Mercados respiram de alívio com o “não” escocês

Bolsas europeias sobem e a libra valoriza contra o euro e o dólar com a derrota das aspirações independentistas no referendo escocês.

Foto
Escoceses escolheram ficar no Reino Unido

É um “não” que vale “sim” para os mercados. Os investidores respiram de alívio e os principais índices europeus negoceiam em alta poucas horas depois de serem conhecidos os resultados do referendo escocês em que 55% dos eleitores rejeitaram a independência do país.

O índice de referência britânico, o Footsie, disparou para um máximo de duas semanas e os restantes mercados europeus foram atrás, com destaque para a bolsa espanhola (Ibex 35), sobre a qual paira também a ameaça da independência da Catalunha. A meio da manhã desta sexta-feira, o Footsie subia 0,73%, enquanto o Ibex 35 valorizava 1,28%. Em Frankfurt e Paris, o Dax e o Cac40 valorizavam 0,82% e 0,48%, respectivamente. Em Lisboa, o PSI 20 valorizava 0,36%, com as acções da banca em destaque.

Além da derrota do “sim” escocês, a negociação nas bolsas reflectia ainda o sucesso da oferta pública inicial (IPO na sigla inglesa) da gigante chinesa de comércio electrónico Alibaba. A operação atingiu os 22.000 milhões de dólares (cerca de 17,1 mil milhões de euros), destacando-se como a maior de sempre em Wall Street. “Hoje estou feliz, toda a gente está feliz hoje”, disse à Reuters um analista da Hermes Fund Manager, sedeada em Londres. “Temos a Escócia, a Alibaba é fenomenal, o que poderíamos querer mais?”, sintetizou.

A vitória do “não” também fez disparar a libra nos mercados de divisas. A moeda britânica disparou para um máximo de dois anos face ao euro e a Bloomberg escreve mesmo que “a libra recuperou a sua coroa como a moeda campeã entre as principais divisas”, valorizando-se contra todas elas nos últimos 12 meses.

Para trás fica a queda de cerca de 1% da última semana, em que a libra tremeu perante as sondagens que davam vantagem ao movimento independentista. Com o voto contra de 55% dos eleitores escoceses, a moeda britânica vai a caminho da sua maior valorização contra o dólar desde Fevereiro, escreve ainda a Bloomberg. A meio da manhã, a libra estava a valer 1,64 dólares e 1,276 euros.

As reacções também vieram do lado da banca, com o Lloyds e o Royal Bank of Scotland (RBS) a reforçarem o seu compromisso para com o mercado escocês. O RBS tinha mesmo ameaçado mudar a sua sede de Edimburgo, caso o movimento independentista ganhasse.

Mantendo-se intacta a união britânica de três séculos tudo fica como antes. “O anúncio que fizemos sobre mudar a nossa sede para Inglaterra fez parte de um plano de contingência para dar certezas e garantir estabilidade aos nossos clientes, colaboradores e accionistas, caso o ‘sim’ ganhasse”, afirmou um porta-voz do banco, pouco depois de serem conhecidos os resultados do referendo, segundo a emissora irlandesa RTE News. “O plano de contingência já não é necessário”, acrescentou o mesmo responsável.

Já a Royal Dutch Shell emitiu um comunicado, citado pela Reuters, em que se congratula com o resultado do referendo, considerando que "reduz a incerteza para os negócios instalados na Escócia".

 

 

 

Tal como a Standard and Poor’s, também a Fitch veio assegurar que o rating britânico se manterá inalterado face ao resultado do referendo. Em comunicado, a agência anunciou também que uma eventual atribuição de maior autonomia fiscal à Escócia não terá impacto sobre a notação financeira atribuída ao Reino Unido (a Fitch desceu há 18 meses o rating britânico para AA+ – o segundo grau mais elevado -, com tendência estável).

 

 

 

 

Além do interesse que o referendo escocês despertou nos espanhóis devido às pretensões independentistas dos catalães, que vão às urnas a 9 de Novembro, a derrota do “sim” na Escócia também deverá reflectir-se favoravelmente sobre empresas espanholas com interesses no país. Segundo o jornal espanhol Expansión, os activos de grandes empresas espanholas como a Iberdrola (dona da Scottish Power), o Santander (que tem uma carteira de crédito de 8 mil milhões de libras na Escócia) e a Telefónica (que é dona da operadora O2, que tem cerca de 8% dos clientes no país) ascendem a 25 mil milhões de libras (mais de 31 mil milhões de euros).

No caso da Iberdrola, as acções chegaram a desvalorizar cerca de 3% em bolsa nas últimas semanas, devido aos receios de que a independência escocesa provocasse grandes alterações ao enquadramento regulatório e ao funcionamento do sistema eléctrico britânico.

Sugerir correcção
Comentar