Em Taiwan, duas mulheres querem decidir o futuro das relações com a China

Nas eleições de Janeiro de 2016 escolhe-se um novo Presidente mas também o rumo das relações entre os dois lados do estreito. Nos últimos anos, o Kuomintang optou por uma política de aproximação, mas na frente das sondagens está a candidata da oposição.

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Tsai Ing-wen não apoiou a política “Uma China”, apesar de apoiar as relações entre os dois lados do estreito de Taiwan Pichi Chuang/Reuters

As eleições presidenciais de Janeiro em Taiwan vão ser um teste ao mais harmonioso período nas relações com a China, sobretudo porque a candidata pró-independência está à frente nas sondagens.

Enquanto Tsai Ing-wen tenta manter cordial a relação com o cada vez mais poderoso antigo inimigo, o seu partido (na oposição) continua a ter como objectivo oficial a independência — o que a China considera um acto hostil.

A sua maior opositora, Hung Hsiu-chu, do Kuomintang (KMT, o partido no poder), posiciona-se no campo oposto e já pediu um acordo de paz com o Partido Comunista Chinês para formalizar o fim da guerra civil entre os dois lados do estreito de Taiwan, que começou há 70 anos.

As relações entre Taipé e Pequim estão no seu momento mais forte desde que Chiang Kai-shek e o seu KMT deixaram o “continente”, em 1949. O Presidente Ma Ying-jeou, no poder desde 2008, assinou 21 acordos comerciais com a China, que agora representa quase um terço do comércio externo de Taiwan. Nenhum dos lados quer o regresso da hostilidade, que pode arrastar os Estados Unidos.

“Se Hung ganhar, o caminho de normalização vai continuar”, disse Alexander Huang, da Universidade Tamkang. “Se ganhar Tsai, será necessário uma rota mais circular”.

O KMT está a ser penalizado pelos escândalos, o lento crescimento da economia e a resistência da população ao estreitar dos laços com Pequim. No ano passado, após um protesto dos estudantes que chegaram a ocupar o Parlamento, o Governo retirou o projecto de um pacto comercial com a China.

Ma, que não se pode candidatar a um terceiro mandato, foi obrigado a deixar a chefia do partido em Dezembro, depois de o Partido Democrático Progressista (DPP, de Tsai) ter vencido as eleições locais.

Tsai é a candidata favorita para suceder a Ma, para quem perdeu as eleições de 2012. Antiga aluna da London School of Economics e professora de Direito, tem 12 pontos de vantagem sobre a sua adversária, segundo a sondagem divulgada há uma semana pela televisão TVBS. Seja qual for o resultado, a ilha elegerá a sua primeira mulher Presidente em Janeiro de 2016.

“O Kuomintang tem muitos problemas”, disse Warren Lin, de 42 anos, gerente de uma empresa e que se inclina para apoiar Tsai. “Mas se o DPP conseguir — se eles forem capazes — a sua posição sobre as relações no estreito é uma preocupação”.

Muitos nesta ilha de 23,5 milhões de habitantes lembram-se das querelas com a China de há uma década, quando o último Presidente do DPP, Chen Shui-bian, marcou um referendo consultivo sobre a relação entre Taiwan e a China. Pequim, que tem 1200 mísseis apontados a Taiwan, respondeu com uma lei que autoriza a utilização de “meios não pacificos” para evitar a secessão.

Historicamente, o DPP rejeita o princípio de “uma China” com que a República Popular e o Kuomintang concordaram em 1992. Ambas as partes aceitam que só há uma China, mas que divergem no que isso significa.

Tsai, que foi vice-primeira-ministra durante a presidência de Chen, não apoiou a política “Uma China”, apesar de apoiar as relações entre os dois lados do estreito de Taiwan.

“Temos um amplo consenso em Taiwan, que é a manutenção do status quo”, disse Tsai em Washington em Junho. Também atacou a China ao dizer que apoiará “o direito de o povo decidir o futuro sem coerção”.

Uma derrota do KMT pode desfazer sete anos de progressos rumo ao derradeiro objectivo de Pequim, a reunificação. O Presidente chinês, Xi Jinping, disse a um enviado de Ma em 2013 que não podem continuar a passar o problema “de geração para geração”. Os líderes comunistas estão a observar a campanha eleitoral em Taiwan com cautela, fazendo apenas comentários ocasionais a exigir que Tsai sancione a política da China una.

“Apesar de Xi Jinping ser um indivíduo mais duro, que diz que o status quo não pode ser indefinido, acho que ainda pensam que o tempo está do lado deles”, disse William Stanton, director do Centro para a Política da Ásia da Universidade Tsing Hua.

Ao escolher Hung, o Kuomitang complicou o jogo. A vice-presidente do Parlamento, antiga professora do ensino secundário, foi oficialmente nomeada no domingo passado, depois de outros, incuindo o presidente do partido, Eric Chu, se terem afastado da corrida. Hung tem defendido o reforço dos laços com Pequim, incluindo a assinatura de um acordo de paz — o que alienou muitos taiwaneses.

“Os frutos das trocas económicas não criaram uma resolução política”, disse Hung. “Se não resolvermos as nossas diferenças políticas, não pode haver paz duradoura e desenvolvimento”.

Quase 45% dos taiwaneses acreditam que a relação entre os dois lados do estreito progride na direcção certa. Mas 29% acham que a relação está a avançar demasiado depressa. Só 15% querem que os laços se aprofundem mais depressa.

Scott Huang, de 41 anos, gerente de uma empresa de segurança de Taipé, que já votou em candidatos presidenciais do KMT e do DPP, diz que se inclina para Tsai — desde que ela dê sequência ao pacto comercial que Ma teve que retirar.

“Este acordo é muito importante para a liberalização da indústria da finança”, diz Huang. “A abertura de Taiwan à China tem sido apressada e dramática, mas se Tsai fechar a porta também não resolve nada”.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post 

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