Sociedade criada para gerir activos tóxicos do BPN com prejuízo de 308 milhões

Parvalorem piora contas. Parups derrete 3,2 milhões de moedas comemorativas do Euro 2004.

Foto
Venda do BPN ao BIC pode ser impugnada por falta de um parecer Sara Matos

A Parvalorem, uma das três holdings criadas para gerir os activos tóxicos do BPN após a sua nacionalização em 2008, teve um prejuízo de 308 milhões de euros no ano passado. Este valor, somado aos resultados transitados dos anos anteriores (-3078 milhões), levou a que os capitais próprios se afundassem ainda mais, estando agora negativos em 3386 milhões de euros (o capital social é residual).

De acordo com o relatório e contas (R&C) de 2014, aprovado nesta quinta-feira em assembleia-geral, o passivo é agora de 4407 milhões, do qual a maior parte diz respeito a financiamentos e empréstimos obrigacionistas. O acréscimo de 63 milhões de euros está ligado à transferência de dinheiro por parte da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças “para fazer face ao serviço da dívida do passivo financeiro, incluindo as amortizações parciais” que ocorreram no ano passado.

“Nos últimos exercícios e face ao considerável esforço de economia e obtenção de receitas através da alienação de activos, não foi possível, por manifesta impossibilidade, obter meios para suportar todo o pagamento de juros e encargos que estimamos em cerca de 535 milhões de euros de 2011 até à data”, escreve o presidente do conselho de administração da Parvalorem, Francisco Nogueira Leite.

A empresa, que gere uma carteira de títulos e de créditos herdados do BPN (onde se inclui o acervo de quadros Miró), bem como um conjunto de imóveis cuja missão é a sua revenda (e respectivo encaixe), tem cortado no número de trabalhadores, ao mesmo tempo que recorreu a duas entidades externas para darem apoio na recuperação de créditos.

Envolvida em cerca de 10.000 processos judiciais, a Parvalorem destaca que em 2014 conseguiu recuperar 138 milhões em dinheiro e promoveu 221 “reestruturações de crédito no montante global de 695,6 milhões de euros”, além de ter recebido 220 novos imóveis.

Buraco a crescer
Além da Parvalorem, existem ainda a Parups e a Parparticipadas. Esta última alienou, no ano passado, a BPN Crédito à Firmus, recebendo em troca 36 milhões de euros. Na véspera da venda, o Tesouro tinha injectado 37,5 milhões na empresa. Entre vários assuntos por resolver está a alienação do Banco Efisa, que esteve quase para acontecer no ano passado. No entanto, a operação não chegou a realizar-se. No R&C de 2014, que foi também aprovado esta quinta-feira, tal como o da Parups, os responsáveis da Parparticipadas dizem esperar que a alienação do Efisa ocorra ainda este ano.

A empresa adianta que o Estado aplicou 37,5 milhões na Parparticipadas para reforçar o capital do Efisa, e, já este, ano foram aplicados mais 15 milhões, com o objectivo de reembolsar parte de duas linhas de crédito cedidas pelo BPN (hoje BIC) ao banco problemático. Sobre a venda, a Parparticipadas refere que "estão em curso as negociações" com o  investidor "relativamente à minuta do contrato de promessa de compra e venda".

Já o BPN Brasil, cuja venda ao BIC Angola foi anunciada em 2013, está ainda dependente "dependente da obtenção das autorizações aplicáveis, nomeadamente, do Banco Central do Brasil". Até que tal aconteça, o negócio está suspenso.

A Parparticipadas teve um prejuízo de 5,4 milhões no ano passado, e, no final de 2014, contava com capitais próprios negativos de 144 milhões de euros. No caso da Parups, esta perdeu 74,5 milhões e os capitais próprios estavam negativos em 795 milhões de euros. Uma das fontes de receita desta empresa foi a destruição e fundição de 3,2 milhões de moedas comemorativas do Euro 2004, para venda, operação que gerou um encaixe de 15,7 milhões de euros.

Alertas do Tribunal de Contas
Em Agosto do ano passado, o Tribunal de Contas alertou que, até ao final de 2012, as perdas líquidas efectivas do Estado com o BPN estavam contabilizadas em 2202,5 milhões de euros. Este organismo destacou então que, em 2013, “a Parups e a Parvalorem haviam orçamentado, em passivos financeiros, para reembolso à CGD, 3685,3 milhões, tendo a execução sido de 397,1 milhões de euros”.  “Da mesma forma”, acrescentou o relatório, “para as duas sociedades foi orçamentado 3739,8 milhões de empréstimos do Estado e concedidos 510,5 milhões”.

A factura com o BPN tende subir de ano para ano, mas só haverá valores definitivos quando já não houver nada para vender ou recuperar, e tenham sido reconhecidas todas as perdas.

Sugerir correcção
Comentar