Mais de meio milhão de habitantes de Mossul sem água potável

ONU avisa que situação pode ser catastrófica para a população, já ameaçada pelos combates e pela fome.

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Desde que o Exército iraquiano entrou em Mossul pouco mais de 70 mil civis conseguiram sair da cidade Thomas Coex/AFP

Mais de meio milhão de habitantes de Mossul estão há vários dias sem acesso a água potável, depois de parte da rede de abastecimento à cidade ter sido destruída nos combates entre o Exército iraquiano e os jihadistas do Daesh. Uma situação que pode ter “consequências catastróficas” numa população já cercada pela guerra e ameaçada pela fome, avisam as Nações Unidas.

“Não há água ou electricidade, estamos a beber água de um poço, mas é muito salgada e temos de a ferver antes de poder bebê-la”, disse por telefone à AFP Umm Ahraf, residente no bairro de Khadraa, no Leste da cidade. É ali que se concentra, desde o início do mês, a ofensiva dos militares iraquianos para reconquistar aos jihadistas a segunda maior cidade iraquiana – e que depois do rápido avanço feito enquanto os combates se desenrolavam na província, progride a um ritmo lento desde a entrada das tropas iraquianas em Mossul.

Cerca de 70 mil pessoas fugiram da cidade nas últimas semanas – muito menos do que as 200 mil esperadas pelas Nações Unidas –, mas mais de um milhão (1,5 milhões, segundo algumas fontes) continuam dentro da cidade, impedidas de fugir pelos combates e pelo medo de retaliações. Nas últimas semanas multiplicaram-se os relatos de civis executados dentro da cidade, muitos deles alegadamente quando tentavam fugir, mas também de represálias cometidas pelas forças governamentais contra os deslocados.

“Estamos confrontados com uma catástrofe humanitária”, disse à televisão Al-Jazira um responsável do conselho provincial de Nínive, que abarca Mossul, calculando em cerca de 650 mil os residentes que ficaram sem acesso a água. A zona mais afectada fica no Leste, onde “não há já serviços básicos de água, electricidade ou saúde, nem sequer comida”.

Esta situação “vai ter consequências catastróficas para as crianças, as mulheres, as famílias” impedidas de deixar a cidade, acrescentou Lise Grande, coordenadora das operações humanitárias da ONU no Iraque. A responsável diz que as informações que chegam da cidade “indicam que as famílias mais pobres estão já com grande dificuldade em ter comida suficiente na mesa” e “quanto mais tempo demorar a libertação de Mossul, pior a situação vai ficar”.

O Exército iraquiano, que avança pelo Leste e Sul da cidade, afirma ter conquistado já 40% dos bairros da zona oriental e aconselha a população a manter-se em casa, para evitar ser apanhada no fogo cruzado. A área “está a transformar-se num enorme campo de batalha urbano”, relata um jornalista da televisão árabe que acompanha as tropas iraquianas. “A grande presença de civis está a abrandar as operações militares. Mas entre aqueles que conseguem sair da cidade há o sentimento de que a ofensiva deveria ter começado há muito tempo.”

 

 

 

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