Depois do "Brexit", a presidente da Bolsa não arrisca previsões sobre o PSI-20

Presidente da Euronext Lisboa avisa que os ecos do "Brexit" vão chegar aos vários sectores de actividade. No curto prazo, as atenções vão para o sector financeiro.

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As bolsas tiveram um dia de quedas, com o PSI-20 a perder 6,99% THOMAS SAMSON/AFP

Os indicadores fundamentais das empresas cotadas na Bolsa de Lisboa eram “sólidos”, mas a saída do Reino Unido da União Europeia, ditada pelo referendo desta quinta-feira, veio deixar um vazio sobre o futuro. O impacto da decisão “ainda está por ser conhecido em pleno” e, num dia em que o PSI-20 devalorizou quase 7%, a presidente da administração da Euronext Lisboa, Maria João Carioca, não arrisca fazer previsões sobre a evolução da praça portuguesa no médio-longo prazo.

“Não consigo ter a audácia de fazer perspectivas muito fechadas nesta altura”, afirma a gestora, vincando ser “muito cedo” para saber se o principal índice português ainda pode recuperar até ao final do ano (desde Janeiro já acumula uma desvalorização de 18%). “Não consigo ter um grau de certeza para lhe afirmar uma projecção”, reage ao PÚBLICO.

Este foi apenas o dia seguinte. Agora que a decisão do “Brexit” está tomada mas o processo de negociação para a saída da UE é ainda uma incógnita, Maria João Carioca admite que os ecos do “Leave” vão fazer sentir-se em todos os sectores de actividade presentes no mercado de capitais. Num primeiro momento, enquadra, a pressão recai sobre o sector bancário, mas porque o grau de integração actual entre o Reino Unido e a UE tem um impacto muito abrangente na economia, “todos os sectores vão sentir os ecos”. Carioca espera que a “incerteza no mercado possa ir abrandando”, de forma a que os investimentos e os agentes de mercado “possam ir convergindo para uma situação de normalidade”.

No dia em que a Europa acordou com o Brexit consumado, as negociações foram especialmente negativas nas bolsas europeias, com quedas acentuadas e volatilidade nos volumes de transacções. Em Lisboa, a preocupação da operadora bolsista num primeiro momento foi “garantir que o mercado tinha todas as condições para funcionar dentro da reacção expectável”. “Não houve nenhum episódio a assinalar; correu tudo dentro da normalidade possível. Houve suspensões momentâneas nalguns títulos a nível internacional, mas tudo foi recuperado num curto espaço de tempo”.

O mercado londrino acabou por cair menos na sessão desta sexta-feira do que outras praças europeias. O principal índice da City, o FTSE 100, caiu 3,15%, mas na Europa continental o dia de negociações terminou num tom bem mais pessimista, com Paris a encolher 8%, Frankfurt a recuar quase 7% e Madrid e Milão a perderem mais de 12%.

Para a gestora da bolsa portuguesa, a recuperação que se sentiu na City à medida que se aproximava a hora de fecho dos mercados teve a ver, em parte, com “o que já era a formação de expectativas anterior ao resultado” do referendo. Por outro lado, entende, as quedas mais expressivas nas outras praças não estão desligadas do facto de a Europa assistir à “saída de um membro de peso significativo na União”.

Em curso está uma grande operação de fusão entre as gestoras das bolsas de Londres e Frankfurt (London Stock Exchange e a Deutsche Börse), que as duas empresas já vieram reafirmar nesta sexta-feira, garantindo que o processo se mantém de pé. Para Maria João Carioca, o casamento entre os dois grupos, concorrentes da Euronext, “fica ainda mais necessitado de um escrutínio cuidado”. A concentração de “cerca de 40% do volume transaccionado de títulos em euros” na City deve ser repensada, afirma. Com o Reino Unido dentro da UE, embora fora do euro, “essa situação estava acolhida e tinha conforto”, mas deixando de fazer parte da UE, o peso da City tem de ser reavaliado com cuidado”.

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