Uma pequena vitória para um pequeno filme: The Interview ronda os 15 milhões de euros na web e no cinema

Filme continua sem data de estreia em Portugal mas promete ser estudo de caso sobre distribuição simultânea. Comédia já chegou à maior loja de conteúdos na Internet, o iTunes.

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No dia de Natal, muitos foram os espectadores a celebrar a liberdade de expressão com uma ida ao cinema para ver "The Interview" Kevork Djansezian/REUTERS

Do lado dos hackers, a crise parece ter amornado, a Coreia do Norte encarrega-se agora das ameaças e enquanto isso The Interview fez quase 15 milhões de euros em quatro dias. São pequenos números para um pequeno filme, mas uma vitória para a Sony que só pode crescer agora que The Interview chega também à loja da Apple. Portugal continua sem data de estreia para o filme.

As grandes cadeias de cinemas norte-americanas como a AMC, a Regal e a Carmike recusaram estrear a comédia de Seth Rogen no dia de Natal, conforme o previsto antes das ameaças evocativas do 11 de Setembro, porque quando a Sony Pictures decidiu relançar o filme depois de ter sido admoestada pelo Presidente dos EUA e pela opinião pública por ter cancelado essa estreia no dia 17, o decidiu fazer também online e em video-on-demand. Resultado: o filme estreou-se apenas em 331 ecrãs de cinemas independentes e fez pouco mais de 2,2 milhões de euros em sala nos primeiros quatro dias em sala. Deveria ter-se estreado em cerca três mil ecrãs nos EUA, lembra a Variety.  

Mas a sátira que se tornou num dos temas quentes no sector durante o último mês venceu uma batalha – não tendo o potencial de chegar a dezenas de milhares de ecrãs de cinemas, conseguiu lucrar 12,2 milhões de euros em receitas na Internet nos primeiros quatro dias, tornando-se o filme mais bem sucedido da Sony Pictures nesta plataforma. “Embora seja uma circunstância completamente sem precedentes e sem comparações adequadas, estamos muito contentes com a forma como está a correr tanto nas salas, onde estamos a ver muitas sessões esgotadas no país, e online, onde continua no cimo de muitos tops”, disse domingo em comunicado o responsável pela distribuição da Sony Pictures, Rory Bruer.

A Sony, contudo, não revelou quantos destes dois milhões de visionamentos foram vendas e quantos foram alugueres, sendo que a CNN e a revista Variety citam fontes que dizem terem sido sobretudo feitos no YouTube e no Google Play. A maior fatia das receitas deve reverter para o estúdio, embora não sejam conhecidos os termos dos contratos. Ainda assim, a revelação dos números da distribuição digital por parte da Sony é rara, porque normalmente os dados sobre o mercado de homevideo são resguardados pelos estúdios e pelos operadores.

A farsa sobre dois jornalistas contratados pela CIA para matar o líder norte-coreano Kim Jong-un tornou-se não só no aparente pomo da discórdia para os hackers identificados como Guardians of Peace, mas também num “momento-baliza para a distribuição digital de cinema”, como escreve a CNN, e os analistas prevêem que se torne mesmo um estudo de caso no sector: para o futuro dos lançamentos simultâneos de filmes em sala e nas plataformas online, algo a que os exibidores resistem por quererem manter a sua lucrativa janela de exclusividade.

Entre as bilheteiras físicas e os visionamentos online, o filme de Rogen e Evan Goldberg acabou por acumular números semelhantes aos que teria na sua estreia alargada em sala nos seus primeiros dias. “É um número gigantesco. É quase o que iria fazer em sala antes de ter sido suspenso. Fez o que seria esperado, mas de uma forma completamente diferente”, disse à Reuters o analista de bilheteira Jeff Bock, da Exhibitor Relations.

Com blockbusters como o terceiro capítulo de O Hobbit ou o inesperado sucesso do filme de Angelina Jolie Unbroken como concorrência a fazerem receitas de bilheteira de 470 milhões e 38,8 milhões de euros respectivamente, o filme do Natal americano foi mesmo The Interview. Discutido nas redes sociais, analisado pela crítica e mencionado a cada passo polémico da troca de galhardetes entre Pyongyang e Washington, muitos espectadores disseram ter ido vê-lo ao cinema em defesa da liberdade de expressão que consideraram ameaçada pelos piratas informáticos e pela decisão inicial do estúdio.

Na sexta-feira passada, Seth Rogen e Evan Goldberg surpreenderam o público do cinema Cinefamily em Los Angeles, aparecendo antes de a sessão começar, entre jornalistas e grupos que cantavam canções de Natal, para agradecer a sua presença. “Estou tão grato que o filme tenha encontrado o seu caminho até às salas, e estou entusiasmadíssimo que as pessoas tenham de facto saído de casa para o ir ver”, disse o actor, que este domingo se juntou ao seu co-protagonista James Franco e ao co-argumentista e co-realizador Evan Goldberg numa sessão de live tweeting para assinalar a chegada ao iTunes de The InterviewUma Entrevista de Loucos, título em português para um filme que até agora continua, segundo disse fonte da distribuidora Big Picture ao PÚBLICO, sem data prevista de estreia em Portugal.

Agora, a sátira que mostra a morte ficcional de Kim Jong-un e que continua a gerar problemas para a diplomacia dos dois países – os EUA atribuem à Coreia do Norte a responsabilidade do gigantesco ataque informático à Sony Pictures que desde 24 de Novembro abalou uma das majors dos estúdios de Hollywood – só pode crescer. “O elemento Apple será significativo”, defende na Reuters o analista de cinema e TV Paul Dergarabedian, da Rentrak. A maior loja online de conteúdos do mundo juntou-se domingo à tarde (hora dos EUA) ao Google Play, ao YouTube Movies, à Microsoft Xbox Video e ao próprio site da Sony na distribuição do filme. Todos cobram 5,99 dólares pelo aluguer de The Interview. A sua compra custa 14,99 dólares. Os números até aqui divulgados não incluem ainda os visionamentos via iTunes.

Tendo custado 36 milhões de euros a fazer e cerca de 25 milhões a promover, os gastos da Sony Pictures ainda estão longe de ser cobertos. De acordo com a Variety, a plataforma de streaming Netflix está também em conversações para distribuir The Interview.

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