Dívidas de Trump espalhadas por 150 instituições

Banco Wells Fargo, que se encontra sob escrutínio dos reguladores americanos, é um dos credores do Presidente eleito dos EUA, cujas contas levantam suspeitas de conflitos de interesse.

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Reuters/JONATHAN ERNST

As dívidas do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e dos seus negócios estão espalhadas por mais de 150 instituições de Wall Sreet, incluindo bancos, fundos mutualistas e outras organizações financeiras, segundo o Wall Sreet Journal que analisou documentos legais e de propriedade relacionados com o empresário. Esta situação pode levantar mais dúvidas sobre uma eventual situação de conflitos de interesse a partir do momento em que a próxima administração americana entrar em funções, a 20 de Janeiro.

O montante referente às dívidas das propriedades e empresas de Trump, algumas garantidas pelo próprio, foram transformadas em títulos e vendidas a um conjunto de investidores nos últimos cinco anos, diz o mesmo jornal norte-americano.

Este processo de transformação da dívida em títulos negociáveis – denominado de securitização –, foi utilizado para mais de mil milhões de dólares (mais de 950 milhões de euros) de dívida ligada às múltiplas empresas detidas pelo futuro Presidente dos EUA.

Ou seja, e como explica o Wall Sreet Journal, este conjunto de instituições pode utilizar a sua posição de poder em relação ao próximo inquilino da Casa Branca. Isto porque se os negócios de Trump começarem a entrar em incumprimento, os detentores das dívidas, que funcionam como uma espécie de administradores destes empréstimos realizados, podem, simplesmente, encerrar os negócios de Trump ou, pelo contrário, exigir as centenas de milhões de dólares cuja segurança foi garantida pessoalmente por Trump, na altura em que foram efectuados os empréstimos.

Para esclarecer as possíveis consequências desta situação, o jornal falou com Trever Potter, que exerceu funções de conselheiro nas campanhas presidenciais de George W. Bush e de John McCain: “O problema com qualquer destas dívidas é que se alguma coisa correr mal o Presidente é, subitamente, vulnerável às ameaças dos credores”, afirmou.

Para se perceber melhor o tipo de conflito de interesses que podem surgir, nada melhor do que um exemplo prático: segundo os dados recolhidos pelo Wall Sreet Journal, o banco Wells Fargo & Co. detém pelo menos cinco fundos mutualistas que possuem parte da referida dívida securitizada de Trump. Além disso, o banco é ainda fiduciário, funcionando como administrador, de 282 milhões de dólares (cerca de 270 milhões de euros) em empréstimos concedidos ao magnata republicano, bem como de 950 milhões de dólares (cerca de 910 milhões de euros) de empréstimos relativos a uma propriedade que uma das empresas de Trump parcialmente detém.

Agravante: o Wells Fargo está, neste momento, a braços com uma investigação dos reguladores, que aplicaram multas que ascendem aos 185 milhões de dólares (170 milhões de euros), devido a um esquema fraudulento através do qual foram abertas milhões de contas falsas e emitidos centenas de milhares de cartões de crédito sem autorização.

Quando Donald Trump iniciar funções como Presidente terá de nomear os líderes dos reguladores que investigam, neste momento, o Wells Fargo.

O mesmo acontece com o Deutsche Bank que detém 340 milhões de dólares (cerca de 325 milhões de euros) de empréstimos a várias entidades detidas pelo empresário americano. O banco germânico enfrenta uma crise, iniciada, em parte, pela investigação do Departamento de Justiça dos EUA que exigiu uma multa-recorde devido ao papel na crise do subprime em 2008, e investiga os negócios do banco com clientes russos. Segundo o Wall Street Journal, o Deutsche Bank é um dos maiores credores das empresas de Donald Trump. O jornal explica ainda que é difícil identificar todas as instituições credoras das empresas de Trump, bem como os montantes envolvidos.

O próximo inquilino da Casa Branca já prometeu esclarecimentos em relação ao futuro dos negócios quando assumir funções. Uma conferência de imprensa sobre o assunto foi marcada, num primeiro momento, para 15 de Dezembro, mas foi mais tarde cancelada. Entretanto foi agendada uma outra comunicação para o próximo dia 11, onde se espera que Trump explique como pretende delegar o controlo das suas empresas.

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