Adesão à greve continua a ser maior na Portugália do que na TAP

Companhia aérea só actualiza números da greve nos telejornais da hora de almoço. No primeiro dia de paralisação, mais de 80% dos passageiros chegaram ao destino.

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Na sexta-feira, realizaram-se 70% dos voos programados Daniel Rocha

Os pilotos da TAP cumprem neste sábado o segundo dia de greve. Ao início da manhã, ainda não são conhecidos números da adesão dos pilotos, nem da percentagem de voos realizados ou que ficaram por realizar. A TAP só vai fazer um primeiro balanço às 13h. Para já, só adianta algumas tendências: a adesão à greve continua a ser maior na Portugália do que na TAP.

“Não estamos ainda a avançar com números; o dia de hoje tem características diferentes”, explica ao PÚBLICO Carina Correia, da direcção de comunicação da TAP, adiantando que “há tripulantes técnicos a apresentarem-se ao serviço”, o que tem permitido realizar voos. Tal como na sexta-feira, a adesão à greve está a ser superior na Portugália do que na TAP, disse. “Para nós foi algo surpreendente [no primeiro dia de greve] e hoje continua a verificar-se”.

Na sexta-feira, esse facto surpreendeu a administração da transportadora, uma vez que a reposição de diuturnidades e o cumprimento do acordo de 1999, que deu aos pilotos direito a uma participação no capital da empresa no âmbito da privatização, são reivindicações que não se aplicam, segundo uma porta-voz da transportadora, à Portugália. Na sexta-feira, do total de 72 voos cancelados até às 17h, apenas 31 eram da TAP e os restantes 41 da Portugália. A TAP conseguiu realizar 83% dos voos que tinha programados até essa hora, contra apenas 21% da Portugália.

No primeiro de dez dias de greve, o balanço feito pelo ministro da Economia, Pires de Lima, ao início da noite, foi uma boa notícia para quem tem voos agendados para os próximos dias na transportadora: “Mais de 80% dos passageiros conseguiram chegar aos seus destinos e 70% dos voos programados foram feitos.”

A informação refere-se a uma altura, o meio da tarde, em que já tinham descolado ou ficado em terra três quartos de todas as ligações aéreas do dia, que eram pouco mais de 300. Nas declarações que produziu ao longo do dia de sexta-feira, e quando confrontado com a expectativa de uma adesão à paralisação da ordem dos 90%, o director do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), Hélder Santinhos, disse que essa percentagem se referia aos profissionais sindicalizados, e que há 300 pilotos que o não são. Entre os sindicalizados a taxa de adesão prevista estava a “verificar-se”, assegurou.

Questionado na TVI sobre se estava em cima da mesa a demissão da direcção do sindicato perante a fraca adesão à greve, respondeu que não. E desvalorizou o elevado número de ligações efectuadas, referindo que havia muitos aviões fora da base e que todos os regressos a Lisboa faziam parte dos serviços mínimos. Para o dirigente sindical, as negociações com a empresa fracassaram “porque eram uma farsa da administração da TAP, que propunha o pagamento de diuturnidades de agora até dez anos”, o que considerou “uma tentativa de enganar os pilotos”. Questionado sobre a hipótese de reatar as negociações, afirmou que o sindicato está aberto a negociar. Porém, “as portas estão fechadas por parte do Governo”, que quer “entregar ao [sector] privado” uma empresa valorizada em 200 milhões de euros à custa dos trabalhadores.

Antes, em entrevista à Antena 1, explicou que a exigência de uma percentagem do capital da empresa no processo de privatização já não faz parte das reivindicações imediatas dos pilotos: “Nas negociações que tivemos, essa questão está ultrapassada. Será discutida num momento posterior. Continuamos a acreditar que temos o legítimo direito, não digo a 10 ou 20%, mas a serem reconhecidos os salários de que abdicámos para termos essa participação. No entanto, já admitimos discutir essa questão em momento posterior, até para não prejudicar o actual processo de privatização”

Segundo o último ponto da situação da greve feito pela TAP, até às 17h tinham-se realizado 164 voos, número que incluía as ligações obrigatórias por causa dos serviços mínimos, tendo sido cancelados 72. Pires de Lima explicou que todos os voos de longo curso se efectuaram. “Não há memória de uma greve decretada pelo sindicato dos pilotos ter este nível de trabalho”, observou, antes de apelar a estes profissionais para que “continuem a trabalhar e aumentem o número de voos”, uma vez que a paralisação durará dez dias.

“Os pilotos que vieram trabalhar esta sexta-feira não fizeram nenhum favor ao Governo”, declarou também o ministro da Economia. “Virem trabalhar não significa que apoiem o Governo, ou que estejam a favor da privatização — mas que estão genuinamente preocupados com a economia do país e com o futuro da TAP”.

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