Todos queriam ser amigos de Bernard

Bernard Madoff, o influente financeiro de Wall Street caído em desgraça com a descoberta do funcionamento fraudulento da sua conceituada companhia, iniciou-se no mundo da corretagem e banca de investimento com cinco mil dólares (3,7 mil euros) poupados durante os seus tempos como nadador-salvador, na costa de Long Island, Nova Iorque.

Criado numa família de classe média na comunidade judia de Queens, a sua ascensão é uma das muitas histórias de sucesso americano que os jornais e revistas gostam de retratar: o homem que subiu a pulso na vida, instalando sistemas de incêndio antes de abrir a sua própria financeira, em 1960, e depois se notabilizou pela sua actividade no mercado ao ponto de chegar a presidente do Nasdaq e, aos 70 anos, ser considerado um dos mais poderosos "players" de Wall Street.

Madoff não chegou a concluir a licenciatura em Direito, antes valendo-se dos seus contactos entre os judeus dos subúrbios nova-iorquinos para conduzir negócio para a sua empresa financeira. Entre a comunidade, a família é um bem tão importante quanto as habilitações - e não admira que Bernard tivesse imediatamente convocado o seu irmão Peter, que ainda hoje é o director executivo da companhia. O carácter familiar da empresa só se tornou mais evidente quando os seus dois filhos, Mark e Andrew, terminaram a universidade e também foram trabalhar com o pai.

Durante décadas, Madoff foi construindo o seu negócio e a sua "persona" graças a uma impressionante rede de contactos que alimentava com a sua requintada e agitada vida social - e todos, especialmente os mais ricos, queriam ser amigos de Bernie. Ele era o respeitado conhecedor dos meandros de Wall Street, o filantropo de causas ligadas à comunidade judaica nos Estados Unidos, o aventureiro que velejava nas Baamas, a companhia que abria as portas dos clubes de golfe mais exclusivos da América, dos Hamptons a Palm Beach.

"Estamos todos em choque. Ele era realmente como um membro da família para tanta gente", comentou à Associated Press um dos seus amigos, um grande investidor da Florida que pediu para não ser identificado. "Aqui existe esta cultura tranquila, assente em fortunas antigas, de pessoas tão ricas que para elas o mais importante não é necessariamente o comportamento do mercado mas a pessoa com quem eles lidam e com quem se identificam", explicou. Uma das suas clientes, Denise Lefrak Calicchio, com quem socializava no superprivativo Palm Beach Country Club, lamentava o escândalo à mesma agência noticiosa. "Ele e a sua mulher Ruth eram adoráveis. E óptimos jogadores de golfe!", acrescentou.

Os talentos de Bernard Madoff não se esgotavam, porém, nas suas proezas desportivas, a sua capacidade de entreter milionários com boas histórias ou a sua garantia de margens atractivas para os seus investimentos. A sua visão e "pioneirismo" no mercado continuam, apesar de tudo, a ser reconhecidas pelos seus pares: numa altura em que todas as transacções ainda eram conduzidas pelo telefone, Madoff iniciou a computadorização de todo o seu negócio. Ao automatizar a sua operação, conseguiu ganhos substantivos face aos seus competidores. Negociar em segundos, em vez de em minutos, abriu a porta a lucros espectaculares para toda a indústria.

O negócio de Madoff assentava sobretudo no seu nome, reputação de integridade e confiança e na garantia de um tratamento de exclusividade para todos os seus clientes. O seu slogan sublinhava essa relação pessoal: "É o nome do dono que está escrito na porta" da Bernard L. Madoff Investment Securities, como se lia no seu website.

Nos últimos tempos, o interesse de Bernard Madoff estava mais no crescimento da sua imagem pública de mecenas e benemérito: lançou a sua própria fundação, investindo 19 milhões de dólares em projectos de escolas e hospitais em Israel e patrocinando o Public Theater de Nova Iorque; e ganhou assento no "board" de várias instituições, como por exemplo a Yeshiva University.

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