Estudo sobre origem do autismo vence Prémio Pfizer

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O estudo identifica a prevalência do autismo em crianças em idade escolar João Abreu Miranda/Lusa

Um estudo que conclui ser "plausível" que o autismo resulte de uma interacção entre as características genéticas do indivíduo e factores do ambiente, venceu o Prémio Pfizer de Investigação Clínica 2005, que é hoje entregue em Lisboa.

Realizado por uma equipa liderada pela investigadora Guiomar Oliveira, do Hospital Pediátrico de Coimbra, o estudo identifica a prevalência do autismo em crianças em idade escolar e caracteriza as condições médicas e sociais destes alunos, concluindo que existe uma associação entre o autismo e múltiplos genes.

O autismo é uma doença do foro neurológico que se caracteriza por dificuldades de interacção social e comunicação, associadas a comportamentos repetitivos e estereotipados, cuja origem é desconhecida na maioria dos casos.

A doença possui diversos graus, que vão desde a deficiência mental severa até formas leves, nas quais os doentes têm capacidades cognitivas normais.

Intitulado "Epidemiologia das Perturbações do Espectro do Autismo em Portugal: prevalência, caracterização clínica e condições médicas associadas numa população infantil", o estudo concluiu que a prevalência global estimada das Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) nas crianças em idade escolar é 0,92 por cada mil crianças em Portugal Continental e de 1,56 por cada mil alunos nos Açores, com predomínio no sexo masculino.

Segundo os investigadores, "a prevalência de PEA obtida neste estudo está na mesma ordem de grandeza de estudos mais recentes", e as características clínicas dos doentes "são semelhantes às referidas por outros estudos".

Em termos regionais, salienta o estudo, a prevalência de PEA foi mais baixa na região Norte do que no Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Açores, o que parece reflectir "um impacto de factores genéticos que se sabem conferir características populacionais específicas a estas três regiões".

Embora a sintomatologia do autismo tenha sido assinalada nos doentes até aos três anos, os investigadores alertam que "foi detectado um elevado número de casos que, embora tendo apoios médicos e educativos, não tinha diagnóstico de autismo".

Tal, sublinham, indica a "necessidade de um maior investimento na formação" dos profissionais de saúde sobre a matéria.

Os cientistas destacam também que "mais de metade das crianças diagnosticadas frequentava escolas especiais, o que obriga a reflectir sobre a qualidade das respostas educativas".

O estudo teve como população alvo 332.808 crianças de escolas do primeiro ciclo e do ensino especial em Portugal Continental e 10.910 dos Açores, nascidas em 1990, 1991 e 1992.

Instituídos em 1956 pela Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e pela empresa farmacêutica Laboratórios Pfizer, os Prémios Pfizer de Investigação, com o valor de 15 mil euros cada, têm como objectivo impulsionar a investigação científica na área da Saúde realizada em Portugal.

A edição deste ano atribui ainda duas menções honrosas em investigação clínica, a estudos realizados por equipas lideradas, respectivamente, pelas investigadoras Susana Maia Lopes e Alexandra Matias.

Na área da investigação básica, os Prémios Pfizer foram atribuídos a três trabalhos, realizados por grupos liderados por Leonor Saúde, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), António Jacinto, do Instituto de Medicina Molecular e Marta Carapuço, da Unidade de Transgénicos do IGC.

Este ano é também instituída a Bolsa Pfizer de Investigação em Doenças Infecciosas Professor Artur Torres Pereira, no valor de 30 mil euros, atribuída a um projecto liderado por Mário Ramirez, do Laboratório de Microbiologia da Escola de Medicina de Lisboa, que pretende estudar as alterações bacterianas induzidas pela vacinação contra a meningite.

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