Venda da Cabovisão e Oni recebida com cepticismo pelos analistas

Negócio com a Apax é uma forma de ganhar tempo para prosseguir negociações com a Vodafone, diz o BBVA.

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A Vodafone era a candidata mais provável à compra da Cabovisão AFP

A Altice, dona da PT Portugal, anunciou na terça-feira ao final da tarde a venda da Cabovisão e da Oni à Apax França. O desfecho da operação foi considerado surpreendente por vários analistas financeiros que acompanham o sector das telecomunicações e que consideravam a Vodafone a candidata mais provável a ficar com a Cabovisão. Por isso, alguns questionam a seriedade da transacção.

Um fundo de risco francês compra um "negócio pequeno e em declínio", sem capacidade de crescimento num mercado onde tudo se joga na capacidade de oferecer em simultâneo serviços fixos e móveis? O negócio exclui a Vodafone Portugal, que era a candidata mais provável pela capacidade de extrair sinergias para reforçar a sua operação de televisão? Estas são apenas algumas das dúvidas expressas numa nota de research divulgada esta quarta-feira pela Fidentiis, a casa de investimento especializada no mercado português, espanhol e italiano.

“Ninguém pode acreditar que esta seja uma transacção a sério”, diz a nota a que o PÚBLICO teve acesso. Considerando que “a Altice é um operador completamente focado na rentabilidade das suas operações, que é altamente eficiente e que actua um bocado na lógica de um fundo, no que é que a Apax França pode ajudar à festa?”, questiona a Fidentiis, recordando que o valor do negócio não foi divulgado.

Um dos cenários descritos na nota de research é a possibilidade de a Altice ter negociado um acordo confidencial com a Cabovisão para que esta garanta serviços grossistas à PT Portugal em troca da venda de clientes. Ou, então, a possibilidade de a Altice ter garantido com a Oni níveis mínimos de tráfego sobre a sua rede fixa.

“Acreditamos que, embora em teoria esta seja uma operação que traz mais concorrentes ao mercado, os reguladores estarão tão incrédulos quanto nós”, conclui a Fidentiis.

A operação também levanta dúvidas ao BBVA. “A Vodafone desiste da Cabovisão… e agora?”, questiona uma nota do banco espanhol. O analista do BBVA conclui que o processo não vai ficar por aqui: “O histórico de proximidade entre a Altice e a Apax [ambas partilharam o capital da Cabovisão em 2012] sugere que esta possa ser uma forma de ganhar tempo nas negociações com a Vodafone e cumprir o prazo de venda imposto por Bruxelas”, refere a nota.

Quando o negócio de compra da PT Portugal foi aprovado, em Abril, a Comissão Europeia obrigou a Altice a vender a Oni e a Cabovisão. O prazo acabava no final de Agosto, mas o insucesso do processo de venda levou a Direcção-Geral da Concorrência a estendê-lo até 15 de Setembro.

Estas são “más notícias para a NOS”, destaca o BBVA. Mantendo-se o impasse em torno da consolidação do mercado português, a Vodafone vai continuar a investir em fibra e a manter a concorrência agressiva de preços nos pacotes de serviços com televisão. Ainda assim, o banco de investimento espanhol considera que, no longo prazo, a entrada da Altice (PT Portugal) e Apax França no mercado virá induzir alguma “racionalidade de preços”.

Também o BPI se mostra surpreendido com o desfecho do negócio. “Acreditamos que o mercado possa reagir negativamente à notícia, já que alguns operadores acreditavam que a Vodafone comprasse estes activos e mudasse de estratégia, o que conduziria a um ambiente mais benigno em matéria de preços.”

Tendo em conta que “a Cabovisão tem uma dimensão reduzida e falta-lhe escala para ser competitiva, e que a Oni não tem tamanho para ter impacto material no mercado”, o BPI considera ainda que o facto de não ter comprado estas empresas não tem influência na avaliação da Vodafone.

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