OCDE revê em baixa previsões de crescimento da zona euro

Risco de deflação continua a ser uma das principais ameaças à economia europeia.

Foto
Angel Gurría é o director-geral da OCDE AFP PHOTO / ERIC PIERMONT

A recuperação da zona euro “mantém-se decepcionante”, particularmente no caso da Alemanha, França e Itália, e a baixa inflação nos países da moeda única continua a ser uma das principais ameaças ao crescimento da procura, recuperação económica e criação de emprego, revelou nesta terça-feira a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no relatório com as previsões intercalares de crescimento das principais economias mundiais. A organização reviu por isso em baixa as previsões de crescimento da zona euro para 2014, de 1,2% (apontados no relatório de Maio) para 0,8%.

Esta visão pessimista reflecte-se também nas perspectivas de crescimento dos países do euro em 2015. Se em Maio a OCDE antecipava um crescimento de 1,7% no próximo ano, actualmente aponta para 1,1%.

Mostrando-se desiludida com a evolução económica das principais economias da zona euro, Alemanha, França e Itália, a OCDE refere que “a confiança está novamente a enfraquecer e que o comportamento anémico da procura reflecte-se na queda da inflação, que está perto de zero na zona euro como um todo, mas já em níveis negativos em diversas economias”. Uma eventual situação de deflação poderá “perpetuar a estagnação económica e agravar o fardo da dívida”, alerta a OCDE.

E embora o “crescimento verificado em alguns países periféricos seja encorajador”, alguns destas economias enfrentam ainda “desafios estruturais e fiscais” e elevados níveis de dívida, acrescenta a organização.

No relatório que disponibiliza apenas projecções para as principais economias, a OCDE antevê que a Alemanha cresça 1,5% em 2014 e em 2015; França deverá crescer 0,4% em 2014 e 1% no próximo ano, enquanto a economia Itália deverá recuar 0,4% este ano e subir apenas 0,1% em 2015.

Quanto aos Estados Unidos, embora refira que a recuperação é sólida e que os efeitos positivos vão continuar a sentir-se ao nível do mercado de trabalho e do investimento das empresas, as estimativas de crescimento para 2014 e 2015 foram igualmente revistas em baixa para 2,1% (de 2,6%) e 3,1% (3,5%), respectivamente.

A OCDE sublinha que a recuperação económica se mantém a um ritmo moderado em termos globais e destaca que o crescimento baixo significa que o mercado de trabalho continua débil, “especialmente na zona euro”, e que o comércio mundial continua fraco.

A organização antecipa que o crescimento global “seja mais vigoroso na segunda metade de 2014 e em 2015”, como resultado das políticas económicas, do aumento do emprego e de melhores condições financeiras, mas destaca que as perspectivas futuras são desiguais para as diferentes regiões do globo. 

A OCDE espera que o crescimento económico seja suficientemente forte para baixar o desemprego nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. No Japão, onde o desemprego já está em níveis reduzidos, a economia vai crescer em linha com o seu potencial (0,9% este ano e 1,1% em 2015), enquanto na China, continuará a ajustar para níveis de crescimento ainda altos, mas mais sustentáveis (7,4% em 2014 e 7,3% em 2015).

A OCDE aponta ainda para a recuperação na Índia (5,7% neste ano e 5,9% no próximo), mas refere que o Brasil, que entrou em recessão no primeiro semestre deste ano, viverá apenas “uma modesta recuperação”. Face à incerteza quanto à orientação política do país que vai a eleições presidenciais no próximo mês, as empresas continuam a retrair o investimento, pelo que o crescimento será modesto, de 0,3% este ano e de 1,4% em 2015.

Sugerir correcção
Comentar