EUA exigem auditoria independente às dívidas de Moçambique

Grupo de 14 doadores do Orçamento do Estado moçambicano já suspendeu os seus pagamentos ao país.

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O Presidente moçambicano, Felipe Nyusi AFP PHOTO/GIANLUIGI GUERCIA

O embaixador dos EUA em Maputo considerou nesta sexta-feira que a confiança dos parceiros internacionais em Moçambique só poderá ser restituída com uma auditoria judicial internacional para averiguar as chamadas dívidas escondidas.

"A confiança dos parceiros internacionais é baixa e nós acreditamos, sinceramente, que é necessário uma auditoria forense internacional", disse Dean Pittman, falando à imprensa após uma audiência com Presidente moçambicano, Felipe Nyusi.

Juntando-se à alta-comissária do Reino Unido, Joanna Kuenssberg, que exigiu na quarta-feira uma auditoria judicial internacional para averiguar as dívidas fora das contas públicas contraídas à revelia da Assembleia da República, entre 2013 e 2014, Dean Pittman disse que a situação económica de Moçambique é preocupante.

Para o diplomata norte-americano, uma auditoria independente criaria a oportunidade para o Governo avaliar as consequências económicas das dívidas.

"O Governo tem de procurar aumentar a credibilidade perante a comunidade internacional", reiterou o diplomata, que classifica de positiva a ida do executivo moçambicano ao parlamento na quarta-feira e quinta-feira para explicar os contornos das dívidas escondidas.
Por sua vez, o embaixador da União Europeia em Moçambique, Sven von Burgsdorff, falando também após uma audiência com Filipe Nyusi, disse que os países doadores do Orçamento de Estado (OE) continuam a avaliar a possibilidade de retomar ou não o apoio ao país, considerando que neste momento o grupo aguarda pela chegada da missão do Fundo Monetário Internacional nos próximos dias.
"Também estamos à espera de mais discussões com o FMI", afirmou o diplomata europeu, acrescentando que a UE continua empenhada no desenvolvimento de Moçambique.

O Governo moçambicano explicou, na quarta-feira e quinta-feira, no Parlamento, os contornos de dívidas escondidas de mais de mil milhões de euros contraídas e avalizadas pelo anterior executivo, entre 2013 e 2014.

O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, reconheceu a existência de dívidas fora das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança e infra-estruturas estratégicas do país, o que levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender a segunda parcela de um empréstimo a Moçambique e a deslocação de uma missão a Maputo.

O grupo de 14 doadores do Orçamento do Estado também suspendeu os seus pagamentos, uma medida acompanhada pelos próprios EUA, que anunciaram que vão rever o apoio ao país.

Com a revelação dos novos empréstimos, veiculados pela imprensa internacional, a dívida pública de Moçambique é agora de 11,66 mil milhões de dólares (10,1 mil milhões de euros), dos quais 9,89 mil milhões de dólares (8,6 mil milhões de euros) são dívida externa.

Este valor representa mais de 70% Produto Interno Bruto (PIB) e traduz uma escalada de endividamento desde 2012, quando se fixava em 42%.

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