Subsídio de férias e reposição dos salários fazem disparar depósitos em Julho

Particulares reforçaram em Julho como já não acontecia há três anos, com a entrada de 2100 milhões de euros nos bancos.

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Os depósitos de empresas aumentaram 2,4% em Julho em relação ao mês anterior João Henriques

Os depósitos de particulares apresentaram em Julho um aumento expressivo de 2100 milhões de euros em relação ao mês anterior, um reforço que só tem comparação com o aumento de depósitos na mesma altura de 2011, mostram dados actualizados nesta terça-feira pelo Banco de Portugal.

Um dos efeitos que estará na base deste crescimento de 1,6% tem a ver com o pagamento integral dos subsídios de férias dos funcionários públicos e pensionistas (em Junho e Julho) e com a reposição dos salários dos trabalhadores do Estado, que até à declaração de inconstitucionalidade, de final de Maio, sofreram um corte de 2,5% a 12% (remunerações a partir dos 675 euros).

O valor dos depósitos dos particulares, que desde o final do ano passado até Abril estavam em queda, atingiu em Julho os 134.181 milhões de euros, mais 2105 milhões do que no mês anterior, e 1139 milhões acima do balanço de Julho do ano passado.

Para encontrar um reforço mensal na ordem dos 2000 milhões de euros é preciso recuar três anos, precisamente a Julho de 2011, o último ano em que os funcionários públicos tinham recebido o subsídio de férias naquela altura do ano. Um aumento desta dimensão não se verificou nem em Julho de 2012 (ano em que os subsídios foram cortados), nem no ano passado (ano em que o subsídio de férias só foi pago em Novembro, por decisão do Governo).

Rui Bernardes Serra, economista-chefe do banco Montepio, acredita que este movimento “pode ser parcialmente associado à decisão do Tribunal Constitucional relativamente aos cortes de vencimentos dos funcionários públicos e de pensões”. A reposição “começou a ser feita logo a partir de Junho”, mas nesse mês o efeito nos depósitos será apenas parcial, “sendo mais notório no mês de Julho”. De acordo com o economista, o reforço dos depósitos reflecte ainda “em grande medida a sazonalidade associada à época do ano”, não apenas pelo pagamento do subsídio de férias, mas também pela entrada de remessas de emigrantes.

No caso dos depósitos de empresas, também se registou um aumento, com o volume destes passivos das instituições financeiras a crescerem 2,4% entre Junho e Julho. O aumento foi de 682 milhões de euros, colocando os depósitos nos 29.096 milhões de euros.

Como as estatísticas do Banco de Portugal apenas traduzem o balanço total dos depósitos, os dados descontam os efeitos das movimentações de depósitos de clientes de um banco para outro, não traduzindo o impacto de eventuais desvios de depósitos de clientes do Banco Espírito Santo (BES) nas semanas de instabilidade anteriores ao resgate do banco, a 3 de Agosto.

Teresa Gil Pinheiro, economista do gabinete de estudos do BPI, acredita igualmente que este crescimento tem a ver “sobretudo com a reposição dos subsídios” e dos salários, sendo difícil perceber em que medida possa ter havido um desvio de depósitos para outros instrumentos financeiros, seja fundos de investimento, seja produtos de poupança do Estado.

Os investimentos em Certificados de Aforro e Tesouro têm estado a aumentar e mantiveram em Julho a trajectória ascendente. Os portugueses aplicaram 649 milhões de euros nestes dois instrumentos de poupança, tendo sido resgatados 62 milhões, o que dá um saldo líquido de 587 milhões.

O indicador do grau de poupança das famílias, medido pelo Instituto Nacional de Estatística no inquérito de conjuntura aos consumidores, continua em terreno negativo. O índice melhorou em Julho, tal como acontecera nos três meses anteriores, mas voltou a cair em Agosto.

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