Hollande chamou Nathalie ao Eliseu para ouvir falar de experiências de desemprego

França tem mais de três milhões de pessoas à procura de trabalho. Nathalie Michaud, uma desempregada de longa duração, quis contar a sua experiência ao Presidente. Em Agosto, interpelou-o à porta de um centro de emprego. Agora, foi recebida no Palácio do Eliseu.

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Hollande, aqui no Palácio do Eliseu, foi confrontado com várias questões sobre o desemprego de longa duração BERTRAND LANGLOIS/AFP

La Roche-sur-Yon, 7 de Agosto. Nathalie Michaud esperou pela chegada de François Hollande ao centro de emprego daquela cidade no Oeste francês para o interpelar. “O que pensa fazer com as pessoas como eu?” Nathalie, 52 anos, desempregada de longa duração, foi obrigada a regressar a casa dos pais para ali viver com o filho. Num ápice, foi directa ao Presidente e contou a sua história. Hollande mostrou-se embaraçado e parco nas palavras.

Agora soube-se que Nathalie foi, dias depois, discretamente chamada ao Palácio do Eliseu para ser recebida pelo Presidente francês. “Fui ouvida, entendida, compreendida”, diz. O encontro era para ficar em segredo, mas a história veio parar à estampa na edição desta sexta-feira do jornal Le Parisien e acabou por ser confirmada por Nathalie Michaud, que, sabendo que a informação viria a público hoje, se antecipou ao jornal e contou a sua versão ontem à noite no blogue pessoal Os Mendigos de Emprego.

“Porquê este encontro? Porque disse na imprensa e nas reportagens televisivas [depois de interpelar o Presidente francês] que estava disposta a encontrar-me com ele para lhe falar do problema do desemprego dos ‘seniores’ e da discriminação pela idade de que actualmente todos nós somos vítimas, e cada vez mais”, escreve.

No perfil que o Le Monde fez dias depois da mediática interpelação ao Presidente em La Roche-sur-Yon, o jornal reflectia sobre a experiência que Nathalie Michaud – uma “simpatizante socialista” – quis expor a François Hollande e o facto de este ter eleito o desemprego como um combate prioritário num país onde há mais de três milhões de pessoas à procura de emprego.

Nathalie, formada em Psicologia, está sem trabalho desde 2011. Depois de 13 anos no estrangeiro, regressou a França em 2000 e a partir daí foi saltando de emprego em emprego, com contratos de trabalho a prazo, até ficar desempregada aos 50 anos.
Contou ao Le Monde sobre o momento em que se dirigiu a Hollande: “Não fui mendigar um emprego, apenas dizer umas palavras ao Presidente sobre os mais velhos. Faz bem em preocupar-se com [os desempregados] jovens, mas, para nós que temos ainda 15 anos [para estar no mercado de trabalho], que medidas são tomadas?”

Depois disso escreveu ao Presidente. E foi chamada ao Eliseu, para uma reunião “confidencial” a 30 de Agosto, que deixou de o ser porque – diz Nathalie Michaud – terá havido uma fuga de informação do lado da Presidência da República.

Quando foi recebida, a 30 de Agosto, tinha conseguido um emprego a tempo parcial como supervisora numa escola por 500 euros mensais (mas a oferta de emprego aconteceu mesmo antes de interpelar o Presidente no início de Agosto, esclareceu à AFP).

Ao falar cara a cara com o Presidente, diz poder ter dado um testemunho real a quem tem responsabilidades políticas. “Estive com uma pessoa que ouviu as nossas queixas, a quem pude falar do problema do desemprego das pessoas de 50 anos, das nossas dificuldades, dos nossos combates do dia-a-dia, do nosso desespero em relação ao futuro, [do facto] de estarmos continuamente reprimidos, de os nossos CV serem certamente atirados para o lixo e, sobretudo, do facto de ninguém se preocupar connosco.”

Durante a meia hora que passou com o Presidente, diz, sentiu-se “ouvida, entendida, compreendida”. “E isso é importante.”
 
 
 

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