Exportações para Angola sofrem a maior queda dos últimos cinco anos

As vendas de bens caíram 63,5 milhões de euros face a Janeiro de 2014. Reino Unido ultrapassa país africano e sobe a quarto maior mercado de Portugal.

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Queda é um reflexo do baixo preço do petróleo, que tem penalizado a economia angolana
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Queda é um reflexo do baixo preço do petróleo, que tem penalizado a economia angolana PÚBLICO/Arquivo

Em cadeia, a descida de 32,9% (menos 87 milhões em apenas um mês) é a pior, pelo menos, da última década e, em valor, só é equiparado a Dezembro de 2012. Mesmo assim, o último mês do ano é normalmente penalizado face aos dois meses anteriores devido às compras de Natal. Em termos homólogos, a descida de 26,4% só foi superada duas vezes, em Dezembro de 2009 e em Abril de 2010. Neste último caso, a queda foi de 28,7% (acima dos 26,7% de Dezembro de 2009), mas, em valor, foi de 53,3 milhões de euros, contra os 63,5 milhões que se perderam em Janeiro deste ano.

Se até aqui Angola era o quarto maior cliente a nível mundial e o primeiro fora da Europa, no mês em análise este mercado foi ultrapassado pelo Reino Unido, responsável pela compra de bens no valor de 245 milhões de euros. Fora da Europa, os Estados Unidos aproximaram-se de Angola, ao comprar produtos avaliados em 155 milhões. Por seu turno, Portugal é o maior abastecedor deste país africano.

Analisando a série histórica, verifica-se que o valor de bens exportados para este mercado africano não baixava dos 200 milhões de euros desde Janeiro de 2012. Nessa altura houve também uma forte queda em cadeia, mas as vendas subiram em termos homólogos.

No caso das cervejas, sujeitas desde Fevereiro a um novo sistema de quotas de importação (que vai penalizar ainda mais as exportações para Angola), verifica-se que em Janeiro deste ano as vendas caíram 20% (de 8,6 milhões de euros para 6,9 milhões), em comparação com Janeiro de 2014. A cerveja é o principal produto que Portugal exporta para este país e será um dos mais afectados pelas medidas adoptadas pelo Governo local para estimular a produção e diminuir a dependência do exterior. As autoridades angolanas afirmam que a criação de uma indústria agro-alimentar local é uma das formas de reduzir a forte dependência do petróleo e diversificar a sua economia.

Com o crude a preços historicamente baixos, Angola está a braços com uma crise que provoca uma quebra acentuada do investimento e do consumo. Ao mesmo tempo, há atrasos nos pagamentos e verbas retidas em Luanda por falta de divisas internacionais (dólares). Uma situação que afecta as quase dez mil empresas portuguesas que vendem os seus produtos para este mercado. Os problemas vão desde a descida nas receitas a problemas de tesouraria.

As preocupações dos empresários ficaram bem expressas no último barómetro do instituto Kaizen, que auscultou mais de cem gestores nacionais sobre o desempenho da economia portuguesa. Questionados sobre qual a maior ameaça para este ano, a crise no mercado angolano surgiu logo no topo da lista, com 27% das respostas (em segundo lugar ficou a deflação, com 17%).

Entre os que destacaram Angola, 99% disseram que a principal consequência gerada pela crise económica deste país é a redução das exportações. Depois, muitos (78%) temem “problemas de tesouraria em Portugal” como resultado dos atrasos de pagamento e, também, o “regresso de muitos trabalhadores para o mercado de trabalho nacional” (72%). A indústria e o sector da construção civil surgem na linha da frente como os que podem ser mais duramente atingidos.

O mês de Janeiro ficou também marcado por uma forte descida das remessas de Angola para Portugal. Nesse período, o valor foi de 15,3 milhões de euros, ou seja, menos 24,5% face a idêntico período de 2014, e menos 8,6% em relação a Dezembro.

Já ao nível dos serviços, não se verifica o mesmo comportamento negativo evidenciado pelos bens. No mês em análise, as exportações de serviços foram de 122 milhões de euros, menos 17% face a Dezembro, mas mais 12% em termos homólogos. No entanto, verifica-se que a prestação de serviços em áreas como a construção ou reparação e manutenção são responsáveis por valores pouco expressivos e que o grosso das exportações advém dos transportes e das viagens e turismo. com Ana Rute Silva 

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