Polícia italiana desfere golpe contra máfia ‘Ndrangheta

Mega operação leva à detenção de 163 pessoas em várias regiões do país.

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Operação em Roma na semana passada culminou na detenção de 31 alegados membros da 'Ndrangheta AFP/Filippo Monteforte

Numa gigantesca operação policial que abarcou várias regiões italianas, e que o procurador Franco Roberti reputou como um “golpe histórico e sem precedentes contra a mafia”, foram cumpridos 170 mandados, apreendidos 100 milhões de euros e detidas 163 pessoas alegadamente vinculadas à ‘Ndrangheta, que se tornou o maior e mais poderoso sindicato do crime organizado do país à custa do domínio das rotas do tráfico de cocaína na Europa.

As acções desta quarta-feira, coordenadas pelo gabinete de Franco Roberti, que é o magistrado que supervisiona a unidade anti-máfia da procuradoria, comprovam a expansão da rede da ‘Ndrangheta, a organização calabresa liderada pelo clã Cutro que nos últimos 20 anos conseguiu infiltrar-se em várias classes sociais e profissionais por todo o território, e ultrapassar em importância as históricas Cosa Nostra da Sicília e a napolitana Camorra.

A maior parte das detenções (117) ocorreram em localidades do Norte do país, na região de Emilia Romagna, a mais industrializada e rica do país e que, segundo os investigadores, foi o local escolhido pelo grupo para proceder à lavagem dos lucros obtidos no tráfico da cocaína – que é importada da América Latina, passa pelo Norte de África e depois é distribuída pela Europa a partir do Sul da Itália.

Entre os detidos encontram-se pelo menos seis agentes da polícia, dois autarcas, vários advogados, empresários, consultores e um jornalista, acusados dos crimes de corrupção, extorsão, branqueamento de capitais, entre outros. Além de dinheiro, a polícia tomou posse de 200 apartamentos – a investigação, que durou quatro anos, mostrou que a lavagem de dinheiro era feita através de negócios nos sectores da construção e imobiliário. Segundo o processo, o clã chegou até a assinar contratos públicos, nomeadamente para a remoção de detritos após os terramotos de 2012 nas províncias de Modena, Bolonha e Mântua.

A operação abrangeu ainda as regiões da Lombardia, Piemonte, Veneto, Sicília e a Calábria, onde foram detidas mais 40 pessoas. A ‘Ndrangheta – o nome provém do grego e simboliza a coragem e lealdade necessárias para pertencer ao grupo – opera num sistema fechado de clã, com os seus membros a cumprirem rituais de iniciação que envolvem uma promessa de envenenamento em caso de traição.

“Não hesito em classificar esta intervenção como histórica e sem precedentes, imponente e decisiva para o combate judiciário contra a máfia. Não me recordo de nenhuma outra operação deste tipo que envolva uma organização criminosa tão forte e monolítica, e tão difícil de infiltrar”, declarou o procurador Franco Roberti à imprensa.

Na semana passada, num processo independente, a polícia italiana já tinha detido 31 indivíduos alegadamente ligados à ‘Ndrangheta em Roma. O caso envolvia uma alegada conspiração do grupo mafioso para eliminar a concorrência criminosa e fixar os preços para o tráfico de cocaína na capital.

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