Presidente do Congresso Mundial Judaico pede a museu suíço que não aceite obras roubadas pelos nazis

Kunstmuseum de Berna ainda não deicidiu aceitar colecção de Cornelius Gurlitt. Se o fizer, diz Ronald Lauder, o Kunstmuseum passará a ser “um museu de arte roubada.

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Algumas das obras fotogradas pelas autoridades alemãs AFP

Ronald Lauder, presidente do Congresso Mundial Judaico, pediu ao Kunstmuseum de Berna, na Suíça, para não aceitar a herança de Cornelius Gurlitt, o alemão filho de um historiador e negociante de arte que colaborou com os nazis, e que escondia em casa centenas de obras de alguns dos maiores nomes da arte. Gurlitt morreu em Maio aos 81 anos e deixou estas obras ao museu suíço. Agora, Lauder avisa: receber esta colecção é arriscar-se a sofrer uma “avalanche” de processos judiciais.

Ao alemão Der Spiegel, o presidente do Congresso Mundial Judaico advertiu que receber as mais de mil obras de arte de nomes como Pablo Picasso, Claude Monet ou Henri Matisse “abrirá a caixa de Pandora e desencadeará uma avalanche de processos” por parte dos potenciais herdeiros espoliados, uma vez que a proveniência das obras não está devidamente esclarecida. “O museu prejudica-se a si e às pessoas de Berna se aceitar estas pinturas”, alerta Ronald Lauder, considerando que se tal acontecer o Kunstmuseum passará a ser “um museu de arte roubada”.

Ronald Lauder, que deu uma entrevista conjunta com a ministra da Cultura alemão Monika Grütters, aproveitou ainda a ocasião para pedir ao governo alemão que invista numa investigação às obras de arte roubadas aos judeus pelos nazis, especialmente as que estão já integradas em colecções de museus. É importante que se encontrem os seus herdeiros legítimos, defendeu.

Por sua vez, Monika Grütters fez saber que o governo alemão está já em contacto com o Kunstmuseum de Berna, o mais antigo museu da Suíça e escolhido por Cornelius Gurlitt para abrigar a colecção de arte que escondeu durante anos em sua casa. “Estou convencida de que chegaremos a uma solução boa e razoável”, disse a ministra da Cultura.

Foi no ano passado que as autoridades alemãs descobriram no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique mais de 1400 obras de arte, entre as quais se destacavam trabalhos de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir e Canalletto.

Depois disto, as autoridades descobriram que Gurlitt, filho de Hildebrand Gurlitt, famoso historiador e negociante de arte que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro a arte confiscada aos museus europeus e extorquida aos coleccionadores judeus, escondia ainda mais obras num outro apartamento, na sua propriedade em Salzburgo, Áustria. Inicialmente foram descobertas 60 peças, mas, entretanto, em comunicado, o advogado do alemão explicou que naquela vivenda estavam escondidos 238 peças de arte.

Depois de inicialmente ter demonstrado pouca vontade em devolver estas obras, Cornelius Gurlitt, que morreu em Maio, criou um site para contar toda a história das peças e para, de alguma forma, facilitar que os possíveis lesados possam encontrar os trabalhos que lhes foram tirados.

Gurlitt celebrou ainda um acordo judicial com o governo alemão, comprometendo-se a ajudar a identificar e devolver aos seus legítimos herdeiros as pinturas que tivessem sido saqueadas no período nazi. Em contrapartida, as autoridades acederam a devolver-lhe a parte da colecção que o pai teria adquirido legalmente. Uma equipa de especialistas nomeada pelo governo federal alemão e pelas autoridades bávaras já determinara que pelo menos 380 pinturas tinham sido saqueadas pelos nazis, havendo muitas outras ainda em investigação.

Houve até outras obras que foram entretanto reclamadas e por isso a colecção doada ao museu de Berna já não é a mesma que foi encontrada. A direcção do Kunstmuseum ainda não comentou às declarações de Ronald Lauder mas quando em Maio soube que Gurlitt doara a sua colecção ao museu, foi com surpresa e contentamento que reagiu.

No entanto, a decisão sobre se iriam ou não aceitar esta herança foi adiada para o final deste mês, que é quando o conselho de administração se reunirá para decidir o que é melhor para os interesses do museu.  

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