Privatização da TAP no radar de investidores e oposição

Governo só relançará venda da companhia quando houver certezas de que será bem sucedido.

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Ministro da Economia já mostrou preferência por modelo em que o Estado mantenha uma participação na TAP Rui Gaudêncio

Onde há fumo há fogo. Nos últimos dias, investidores e partidos da oposição têm vindo a público falar sobre a TAP. Os primeiros sentiram necessidade de confirmar o interesse na compra da companhia. E os segundos vontade de reiterar a resistência à privatização da empresa. Posições que parecem contrariar a aparente serenidade do Governo, que só relançará o processo se for certo que chegará a bom destino. E, sobretudo, que não terá impactos negativos nos resultados das próximas legislativas, no Outono de 2015.

Desde o início deste ano, o executivo tem vindo a trabalhar com maior intensidade neste dossier, depois de a primeira tentativa de vender a transportadora aérea ter fracasso, em Dezembro de 2012, com a rejeição da oferta de Gérman Efromovich. Um dos investidores interessados e que logo em Janeiro foi conhecido, o consórcio que junta Miguel Pais do Amaral e Frank Lorenzo, veio no sábado garantir que fará em breve uma oferta por 100% da companhia, sem clarificar, no entanto, se está interessado apenas no negócio da aviação ou na totalidade do grupo (incluindo a deficitária unidade de manutenção no Brasil).

A dúvida persiste sobre se esta proposta agradará ao Governo, visto que a posição do ministro da Economia já é conhecida: vender a TAP em bloco, mas não a totalidade da participação. Talvez por isso o executivo sinta que não está ainda em condições de avançar com o processo, tendo surgido movimentações de um novo consórcio. De acordo com o Expresso, trata-se de um grupo empresarial com sede em Luanda, associado a várias empresas do Médio Oriente e com interesse em adquirir 49% da companhia.

O certo é que o burburinho fez soar os alarmes da oposição, desde sempre contra a privatização da transportadora aérea do Estado, que faz parte do programa acordado com a troika, mas já é prometida sem desfecho positivo por sucessivos há mais de duas décadas.

As reacções começaram, no sábado, pelo Bloco de Esquerda. Catarina Martins, coordenadora do partido, veio pedir ao Governo que suspenda a venda “do que é estratégico”, acrescentando, citada pela Lusa, que “o que está a acontecer na TAP [os problemas na operação] é provocado pela tentativa de privatização, em vez de existir uma estratégia de defesa da companhia aérea nacional”.

Seguiu-se o secretário-geral do PS, que voltou a defender que a injecção de dinheiro fresco na empresa poderia conseguir-se através de “capitais oriundos da lusofonia, designadamente Angola, Moçambique e Brasil”. “Luto muito para que esta TAP não seja privatizada e possa ser transformada numa empresa da lusofonia”, insistiu António José Seguro.

O outro candidato às primárias socialistas, António Costa, abordou igualmente o tema numa das suas iniciativas do fim-de-semana. No encerramento da sua Convenção “Mobilizar Portugal”, o autarca apresentou a companhia como um exemplo de falta de rumo para o país. “O Governo pensou que não era preciso uma estratégia para Portugal”, denunciou sábado em Aveiro. E citou, entre outros casos, a situação da empresa estatal. “Se tivesse uma visão estratégia para a lusofonia devia ter valorizado a TAP”, acusou. Com Nuno Sá Lourenço

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