Líderes do BPI e da Galp são os que têm mais dinheiro em acções das empresas que lideram

Fernando Ulrich tem mais de 2,7 milhões de euros em acções e lidera a lista de dez executivos que, não sendo os donos das empresas, detêm títulos, seguido por Ferreira de Oliveira, da Galp. Acções são incluídas em planos de remuneração em apenas duas das empresas analisadas.

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Fernando Ulrich é o gestor, da lista analisada pelo PÚBLICO, que ocupa há mais tempo a cadeira de CEO RICARDO BRITO

Os presidentes executivos do BPI, da Galp Energia e do BCP são os três gestores do PSI 20 que mais dinheiro têm em acções das empresas que lideram. Fernando Ulrich, líder do BPI, encabeça a lista elaborada pelo PÚBLICO com base nas informações disponíveis nos relatórios e contas de 2013 e na informação prestada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em 2014. Nesta análise, foram excluídos os gestores que são simultaneamente donos das cotadas no principal índice da Bolsa de Lisboa, agora com 18 empresas, como Paulo Azevedo, CEO da Sonae ou Paulo Fernandes, da Cofina e da Altri.

No total, há 12 gestores que não são empresários e, destes, dez detêm acções. A grande maioria comprou por sua iniciativa as acções. Apenas dois (Miguel Almeida, da Nos, e Fernando Ulrich) recebem acções no âmbito de um plano de remuneração.

No fecho da sessão de sexta-feira, as acções do BPI encerraram a 1,33 euros (já valeram mais), o que representa 2,7 milhões de euros em títulos nas mãos do CEO. O banqueiro tem mais do dobro do segundo executivo do ranking, Manuel Ferreira de Oliveira, da Galp Energia, com 1,1 milhões euros em acções, e quase onze vezes mais que Nuno Amado, do BCP (254,2 mil euros).

Há dois factores que ajudam a explicar a primazia de Fernando Ulrich entre os outros presidentes executivos. Além da sua longevidade no banco (entrou para o banco logo no começo da instituição, em 1983), é, da lista analisada pelo PÚBLICO, o CEO que está há mais tempo na actual função (desde 2004). Outro é o facto de o BPI ter uma política de Remuneração Variável de Acções (RVA), o que facilita a aquisição de títulos do banco, já que recebe acções em vez de dinheiro como prémio pelo desempenho e objectivos alcançados. A RVA foi alvo de alterações em 2011. O PÚBLICO colocou questões a Fernando Ulrich para saber, nomeadamente, se foram adquiridas acções fora do regime de RVA, mas não foi possível obter uma resposta. Certo é que, pelo menos desde Dezembro de 2012, o CEO do BPI não se desfez de qualquer título.

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Presidente executivo da Galp Energia desde Janeiro de 2007 e administrador desde Abril de 2006, Ferreira de Oliveira ocupa o segundo lugar nesta tabela e tem um total de 85.640 acções da petrolífera portuguesa, exactamente as mesmas que em 2012. No ano passado, o CEO não comprou nem alienou os títulos que valem, por esta altura, mais de 1,1 milhões de euros. A empresa não tem planos de atribuição de acções, nem opções de aquisição de acções pelo que o executivo, que antes liderou a cervejeira Unicer, investiu a nível pessoal na companhia. “A compra de acções, que tenho feito ao longo do tempo a um preço médio de 12,8 euros por acção, é um investimento pessoal que manifesta a minha confiança no futuro da empresa”, disse ao PÚBLICO, por e-mail.

Nuno Amado, o actual CEO do Millennium bcp, está a o terceiro lugar com 2,8 milhões de acções da instituição financeira, avaliadas em 254.218 euros, um valor que não é muito expressivo devido à baixa cotação do título (0,09 euros). Em Dezembro de 2013 o gestor, que veio do Santander Totta (de onde saiu no início de 2012), detinha pouco mais de um milhão de acções. O reforço ocorreu no último aumento de capital da instituição, em Julho. Nessa altura, Nuno Amado subscreveu mais 1821 mil títulos, subindo a sua posição final no Millennium bcp para as actuais 2.824.650 acções. Também foram enviadas questões ao gestor, mas não foi possível obter resposta.

Incluir acções no plano de remuneração de um executivo é uma prática comum nas grandes empresas europeias, como forma de incentivar os gestores a cumprirem os objectivos, já que passam a ter um interesse directo nos bons resultados financeiros.

Contudo, e como diz Tânia Silva, responsável pelos estudos salariais do Hay Group, a prática de premiar através de stock options (quando é dado ao executivo a opção de comprar acções por determinado preço num determinado período de tempo ou data) tem caído em desuso, sobretudo, desde a crise financeira de 2008 e devido à volatilidade dos mercados. As formas de atribuir acções têm mudado e incluem, agora, as chamadas “performance shares”. Neste caso, os títulos são oferecidos ao executivo se ele atingir as metas delineadas durante um determinado período.

Tiago Borges, responsável pela área de estudos de mercado e de compensações da consultora Mercer, sublinha que em Portugal não há muito o hábito de remunerar em acções. Em vez disso, os CEO recebem bónus diferido em dinheiro, sujeito a cláusulas e numa “óptica de gestão de risco”.

Por outro lado, um gestor que compra directamente as acções, sem que haja um pacote de incentivos, pode querer “demonstrar o seu compromisso” para com a empresa. “Quando não há, obviamente, qualquer indicação sobre o aproveitamento de informação privilegiada, pode ser um sinal de que acredita no trabalho que faz e que existe um potencial de valorização das acções que comprou”, analisa Tiago Borges. Ou seja, o CEO está disposto a gastar o seu dinheiro na empresa que lidera, mostrando ao mercado “que acredita no potencial” da organização.

Tânia Silva, responsável pelos estudos salariais do Hay Group, faz uma ressalva: “Não nos podemos esquecer que cada um tem o seu próprio perfil de risco, e este aspecto é determinante nas decisões de investimento, especialmente no mercado financeiro, caracterizado pela sua volatilidade e reactividade”.

Poucas acções no salário
Uma das poucas empresas a incluir os títulos na componente variável do salário é a Nos, que  Miguel Almeida passou a gerir depois da fusão entre a Optimus e a Zon. Em Junho o CEO de 47 anos tinha um total de 64.859 acções, então a um preço unitário de 4,97 euros. A atribuição, cujo valor rondava os 322 mil euros, foi feita ao abrigo do regulamento sobre remuneração variável de curto e médio prazo, que a assembleia geral da Zon Optimus aprovou em Abril. À cotação actual, o presidente executivo da operadora tem agora 280.839 euros em acções e está em quarto lugar nesta análise.

O quinto executivo com mais dinheiro em acções é Jorge Tomé, que assumiu a liderança do Banif em Março de 2012, vindo do grupo Caixa Geral de Depósitos. No final de 2013 detinha 8344 mil títulos do banco. Estas foram adquiridas no âmbito da Oferta Pública de Subscrição que decorreu em Julho de 2013. Já este ano, em Junho, o gestor reforçou a posição, no quadro do aumento de capital do Banif. Nessa altura, Jorge Tomé adquiriu mais 7152 mil títulos, com o preço unitário de 0,01 euros. Agora, a sua posição é de 15.995.780 acções, que correspondem a 159.957 euros. Jorge Tomé aplicou ainda dinheiro em obrigações do Banif, ficando com uma posição final, em Novembro de 2013, avaliada em 175 mil euros.

Sem ter comprado ou vendido acções desde final de 2012, o presidente executivo da EDP António Mexia, 56 anos, tem 41 mil títulos da empresa, as mesmas que tinha no final de 2012.Está na sexta posição com títulos no valor de 143.910 euros e também é dono de 4200 acções da EDP Renováveis. Segue-se Gonçalo Moura Martins, da Mota Engil, que ascendeu à presidência da comissão executiva em Janeiro de 2013. Tem 12.435 acções, avaliadas em 53.719 euros.  

Pouco mais de metade desse valor (27.533 euros) é detido por Emídio Rui Vilar, líder da REN. Comprou dez mil acções em Junho deste ano a um preço unitário de 2,68 euros. A compra aconteceu no âmbito da oferta pública de venda (OPV) na qual o Estado alienou os 11% de capital que ainda detinha. O mesmo aconteceu com Francisco Lacerda, 53 anos, e reconduzido no cargo de CEO dos CTT a 24 de Março deste ano. A empresa não tem em vigor qualquer plano de atribuição de acções ou de opção de compra de acções, mas no âmbito do processo de OPV comprou 3110 acções, agora avaliadas em mais de 24.226 euros.

O presidente demissionário da PT, Henrique Granadeiro, 70 anos, tem apenas uma participação simbólica de 150 acções. Granadeiro, que assumiu o lugar deixado vago por Zeinal Bava, quando este foi no ano passado para a brasileira Oi, apresentou a demissão este mês, na sequência do investimento de 870 milhões de euros feito pela PT em papel comercial da Rioforte, empresa do Grupo Espírito Santo que não reembolsou a operadora.

Na lista, estão ainda João Manso Neto, CEO da EDP Renováveis, e Diogo da Silveira, da Portucel que não detêm, até ao momento, acções. Este último está no cargo apenas desde Fevereiro deste ano, enquanto Manso Neto inicou funções como presidente executivo da EDPR em Fevereiro de 2012.

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