“É a primeira vez que a TAP me larga assim”

Durante a manhã do primeiro dia de greve na TAP reinou a calma no balcão da companhia, em Lisboa. Houve indignados, mas também quem aproveitasse para fazer turismo.

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O aeroporto de Lisboa na manhã desta sexta-feira Daniel Rocha
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A TAP cancelou 38 dos 156 voos programados até às 12h na sequência da greve dos pilotos. Daniel Rocha
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Desde o início da greve, à meia-noite, foram realizados 118 voos Daniel Rocha
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As greves costumam ser boas para o negócio da cafetaria ao lado do balcão da TAP Daniel Rocha
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Os clientes podem ser confrontados com o cancelamento do voo já na porta de embarque Daniel Rocha
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Os pilotos da TAP iniciaram à meia-noite uma greve de dez dias Daniel Rocha
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Os pilotos só têm de comparecer ao serviço com cerca de uma hora de antecedência Daniel Rocha

Apesar de ainda haver 18 mil passageiros da TAP com voos marcados para esta sexta-feira que não tinham até à véspera cancelado as reservas por causa da greve dos pilotos, a afluência ao balcão de apoio ao cliente da companhia no aeroporto de Lisboa manteve-se reduzida, pelo menos até meio da manhã desta sexta-feira.

A TAP cancelou 72 dos 238 voos programados até às 17h na sequência da greve dos pilotos, anunciou uma porta-voz da companhia aérea, escusando-se a comentar a adesão ao protesto. Foram realizados 164 voos, número que abrange os serviços mínimos e os regressos a Portugal, também incluídos nos serviços mínimos. "Queremos agradecer aos pilotos que hoje vieram trabalhar", declarou, citada pela agência noticiosa Lusa.

Entre a calma aparente havia no entanto alguns passageiros indignados, como o brasileiro Rolando Küng, que acusou a TAP de “deixar o passageiro por conta própria”. Passageiro frequente da transportadora há 25 anos, Küng, cuja família se divide pelo Brasil e pela Suíça, criticava o facto de não ter ligação para Zurique nesta sexta-feira e de a companhia o ter colocado num voo via Bruxelas no sábado sem lhe pagar as despesas de deslocação e alojamento: “É a primeira vez que a TAP me larga assim”.

Contratempos ao longo dos anos, por “perda de conexão ou problemas técnicos, já tive muitos, mas sempre me deram assistência quando fui obrigado a ficar em Lisboa”. Agora, queixa-se, “o que me estão a dizer é: vai embora, paga do teu bolso e só Deus sabe quando vai ser dado o reembolso”, disse ao PÚBLICO. Dupla frustração para quem, na véspera, esperou “quatro horas nos escritórios da TAP em Fortaleza para ser atendido e tentar resolver a situação”.

Frustradas, indignadas, mas ainda com disposição para sorrir para as câmaras e tirar fotografias ao aparato mediático montado em frente ao balcão da TAP, duas amigas alemãs, que tinham sido avisadas da greve pela companhia de viagens, procuravam saber o que poderá acontecer ao voo em que planeiam regressar a Frankfurt no sábado de manhã, depois de uma semana de férias. “Disseram-nos que temos de vir amanhã, que não têm informação para dar. Mas se calhar vamos ter de procurar outras companhias, porque eu tenho de trabalhar e ela tem uma criança à espera”, contou Khatarina Kay. Voltar a voar na TAP é algo que não está nos planos: “Não nos devolvem o dinheiro, dão-nos um voucher com um voo para usarmos no espaço de um ano. Mas quem é quer um voo de ida?”, questiona.

A verdade é que a greve dos pilotos não incomodou todos na mesma medida. “Queriam [a TAP] marcar-me um voo para amanhã, mas eu pedi-lhes mais um dia para conhecer a cidade e por isso vou só no domingo”, contou a equatoriana Patricia Ontanera, que mora em Miami e vai passar duas semanas em Roma. “Estou de férias, não me importo”, afirmou.

Muitos dos passageiros (vários de nacionalidade francesa e brasileira) que se dirigiram ao balcão de apoio ao cliente procuravam saber o que poderia acontecer aos voos que têm marcados para os próximos dias. Foi o caso de Gilson Cabral, da mulher e do filho pequeno. “Chegámos agora de Cabo Verde, mas no dia 6 temos voo para Amesterdão e de 6 a 14 não temos onde ficar em Lisboa”, contou ao PÚBLICO, enquanto a mulher procurava esclarecimentos junto da TAP. “Se não conseguirmos ir para Amesterdão vai ser complicado, já temos tudo marcado, hotel e bilhetes para atracções, como o Zoo”, contou. Momentos depois, já com a resposta da TAP, a incerteza mantinha-se: “Disseram-nos que não têm informação para nos dar, mas que é possível que até quarta [dia 6] já não haja greve e que por isso não vale a pena mexer nos bilhetes até domingo”.

A família Grisolia, de Belém, chegou a Lisboa num voo da TAP que saiu atrasado uma hora e meia de Fortaleza e perdeu a ligação para Frankfurt das 8h30 da manhã. “Explicaram-nos que o serviço estava lento por causa da greve e agora vamos ter voo só às 14h30. Lugar tem, mas pode atrasar de novo”, queixou-se Sandra Grisolia, calculando que a família só deverá chegar às 23h30 a Atenas, onde pretende passar uma semana, antes de uma estadia de quatro dias em Londres e outros dois em Lisboa. “A gente sempre passa dois, três dias cá, é muito gostoso”, contou. A irmã, Claudia Grisolia Cavalcanti, recorda outra peripécia em Lisboa no passado: “Também perdemos uma ligação e como havia Rock in Rio Lisboa não havia hotéis. Jogaram a gente em Setúbal, mas o motorista perdeu-se”.

Outra família brasileira, os Cunha, de volta ao Rio Grande do Sul depois de 20 dias passados entre Espanha e Portugal, preparava-se para fazer o check in "sem problemas" para o voo de regresso, sem qualquer informação de cancelamento. Souberam da greve por acaso, porque um amigo no Brasil os avisou: “O Paulinho tinha razão”.

Na cafetaria mesmo ao lado do balcão de apoio ao cliente da TAP, uma funcionária comentava a calma aparente do primeiro dia de greve, confessando que a greve costumava ser “boa para o negócio”, porque as pessoas tendem a concentrar-se ali. Mas na manhã de sexta-feira nada, a não ser pelas câmaras de televisão montadas em frente aos balcões, indiciava qualquer tumulto entre a confusão de gente e o movimento habitual de um aeroporto. “Quem é o famoso que tá chegando?”, perguntava uma turista brasileira em passo acelerado a apontar para as câmaras. “Estamos a cobrir o impacto da greve dos pilotos da TAP”, foi a resposta. “Ah. Eu venho de Roma e vou agora para Porto Alegre. Acho que tá tudo bem. Espero não contar para as estatísticas!”

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