Chegada às portas de Mossul, ofensiva entra na fase dificil

Forças especiais iraquianas tomaram a última aldeia no caminho para a entrada Leste da cidade. Batalha para reconquistar cidade aos jihadistas transforma-se e os militares terão pela frente uma guerra de guerrilha.

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Bulent Kilic/AFP

No dia em que se completaram duas semanas desde o início da ofensiva, militares das forças especiais iraquianas chegaram às portas de Mossul – havia informações contraditórias sobre se já teriam ou não entrado no perímetro urbano, pelo leste da cidade, mas a aproximação marca um ponto de viragem nas operações. De agora em diante, os avanços (e recuos) deixam de ser feitos em campo aberto, medir-se-ão em ruas ganhas e perdidas, ao sabor das tácticas de guerrilha urbana e de terrorismo a que os jihadistas do Estado Islâmico ameaçam lançar mão.

A ofensiva – anunciada há mais de um ano, preparada durante meses – avança vinda de Leste, Sul e Norte, envolvendo milhares de soldados, polícias, peshmergas curdos e, desde domingo, das Forças de Mobilização Popular, uma coligação de milícias xiitas criada em 2014 para as colocar sob a autoridade do primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi. Os progressos, no entanto, não têm sido uniformes, com o Exército iraquiano a encontrar maior resistência na aproximação pelo Sul, avançando mais lentamente pelo vale do rio Tigre, enquanto os curdos e as forças especiais conseguiram progressos mais rápidos do que eles próprios admitiam no início da operação, no dia 17.

“Ainda não entrámos ainda no distrito de Al-Karama”, no Leste de Mossul, disse à AFP o general Abdelwahab al-Saadi, oficial dos Serviços de Contra-terrorismo (CTS), uma das pontas-de-lança do Exército, desmentindo informações dadas à Reuters por um outro oficial da unidade, que pela manhã garantira que já havia combates naquele bairro do Leste de Mossul.

Certa era já, a meio da tarde, a tomada de Bazwaya, a última aldeia antes da grande cidade do Norte do Iraque, a escassos três quilómetros dali. Pela frente havia ainda Gogjali, meio subúrbio meio zona industrial, e que era o segundo alvos da operação lançada pelo CTS ainda de madrugada. “Quando cair ficamos a apenas 700 metros de Mossul”, disse à mesma agência um oficial no terreno.

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O avanço, ainda em terreno aberto, foi rápido – aviões da coligação liderada pelos Estados Unidos e a artilharia iraquiana atacaram posições dos jihadistas – mas recheado de armadilhas. Jornalistas que viajam com a unidade contam que carros carregados de explosivos e conduzidos por suicidas tentaram cortar caminho à coluna, mas foram destruídos antes de atingirem o alvo. O Exército não revelou o número de baixas, mas há notícias de combates intensos e a um posto montado à entrada da localidade chegaram soldados feridos.

Guerra de guerrilha

O general Haider Fadhil, um dos coordenadores da ofensiva, disse à agência AP que as forças especiais iriam tentar entrar durante a noite em Mossul. Outros responsáveis disseram, porém, que a prioridade era consolidar posições e esperar que haja avanços noutras frentes, para que seja possível cercar a cidade e depois abrir corredores para a saída dos habitantes (calcula-se que possam ser ainda 1,5 milhões de pessoas). Os jihadistas “não terão escapatória. Ou se rendem ou morrem”, disse Abadi na base aérea de Qayyara, a Sul de Mossul. Nesta segunda-feira, foram anunciados progressos também progressos a Sul e Norte, mas no vale do Tigre os militares estão ainda a 17 quilómetros de Mossul.

Tudo, a partir de agora será mais difícil. Para a população de Mossul que, se ficar ou não conseguir sair, será usada como escudo pelos jihadistas, mas que ao fugir se torna alvo fácil no fogo cruzado. Não há opções também fáceis para os militares.

Depois das planícies desérticas da província de Nínive – onde os jihadistas eram alvo fácil para os aviões e quase ninguém restava nas aldeias que encontraram pelo caminho – têm à sua espera ruas estreitas (onde será difícil manobrar blindados) edifício que se adivinham minados por explosivos, jihadistas dispostos a tudo, e civis, muitos civis, pelo caminho.

“Receio que Mossul se transforme noutra Alepo, mas esperamos que isso não aconteça”, disse nesta segunda-feira o líder da Organização de Badr, a maior milícia xiita que luta ao lado do Exército iraquiano, referindo-se à demolidora batalha pelo controlo da grande cidade do Norte da Síria.

E para lá de todos os riscos militares, a ofensiva em Mossul é muito sensível para o mosaico étnico e religioso da cidade, de maioria sunita mas onde há séculos convivem todas as comunidades do país. Abadi diz que as forças xiitas – que deixaram um rasto de atrocidades pelas cidades sunitas reconquistadas em 2015 ao jihadistas – não entrarão na cidade. A sua missão, acrescentou, será tomar Tal Afar, junto à fronteira síria, e cortar a ligação de Mossul a Raqqa, a capital do “califado” proclamado em 2014. “Vamos cercá-los por todos os lados. Se Deus quiser, a cabeça da serpente será cercada”, prometeu o primeiro-ministro iraquiano, sem adiantar prazos.

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