É melhor pagar antes
Em Oxford, com 30 anos, doutorado desde os 25, fui obrigado a revisitar o sistema de pagar a electricidade de antemão. Uma moeda de 10 pensos (à volta de 14 cêntimos) comprava à volta de 5 minutos de electricidade.
Para tomar banho de manhã tinha de me levantar a tremer de frio da cama para depositar 3 moedas de ten pence no taxímetro.
Tinha também de coleccionar moedas de 10 pensos para poder alimentar a besta eléctrica. Se me esquecesse um só dia não podia tomar banho ou gozar de iluminação suficiente para ler e escrever à noite. E não só: o fogão também era eléctrico e, para fazer o almoço ou o jantar, tinha de ter as moedas necessárias para funcionar.
Este sistema, entretanto, "caíu em desuso", uma expressão horrenda para dizer que se deixou de usar.
Por outro lado, a partir dos países mais pobres, o pagamento antecipado cada vez faz mais sentido.
Hoje em dia, 30 anos depois, enfurecem-me as contas que me cobram ex post facto. Gastei isto em electricidade, água e gás? Porque é que não me avisaram que estava a abusar? Será que gostam e querem que eu abuse? Sim.
Também os pré-comprados dos telemóveis são mais saudáveis. São como o dinheiro que temos nos bolsos: só gastamos o que temos.
Deixar-nos pagar depois é incitar-nos a gastar mais do que podemos. Chegou a altura de declarar que essa mama e esse engano acabarão. É uma aldrabice. É uma cilada. É melhor pagar o que se compra do que pagar a dobrar pelo dinheiro que não se tem.