ONU faz pedido recorde de 18 mil milhões de euros para ajuda humanitária

No ano passado, a ONU reuniu cerca de metade do valor previsto. O alto-comissário das Nações Unidas para os refugiados defende contribuições directas dos Estados-membros às agências humanitárias.

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António Guterres, do Alto Comissariado para os Refugiados, juntou-se ao subsecretário da ONU para os assuntos humanitários, Stephen O'Brien, para lançar o Apelo Humanitário 2016 Denis Balibouse/REUTERS

A Organização das Nações Unidas anunciou esta segunda-feira, em Genebra, que precisa de 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros) da comunidade internacional para financiar a intervenção humanitária prevista para 2016.

Este é o valor mais alto alguma vez solicitado na campanha anual de recolha de fundos da ONU para as agências de refugiados (ACNUR), da saúde (OMS), dos assuntos humanitários (OCHA) e das associações parceiras, para levar ajuda a 87 milhões de pessoas em risco em 37 países.

De acordo com o comunicado da campanha Apelo Humanitário 2016, o orçamento do ano passado, estipulado em 18,3 mil milhões de euros, ficou-se pelos 8,9 mil milhões de euros.

Para além de o investimento da ONU e de organizações não-governamentais locais se ter expandido para questões de prevenção, educação ou reintegração, o crescente número de conflitos e, consequentemente, de pessoas deslocadas, é apontado como a grande origem da crescente necessidade de intervenção junto das populações em risco. A Síria, o Iraque, o Sudão do Sul e o Iémen são indicados pelas agências como "os países que concentram maior necessidade de ajuda humanitária prolongada".

"Oitenta por cento das crises humanitárias que existem hoje são crises a longo prazo. É compreensível que a um determinado ponto a comunidade internacional diga 'Não podemos continuar a financiar isto sem uma perspectiva clara, sem uma solução'", disse Peter De Clercq, representante da ONU na Somália, ao jornal britânico The Guardian.

A necessidade de intervenção em países como o Burundi, o Nepal, o Iémen e a Líbia fez aumentar também os pedidos de financiamento previstos para este ano. O orçamento de 15 mil milhões de euros para 2015 aumentou para 16,6 mil milhões só nos primeiros seis meses do ano. De acordo com o relatório de Junho da ONU, apenas 26% desse valor tinha sido conseguido até então.

Apesar dos fundos da ONU, as agências humanitárias como o ACNUR ou a UNICEF dependem maioritariamente de contribuições voluntárias, tanto de governos como de entidades privadas.

"À medida que os doadores generosamente cedem mais fundos todos os anos, a diferença entre a quantia disponível e a quantia necessária continua a aumentar", declarou esta segunda-feira Stephen O'Brien, subsecretário geral das Nações Unidas para os assuntos humanitários.

Os desatres ambientais e os conflitos, em especial no Médio Oriente e em África, aumentam a carência de apoio médico, comida, abrigo e protecção para as cerca de 60 milhões de pessoas que estão deslocadas em todo o mundo.

António Guterres, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, é um dos defensores de uma maior responsabilidade financeira dos Estados-membros da ONU.

"As missões de paz da ONU são financiadas por contribuições previamente estipuladas entre os Estados. Casos de emergência como o da Síria deveriam beneficiar das mesmas contribuições", declarou o alto-comissário em entrevista ao The Guardian em Setembro.

"Se pensarmos no orçamento disponível para a ajuda humanitária à escala global, está entre os 20 e os 30 mil milhões de dólares. Não conheço nenhum resgate a um banco de média importância que não tenha custado mais que isso."

(Texto editado por Alexandre Martins)

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