Governo grego força serviços a passar reservas para o banco central

Atenas tenta juntar toda a liquidez possível para evitar incumprimento face aos credores.

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Governo de Alexis Tsipras tenta evitar default ante de acordo com a zona euro Reuters

Com a data limite para se chegar a um acordo com os parceiros europeus a ser sucessivamente adiada, o Governo grego está a recorrer a todos os meios que tem ao seu dispor para tentar evitar pelo máximo de tempo possível o esvaziamento dos seus cofres e a entrada em incumprimento com os credores.

Esta segunda-feira, como noticiaram as agências Reuters e Bloomberg, o Executivo liderado por Alexis Tsipras aprovou um decreto que exige às diversas entidades do sector público que transfiram as suas reservas de tesouraria para o banco central grego. O objectivo desta medida é o garantir que qualquer excesso de liquidez que possa existir nos serviços do Estado possa ser usado de forma centralizada pelo Governo para fazer face aos compromissos financeiros que tem de enfrentar, como por exemplo, o pagamento de dívidas ou o processamento de pensões e salários.

Nas semanas anteriores, o Governo já tinha procedido à utilização das reservas acumuladas por fundos da segurança social e empresas públicas. Agora, a medida estende-se à generalidade dos serviços públicos, tentando que estas entreguem para uma gestão centralizada todos os fundos que não precisem de utilizar no curto prazo.

Em Portugal, a centralização dos recursos financeiros na Administração Pública é uma obrigação de todos os serviços e entidades do Estado. O objectivo neste caso é também o de reduzir ao máximo as necessidades de financiamento do Estado, permitindo gerar poupanças com juros.

No caso grego, a medida é tomada numa situação de emergência, em que o Tesouro começa a ter dificuldades em ter dinheiro na mão para cumprir todos os pagamentos. Espera-se mesmo que a situação seja de cada vez maior pressão durante os próximos dias.

Depois de pagar 448 milhões de euros ao FMI e de ter renovado duas emissões de bilhetes do tesouro no valor de 2400 milhões na semana passada, o Governo grego irá enfrentar novas exigências nas próximas semanas.

No final deste mês, terá de começar a processar o pagamento de salários e pensões, algo que não poderá deixar de fazer se não quiser dar início a uma espiral de descontentamento e nervosismo entre a população grega.

Depois, no dia 1 de Maio, há 195 milhões de euros para devolver ao FMI, a que se juntam mais 745 milhões no dia 12 de Maio.

É muito difícil nesta fase perceber quanto dinheiro está neste momento nos cofres gregos e até onde e quando é que o Governo pode resistir sem receber uma nova tranche do empréstimo dos seus parceiros da zona euro. Vários analistas apostam que o pagamento de 12 de Maio ao FMI poderá já não ser feito sem que haja antes um novo financiamento externo.

O problema é que um acordo entre Atenas e o resto da zona euro para a libertação do empréstimo continua a revelar-se muito difícil. A reunião do Eurogrupo da próxima sexta-feira em Riga, que era apontado como o momento limite para a obtenção de um acordo, já é vista neste momento como apenas uma ocasião para aproximar posições. A nova data limite é agora a de 11 de Maio, um dia antes da data agendada para o pagamento de 745 milhões ao FMI, quando deverá ocorrer um novo encontro entre os ministros das Finanças da zona euro.

Com cada vez mais gente preocupada com a possibilidade de a Grécia poder, mesmo que por acidente, entrar em default, o único sinal positivo foi dado pelo chefe de missão do FMI em Atenas, Poul Thomsen, que numa entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, disse que “nos últimos dias se registou um pouco mais de desenvolvimento nas negociações entre as três instituições e o Governo grego”. Apesar de salientar que “ainda se está longe do objectivo”, Thomsen afirma que estes últimos desenvolvimentos “são um motivo de esperança”.

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