crime começou ao fim da tarde de sábado.

Foto
A Polícia Militar divulgou imagens dos presos amotinados na prisão de Alcaçuz Polícia Militar

Catorze horas depois do início do motim na penitenciária de Alcaçuz, no estado brasileiro do Rio Grande do Norte, a Polícia Militar conseguiu entrar na prisão, às 6h da manhã locais (9h em Lisboa), demorou duas horas para a controlar e o balanço mais recente dá conta de pelo menos 27 detidos mortos. Não terá havido fugas.

Tal como nos últimos meses aconteceu em diversas prisões, também em Alcaçuz, a 25 quilómetros de Natal e a maior daquele estado, o motim foi causado por uma rixa entre grupos rivais, neste caso entre detidos do Primeiro Comando da Capital e outros do Sindicato do Crime, composto por dissidentes do primeiro. Apesar de estarem detidos em pavilhões separados precisamente para se prevenirem problemas, um dos grupos invadiu o espaço do outro, o que deu início à violência.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a prisão tem capacidade para 620 detidos, mas alberga quase 1100. Com este episódio de violência sobe para 135 o número de presos mortos no Brasil nas primeiras duas semanas deste ano - o equivalente a mais de 36% mortes egistadas em todo o ano de 2016 (372), adianta o jornal.

Desde a tarde de sábado, quando começou a rebelião, que familiares dos presos se concentram junto aos muros e portão de Alcaçuz, onde dormiram e até fizeram um culto ecuménico improvisado, com rituais, orações e canções de diversas religiões, descreve aquele jornal. Ali se ouviram durante a manhã os gritos, explosões e tiros do lado de dentro. Do lado de fora ficaram também toda a noite bombeiros e os agentes da Polícia Militar e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).

Ao mesmo tempo, eram colocadas nas redes sociais imagens de violência alegadamente captadas dentro da prisão pelos detidos, que as autoridades dizem agora ser preciso confirmar se eram de Alcaçuz. Há rumores de que alguns dos detidos foram decapitados.

Mais de 24 horas depois do início dos protestos, as famílias dos detidos, na sua maioria mulheres, permaneciam no local, garantindo que só vão sair dali quando forem reveladas as identidades dos detidos que foram mortos durante os confrontos. A Folha adianta que mulheres de alguns dos detidos de ambas as facções afirmam estar armadas, havendo o risco de confronto na zona envolvente da prisão.

Esta penitenciária tem algumas vulnerabilidades para além da típica sobrelotação: é construída numa zona de dunas, perto do mar, terreno que torna mais fácil e frequente a fuga através de túneis escavados no chão. A somar a isso, os ventos mudam constantemente a altura dos montes de areia, fazendo com que haja períodos de tempo em que a areia se acumula junto ou perto dos muros, permitindo que as pessoas se vejam e comuniquem facilmente do pátio para a rua e atirem objectos e droga, contou ao Folha de São Paulo Ivenio Hermes, investigador do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte.

Grupos do narcotráfico em guerra aberta pelo negócio da cocaína

Sugerir correcção
Comentar