Na aldeia dos patrões e dos sindicatos

A paz na concertação social é um trunfo de que o Governo precisa para ensaiar uma saída limpa do resgate.

Na semana em que Passos Coelho deverá finalmente anunciar a forma como o país sairá do resgate, o Governo volta a sentar-se à mesma mesa com os parceiros sociais. O Governo, que é apoiado por uma maioria no Parlamento, sabe que tão ou mais importante que o tão propalado consenso político, é necessário um entendimento a nível da concertação social.

Para os sindicatos, ainda sem se comprometer com datas e valores, o Governo já deu indicações de que irá abrir a discussão sobre o aumento do salário mínimo nacional. E o facto de ter desistido de cortar o valor das indemnizações por despedimentos ilegais, à revelia do que exigia a troika, dá-lhe um crédito adicional junto dos representantes dos trabalhadores.

Como uma espécie de moeda de troca, e para agradar os patrões, Pedro Mota Soares admitiu prolongar até ao final do ano a suspensão das normas dos contratos colectivos que prevêem uma compensação pelo pagamento do trabalho extraordinário acima do que prevê a lei. O Governo não descarta ainda poder acelerar a caducidade das convenções colectivas e mudar as regras das portarias de extensão para que estas possam ter mais em conta o peso das PME.

O Governo tenta assim “distribuir o mal pelas aldeias”, sendo que na aldeia dos patrões não deverá encontrar grandes objecções, já que até com o aumento do salário mínimo concordam. Na aldeia dos sindicatos, o Governo já percebeu que muito dificilmente fará um acordo com a CGTP. E não é por acaso que ontem Mota Soares veio dizer que “foi extremamente sensível à posição da UGT”. Resta saber se a UGT estará “sensível” aos argumentos do Governo. Um acordo com os sindicatos e patrões não é por si só uma garantia de paz social, mas já é meio caminho andado. E sem a muleta da troika, mais importante será.
 

  



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