Ricciardi acusa Morais Pires de ser "interveniente directo em graves operações financeiras"

Presidente do BESI disponível para voltar ao Parlamento.

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José Maria Ricciardi esteve no Parlamento na semana passada Miguel Manso

Depois de ter “respondido” a Marcelo Rebelo de Sousa, José Maria Ricciardi voltou na tarde desta segunda-feira a falar, desta vez para contrariar as declarações de Amílcar Morais Pires realizadas na semana passada em São Bento a declinar ter responsabilidades no descalabro do GES e do BES.

Minutos depois do ex-CFO do BES ter dado por concluída a sua audição na comissão de inquérito à gestão do grupo, em que considerou que Ricciardi tinha mais poder e mais responsabilidades do que ele próprio (Morais Pires) no colapso do banco, o presidente do BESI avisou que o ia desmentir" por estar "farto de gente desprovida de carácter que não sabe assumir as suas próprias responsabilidades”. E reagiu mesmo.

Em carta enviada nesta segunda-feira ao presidente da comissão de inquérito, Fernando Negrão, Ricciardi mostra-se “disponível” para voltar a São Bento “prestar os esclarecimentos” que forem “considerados necessários” e diz que compreende que Morais Pires, por ser  “interveniente directo em graves operações financeiras que estão a ser objecto de investigação criminal”, pretenda agora “camuflar a sua eventual responsabilidade com afirmações conclusivas sobre o meu desempenho que não resistem” ao escrutínio “documental.

Segundo o presidente do BESI, Morais Pires aproveitou a sua audição em São Bento para passar erradamente a mensagem de que não era o braço direito de Ricardo Salgado, apesar de não ter sido por acaso que o chefe do clã Espirito Santo o designou, em Junho de 2014, seu sucessor. Esta solução acabou por ser chumbada pelo Banco de Portugal.

Por outro lado, Ricciardi salienta ainda que o ex-CFO do BES foi ao Parlamento distorcer a realidade, ao dizer que nada sabia do que se passava na Espírito Santo International (ESI), dado que o pelouro do risco estava nas mãos de José Maria Ricciardi, que deixou “de ter responsabilidades efectivas” a partir de 2012, passando “a gestão efectiva do cargo” para Joaquim Goes, também da Comissão Executiva do BES.   

O banqueiro nota que a avaliação do rating (notação de risco) de Julho de 2012 da ESI - a holding familiar que desde 2008 detinha uma dívida oculta de 1300 milhões de euros - não seguiu os trâmites normais, e que Ricardo Salgado encarregou directamente o director-coordenador do departamento de risco, Carlos Calvário, de realizar o trabalho, que não foi “do conhecimento efectivo” de Joaquim Goes.  E que “não existia” no período analisado (2011) uma relação creditícia entre a ESI e o BES, não tendo sido feita nova avaliação da ESI. Uma situação que já foi explicada ao Banco de Portugal pelo próprio Carlos Calvário e era conhecida de Morais Pires, que a omitiu em São Bento.

Ao ser inquirido sobre as contas manipuladas da ESI, Morais Pires aconselhou que a pergunta fosse dirigida “ao [departamento de] risco” que era liderado por Ricciardi, “que assinou as actas [da ESI], está automaticamente responsável.” O ex-CFO garante: "Não era eu que fazia a avaliação de risco”, salientando que a auditora KPMG considerou a análise do departamento “de risco de Ricciardi como catastrófica”. 

Ricciardi evidencia ainda que, ao contrário do que o ex-CFO disse aos deputados, que não tinha responsabilidades na comercialização de produtos financeiros junto dos clientes de retalho do BES, estes são avaliados pelo departamento de gestão de poupança então liderado por Morais Pires, e que “a venda e colocação de papel comercial destinada a cobrir o buraco financeiro da ESI aos balcões do BES, que já era reveladora de um inusitado prejuízo, não foi precedida de consulta ou apreciação prévia” da direcção de risco. Ricciardi diz ainda que a decisão de vender o papel comercial aos balcões do BES era de competência de Morais Pires.

Na quarta-feira passada, o ex-CFO do BES aproveitou a sua audição na comissão de inquérito ao BES para deixar recados. Disse que "existiam pessoas muito importantes a trabalhar no banco" e uma delas era o "dr. José Maria Ricciardi", que acusou de o ter impedido de "racionalizar as estruturas dos mercados maduros", como os EUA. Para Morais Pires "só uma pessoa com poder pode bloquear" matérias desta natureza e, alegou. "Se [eu] fosse braço-direito [de Salgado], nunca seria travado numa simples medida de internacionalização." “Não é justo” que Ricciardi diga “que o seu nome constava só do papel", acrescentou ainda. E sobre o seu rótulo de braço direito de Salgado ironizou: “Eu podia ser o esquerdo ou o mindinho”, mas era Ricciardi, que era “importante": "Há os donos disto tudo. Eu não era o faz-tudo."

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