Quase 300 mil pessoas investiram 4400 milhões em depósitos complexos

Montante aplicado em 2014 aumentou 80%, fruto das condições menos atractivas dos depósitos simples.

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Pagamentos em dinheiro, sem factura, na origem de boa parte da fuga ao fisco. Reuters

O montante aplicado em depósitos indexados e duais, cuja taxa de remuneração é incerta e, por isso, são também designados por complexos, disparou 80% em 2014, impulsionado pela forte queda dos juros dos produtos tradicionais.

Os novos depósitos atraíram 4400 milhões de euros, elevando o total aplicado neste produto para 7200 milhões, revela o Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho, divulgado nesta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP).

Apesar dos valores expressivos que já apresentam, estes produtos correspondem a apenas 6% do total de depósitos a prazo existentes nos bancos portugueses. Mesmo assim, no espaço de um ano, registou-se uma duplicação do seu peso, uma vez que representavam apenas 3,5% em 2013.

Ao longo do último ano, foram comercializados 214 depósitos complexos (associados à evolução de outros activos, como acções) e duais (comercialização conjunta de dois ou mais depósitos), mais 65 do que em 2013. Estes produtos foram subscritos por 277 mil clientes, mais 63% do que no ano anterior.

O relatório do BdP, iniciado em 2013, revela que foram comercializados pela primeira vez depósitos com prazos entre quatro e cinco anos.

Em termos de remuneração, 46% dos depósitos indexados que terminaram no ano passado pagaram a taxa mínima prevista (que em 11% dos casos significa não pagaram qualquer remuneração). Apenas 24% pagou a taxa máxima indicada no respectivo prospecto informativo e os restantes cerca de 30% pagaram uma remuneração entre o mínimo e o máximo previsto.

Ainda assim, a remuneração paga em 57 dos 116 depósitos indexados vencidos foi superior à taxa de juro dos depósitos simples com igual prazo e na mesma instituição de crédito. Em 55 depósitos indexados, a remuneração paga foi inferior à dos depósitos simples e nos restantes quatro foi igual.

O aumento dos produtos complexos é em parte explicado pela baixa taxa de juro oferecida pelos depósitos simples ou tradicionais, que continuaram a ser quase exclusivamente a taxa de juro fixa (99,2%). O relatório conclui que a descida das taxas de remuneração foi, em geral, mais pronunciada do que a redução verificada nas taxas de referência do mercado monetário interbancário. Apenas cerca de 7% dos depósitos a prazo a taxa de juro fixa tinham uma remuneração superior a 2%, o que compara com cerca de 30% em 2013.

A contrastar com a dinâmica dos depósitos complexos, a oferta de novas aplicações tradicionais (23) e os montantes associados a estas cresceram apenas 4,4%.

A descida das taxas de remuneração foi acompanhada por um aumento da oferta de depósitos nos prazos mais curtos, com cerca de 85% dos produtos a taxa fixa a serem comercializados com um prazo até um ano, inclusive, uma subida de 2 pontos percentuais face ao ano anterior.

No segmento do crédito conhecido a particulares verificou-se um crescimento, quer destino para habitação quer para o consumo.

Na habitação, o montante concedido aumentou 15,3 % e o número de contratos celebrados subiu 8%, mantendo-se a recuperação iniciada no ano anterior. A média dos spreads, ou margem comercial dos bancos, situou-se em torno dos 3%, um nível semelhante ao de 2013.

O relatório do BdP mostra um aumento do peso do crédito a taxa de juro variável, que representa cerca 90% dos contratos celebrado – proporção que compara com 87% em 2013. Destes contratos, cerca de 64% estavam indexados à Euribor a seis meses e 31% à Euribor a três meses.

A reflectir as dificuldades das famílias em suportar estes empréstimos, as condições mais renegociadas nos contratos envolveram a introdução ou alargamento de um período de carência de capital e o aumento do prazo do contrato, isoladamente ou em conjunto com outras condições.

Estas alterações foram frequentes na reestruturação de empréstimos visando a prevenção e gestão de situações de incumprimento. Do total de contratos renegociados, cerca de 17% estavam já em situação de incumprimento, uma percentagem idêntica à de 2013.

No crédito ao consumo, e apesar da ligeira redução no número de contratos celebrados, o montante concedido cresceu 11,4%, ligeiramente abaixo dos 14,8% de aumento observado em 2013.

O maior crescimento verificou-se no segmento do crédito automóvel, que aumentou 33,2%, seguido do crédito pessoal, com um aumento de 10,7%. No crédito revolving (de renovação automática, como os cartões de crédito) verificou-se uma redução de 7,8%.

A descida do custo do crédito foi generalizada. No crédito revolving foi mais acentuada, tendo a taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) média diminuído cerca de tês pontos percentuais, face ao final de 2013. No crédito pessoal e no crédito automóvel, a redução foi de 0,9 e 0,6 pontos percentuais, respectivamente.

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