Trump admite conversar com Kim Jong-un sobre programa nuclear

Se vencer as presidenciais nos EUA, o republicano diz que não terá "qualquer problema em falar com ele". A campanha de Clinton diz que a política externa do seu adversário "não faz qualquer sentido".

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A Coreia do Norte está cada vez mais isolada REUTERS/KCNA

O provável candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, admite conversar com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, para convencê-lo a travar o programa nuclear do país.

Numa entrevista à agência Reuters, Trump mostrou-se disposto a alterar a política oficial dos EUA em relação à Coreia do Norte se for eleito Presidente em Novembro. Actualmente os dois países não têm laços diplomáticos – quando é necessário, as conversações são feitas por funcionários dos respectivos governos através da embaixada da Suécia.

"Eu falaria com ele, não teria qualquer problema em falar com ele", afirmou Trump na entrevista à Reuters.

Ainda assim, o candidato voltou a dizer que o melhor caminho para travar o programa nuclear da Coreia do Norte passa pela China. "Faria muita pressão sobre a China, porque temos um enorme poder económico sobre a China. A China pode resolver esse problema com uma reunião ou com um telefonema", disse.

Críticas de Hillary Clinton

O candidato tem sido criticado por não ter uma visão consolidada sobre política externa, ao contrário da sua provável adversária nas eleições gerais, Hillary Clinton, que foi secretária de Estado na Administração Obama entre 2009 e 2013.

O principal conselheiro de Clinton sobre política externa, Jake Sullivan, já veio criticar a abertura de Donald Trump a conversações directas com o líder norte-coreano. Sullivan recordou a entrevista do candidato ao canal britânico ITV, no início da semana, durante a qual admitiu que poderá não ter uma boa relação com o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

"Vamos ver se percebo: Donald Trump insulta o líder do nosso aliado mais próximo e depois diz que adoraria conversar com Kim Jong-un? A abordagem dele em relação à política externa não faz qualquer sentido para o resto das pessoas", disse Sullivan.

Na entrevista transmitida pela ITV, concedida ao seu amigo e apoiante Piers Morgan (britânico), Trump reagiu a declarações de David Cameron e do novo presidente da câmara de Londres, Sadiq Khan, sobre as suas propostas anti-muçulmanas.

Trump foi confrontado com a reacção de David Cameron à sua proposta de proibição de entrada de todos os muçulmanos nos EUA – uma semana depois dessa declaração, em Dezembro do ano passado, o primeiro-ministro britânico disse que as observações de Trump eram "divisivas, estúpidas e erradas", e acrescentou que se o magnata visitasse o Reino Unido iria muito provavelmente unir todos os britânicos contra ele.

"Parece que não vamos ter uma relação muito boa. Quem sabe? Espero ter uma boa relação com ele, mas penso que ele também não quer enfrentar o problema", respondeu Trump na entrevista à ITV.

O senador norte-americano Jess Sessions, apoiante de Donald Trump e seu conselheiro sobre política externa, admitiu que não estava a par da abertura do candidato a negociar directamente com Kim Jong-un, mas disse que só vê vantagens nessa abordagem.

"Se há coisas que Donald Trump percebe é o poder e a oportunidade. Há que ter cuidado, só isso", disse o senador no programa da CNN The Situation Room.

"Há muitos anos que ninguém concorre à presidência com um conhecimento tão profundo sobre uma negociação como Donald Trump, e acredito que ele não será ultrapassado por Kim Jong-un nem por nenhuma outra pessoa na Coreia do Norte. Acho que é difícil ter bons resultados, mas talvez valha a pena tentar algo desse género", disse Jeff Sessions.

Durante a campanha para as eleições presidenciais nos EUA em 2008, Barack Obama foi criticado pelo Partido Republicano por dizer que estava disposto a dialogar com alguns líderes de países inimigos, como o Irão ou Cuba. Durante o seu mandato, Obama não só falou com os líderes desses países como foi fundamental para a obtenção de um acordo nuclear com o Irão e para o desanuviamento das relações com Cuba.

Um dos poucos países que ficou de fora desta nova abordagem foi precisamente a Coreia do Norte, que está cada vez mais isolada na cena internacional. O país é alvo de um pacote de sanções muito duro e continua a fazer testes proibidos por resoluções do Conselho de Segurança, mesmo contra a posição da China. 

 

 

 

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