China deixa cair o mecanismo de suspensão automática das bolsas após quedas de 7%

Mercados accionistas europeus encerram em queda.

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O valor de fecho do Hang Seng, principal índice de Hong Kong, lidera as subidas das bolsas mundiais Reuters

A China acaba de suspender o mecanismo automático de encerramento dos mercados, após quedas de 7% nesta segunda-feira e que já estiveram na origem de dois fechos antecipados do mercado. No caso desta quinta-feira, o cancelamento da negociação bolsista ocorreu 28 minutos depois da abertura.

Os novos limites de suspensão automática das bolsas perante quedas superiores de 5% (paragem temporária de 15 minutos) e de 7% (encerramento definitivo da sessão) estavam a gerar forte contestação por parte de investidores e agentes do mercado, que os consideram muito baixos e muito próximos, para um mercado com uma volatilidade tão elevada.

Estes mecanismos estavam, segundo alguns analistas, a contribuir para um aumento da pressão vendedora no arranque das sessões, antes de serem disparados os patamares de suspensão.

A queda violenta das bolsas asiáticas e a respectiva suspensão, perante quedas superiores a 7,32% em Xangai e de 8,35% em Shenzhen, bem como a nova desvalorização da moeda chinesa, voltaram a arrastar as bolsas europeias para fortes quedas. Os mercados norte-americanos também seguem com quedas  superiores a 1%.

Para o nervosismo dos investidores chineses nesta quinta-feira também contribuiu  o anúncio de novas limitações à venda de acções por parte de grandes accionistas, e à divulgação de mais um indicador decepcionante sobre a actividade dos serviços, a negociação acabou por não ser retomada, tornando-a na mais curta de sempre.

Das novas regras aprovadas pela supervisora chinesa, anunciadas esta quarta-feira e que entram em vigor este sábado, fazem parte as limitações à venda de participações accionistas. Os grandes accionistas só podem vender 1% do capital das empresas a cada três meses e com aviso prévio de 15 dias.

Esta medida afecta directamente os accionistas que detinham participações superiores a 5% e que estavam impedidos de as alienar desde Julho, por um prazo de seis meses. Esse prazo terminava esta sexta-feira, e o receio de que o mercado seria inundado por acções - bloqueadas estarão cerca de mil milhões de títulos - foi uma das razões avançadas para a pressão vendedora verificada na primeira sessão do ano.

Citados pelas agências internacionais, alguns analistas já vieram contestar as novas regras e as sucessivas intervenções governamentais, por condicionarem o livre funcionamento do mercado.

O elevado número de investidores privados, cerca de 90 milhões, e o recurso ao crédito para a compra de acções, são factores que contribuem para a instabilidade das bolsas, já iniciada no Verão do ano passado.

Europa fecha em queda

Esta instabilidade – agravada com a decisão de uma nova desvalorização do yuan, que o atirou para níveis de 2011 – alastrou-se à Europa, tendo esta quinta-feira as principais praças europeias iniciado as transacções a assinalar quedas que rondaram os 3% nas bolsas de Frankfurt e Paris, e de 4% nos mercados escandinavos da Suécia, Dinamarca e Finlândia.

O encerramentos dos principais índices europeus foi negativo, mas com desvalorizações mais moderadas, beneficiando ainda do anúncio da China de eliminações das barreiras de suspensão das bolsas. O Dax alemão continuou a liderar as quedas, perdendo 2,2%, seguido de perto do FTSE de Londres, que perdeu 1,96%. O Cac de Paris e o Ibex 35 de Madrid recuaram mais de 1%.

Depois de ter aberto a desvalorizar 2,01%, o principal índice da bolsa de Lisboa, o PSI-20, encerrou a perder 0,45%, com o BCO e o BPI a perderem mais de 3%.

Os investidores internacionais temem que o arrefecimento económico da segunda maior economia mundial venha a afectar também as empresas mineiras que exportam para a China (o país é o principal consumidor de metais), bem como os fabricantes de automóveis e outros sectores

A agravar toda esta instabilidade surgem também as tensões geopolíticas que atiram o preço do barril de petróleo para níveis que não se verificavam há quase 12 anos.

A ruptura das relações diplomáticas entre Teerão e Riade e a cada vez maior improbabilidade de estes dois grandes produtores de petróleo se unirem num acordo que possa tentar estancar a derrocada dos preços do petróleo continua a afundar a cotação desta matéria-prima.

Se na sessão de quarta-feira os preços do Brent fixaram-se no valor mais baixo desde 2004, e os mercados assinalaram o facto de terem cotado abaixo dos 35 dólares, algo que não acontecia há 11 anos, na manhã desta quinta-feira a queda acentuou-se. O preço do barril de petróleo Brent, referência para a produção no Mar do Norte, para entrega em Fevereiro, abriu a cair 4,14% face ao fecho da sessão anterior, a valer 32,81 dólares.

O Irão pretende regressar ao mercado depois do fim das sanções e quer que a OPEP, a organização de produtores de petróleo, abandone a estratégia imposta até aqui pela Arábia Saudita.

Já esta quinta-feira, com declarações transmitidas a partir de Viena, a organização dos países produtores de petróleo informou que o barril de referência da OPEP fechou a sessão de quarta a valer 29,71 dólares, perdendo assim o valor de 30 dólares pela primeira vez desde 5 de Abril de 2004. Os preços do grupo petrolífero referem-se ao barril de referência da OPEP, que se baseia numa mistura de 12 qualidades de petróleo dos estados-membros da OPEP e é um valor nominal, ou seja, não inclui a inflação.

As últimas previsões da OPEP apontam para que o preço do barril de petróleo comece a recuperar este ano, depois da brutal queda de 2015 para os níveis mais baixos da última década, e suba até aos 80 dólares em 2020 e os 160 dólares em 2040.

Este cálculo da OPEP consta no relatório Previsões Mundiais do Petróleo 2015 e foi feito com base numa estimativa de que a economia mundial cresça entre 3,5% e 3,7% no período entre 2016 e 2020 e entre 3,6% e 3,3% nas duas décadas seguintes.

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