EP e REFER identificam 33 milhões em imóveis para vender este ano

Infra-Estruturas de Portugal, que resulta da fusão das duas empresas e que deu na sexta-feira um passo importante, quer desfazer-se de 150 activos no curto prazo. Porém, os obstáculos na ferrovia podem limitar proveitos.

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A grande maioria dos imóveis da Refer não pode ser vendida por estar afecta ao domínio público ferroviário Nelson Garrido

A venda de imóveis da Estradas de Portugal (EP) e da Refer é vista como uma das áreas que mais poupanças vai gerar com a fusão das duas empresas. Mas, no ano em que a nova Infra-estruturas de Portugal ganhará vida, estão identificados cerca de 150 activos para alienar com um valor que não ultrapassa os 33 milhões de euros. Há grandes obstáculos por ultrapassar neste campo, sobretudo quando o objectivo, anunciado pelo Governo, é que as sinergias com esta união de forças entre as redes rodoviária e ferroviária atinjam os mil milhões de euros em cinco anos.

Questionada pelo PÚBLICO sobre os avanços na identificação de património para venda, a EP respondeu que a empresa e a Refer “têm actualmente identificados para colocar no mercado em conjunto imóveis no valor de cerca de 33 milhões de euros”. Este montante refere-se, naturalmente, ao resultado da avaliação feita aos activos, podendo as receitas com a alienação ficar aquém, tendo em conta a desvalorização que se tem sentido no mercado imobiliário.

No total, são pouco mais de 150 os imóveis de que a Infra-estruturas de Portugal se pretende desfazer no curto prazo, a larga maioria detida pela EP. Os cerca de 140 activos que a gestora da rede rodoviária nacional tem à venda são essencialmente parcelas de terrenos que resultaram de expropriações, havendo ainda prédios que deixou de ocupar, como é possível constatar nas listagens que divulga no seu site.

Há vários anos que a empresa tem em curso um plano de alienação de património, que tem contribuído, embora sem grande expressão, para os seus proveitos. No ano passado, “alienou cerca de 50 imóveis”, referiu a empresa, acrescentando que “estas vendas permitiram obter um total de 1,5 milhões de euros de receitas”. Para 2015, a meta é “alcançar até ao final do ano os 2,8 milhões de euros de receita”, esperando, por isso, “um crescimento de quase 100% em relação ao resultado do ano anterior”. Este valor compreende já a operação de venda conjunta com a Refer.

Já na Refer, estão identificados entre dez a 20 imóveis para alienar no curto prazo. Uma amostra muito residual face ao universo total de activos detidos pela empresa. O problema é que quase todos (cerca de 96%, segundo foi possível apurar) pertencem ao domínio público ferroviário, não sedo possível a sua venda imediata a privados. Este é o grande obstáculo em que as sinergias previstas de mil milhões de euros podem esbarrar, a não ser que o Governo avance com a sua desafectação. Um processo que será, porém, sempre demorado.

À procura de soluções
O PÚBLICO sabe que o Executivo está a trabalhar numa saída para ultrapassar este obstáculo, que poderá surgir dos novos estatutos da Infra-estruturas de Portugal. Apesar de a venda de imóveis não ser a única parcela no plano desenhado para alcançar as sinergias de mil milhões, o seu contributo é encarado como importante. Além da alienação de património, no lado do acréscimo de proveitos estão incluídas as concessões (como a que foi anunciada para a linha de Cascais que é explorada hoje pela CP) ou a venda de outros activos que não estão afectos à operação, como a Refer Telecom.

Por outro lado, estão também identificadas poupanças através da redução de custos operacionais ou de gastos associados a investimento, construção e manutenção da rede, já que as duas empresas passarão a fazer a contratação em conjunto. Foi este plano que levou o Governo a rever substancialmente em alta as sinergias com a fusão, já que inicialmente se estimava que atingissem apenas 400 milhões de euros.

As dificuldades que a Refer tem sentido em desfazer-se de património estão espelhadas nos resultados que tem obtido. Contactada pelo PÚBLICO, a empresa referiu que “em 2013 o volume de negócios da Refer Património [o braço para a gestão de activos imobiliários] foi de 11,1 milhões de euros” e que as expectativas para o ano passado “apontam para um crescimento”.

No entanto, nesse ano não concretizou qualquer venda de imóveis, tendo os proveitos sido gerados unicamente com arrendamento (9,1 milhões), estacionamento (1,4 milhões), publicidade (cerca de 400 mil), outros serviços e gestão de empreendimentos (135 mil).

Em 2012 o cenário foi diferente, já que a Refer Património conseguiu encaixar dinheiro com a venda de imóveis. Porém, os proveitos ficaram-se por 160 mil euros com a alienação de dois apartamentos em Sines. Recuando ao ano anterior percebe-se que a empresa já conseguiu melhores resultados: em 2011 tinha arrecadado quase 300 mil euros com a alienação de património.

A estratégia de venda de activos passará a ser uma só em breve, já que se prevê que a fusão seja concretizada em breve. Na sexta-feira, a Infra-estruturas de Portugal deu mais um passo importante com o desenho da nova estrutura da empresa, o que implicou, de acordo com um comunicado enviado às redacções, uma redução de 20% nos cargos de alta direcção, composta em 55% por quadros da Refer.

Desde Janeiro que a administração da EP e da Refer é uma só, liderada por António Ramalho, que era até então presidente da gestora da rede rodoviária.

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