Empresária vietnamita quer criar fábrica de semicondutores em Paços de Ferreira

Investimento de 163 milhões de euros está dependente dos apoios comunitários que venham a ser concedidos.

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Os chips são cada vez mais pequenos DR

A empresária vietnamita Jennifer Nguyen quer instalar uma empresa de produção de semicondutores em Paços de Ferreira, ocupando parte das instalações do actual parque de exposições do concelho. O investimento, que ascenderá, da parte da empresária, a cerca de 200 milhões de dólares, está dependente de apoios que possam ser concedidos pelo novo quadro comunitário de apoio, explicou ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Paços de Ferreira, Humberto Brito.

Também Miguel Nunes, director operacional da SSTI – Saigon Semiconductor Technology,  empresa criada em 2014, no Vietname, e que pretende realizar o investimento em Portugal, disse ao PÚBLICO que “a instalação do clean room (sala limpa) é um grande investimento. Como existem apoios comunitários que podem pagar parte deste investimento, foi decidido fazer diligências nesse sentido”.

O gestor referiu ainda que o investimento a suportar através da IST - International Seminconductor Technology, SA, empresa criada em Portugal, em Outubro, com um capital social de 50 mil euros, será realizada através de “maquinaria e o know-how, num total de 200 milhões de dólares (cerca de 163,6 milhões de euros)”.

O investimento a realizar em Portugal corresponderá a uma deslocalização de parte da empresa de semicondutores USTI,  de Santa Clara, Califórnia, entretanto comprada pela SSTI, uma informação que consta do site da empresa vietnamita e que é confirmada por Miguel Nunes e pelo presidente da autarquia nortenha. Outra parte da produção da empresa canadiana será deslocalizada para o Vietname.

Numa fase inicial do investimento a realizar em Paços de Ferreira está prevista a criação de 150 postos de trabalho, número que poderá evoluir até aos 500 numa fase posterior, segundo uma apresentação recente feita pela empresária, em Paços de Ferreira.

Miguel Nunes explicou que Espanha e a Alemanha chegaram a ser hipótese para a realização do investimento na Europa, mas a escolha acabou por recair por Portugal, por vantagens competitivas ao nível dos “custos de produção mais baixos e de acesso facilitado a mão-de-obra”. A possibilidade de instalação rápida da empresa e o apoio da autarquia foram igualmente determinantes para a escolha de Paços de Ferreira, adiantou o gestor, que trabalha e reside na Ásia desde 2005, ligado às tecnologias de informação.

A possibilidade de aproveitar as instalações da antiga fábrica de semicondutores Qimonda, em Vila do Conde, que passou por um processo de insolvência, mantendo uma parte da produção através de uma nova empresa, a Nanium, chegou a ser ponderada, mas por razões técnicas foi abandonada. Miguel Nunes adiantou que o secretário de Estado da Inovação chegou a sugerir a compra da empresa de Vila do Conde, mas a opção não correspondia às necessidades da empresa vietnamita”.

Para essa decisão pesou o facto “de as instalações [da ex-Qimonda] não serem adequadas para um front-end (produção de wafers), mas para um back-end (produção de chips a partir de wafers). As diferenças ainda são substanciais, uma vez que o clean room para um front-end é muito mais dispendioso”, explicou.

Contactado pelo PÚBLICO, o administrador da Nanium, Armando Tavares, garaantiu não ter recebido qualquer contacto no âmbito do alegado investimento.

Sobre o tipo de semicondutores que a empresa vietnamita pretende produzir em Paços de Ferreira, o director operacional adianta que é “quase tudo, se bem que em base silício não existam vantagens”. E acrescenta que “farão chips para RF (telecomunicações) e outros produtos de topo para indústrias de vanguarda, como aeronáutica”. A unidade a instalar dos Estados Unidos trabalhava, segundo o gestor, para o Northrop-Grumman, Lockheed-Martin, Boeing, Alcatel, Apple, Fujitsu, entre outras”.

Para a concretização do investimento, os responsáveis da SSTI adiantam que têm mantido contactos com o presidente da autarquia de Paços de Ferreira, com a AICEP, com o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, com quem tiveram uma reunião, e com a CCRN. O PÚBLICO tentou junto da AICEP (que promove as exportações e o investimento em Portugal) obter informações sobre este projecto, mas não obteve qualquer resposta.

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