BPI vende metade da posição em dívida pública portuguesa e italiana

Banco admite reembolsar totalidade dos títulos de capital contingente (CoCo) ao Estado em Junho.

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Só este ano o banco liderado por Fernando Ulrich pagou 920 milhões de euros Foto: Ricardo Brito

O presidente da comissão executiva do BPI, Fernando Ulrich, revelou nesta terça-feira que o banco concluiu a venda de metade da posição detida em dívida pública de médio e longo prazo de Portugal e Itália, no valor nominal de 850 milhões de euros e 487,5 milhões de euros, respectivamente.

O presidente da comissão executiva do BPI, Fernando Ulrich, revelou esta terça-feira que o banco concluiu a venda de metade da posição detida em dívida pública de médio e longo prazo de Portugal e Itália, no valor nominal de 850 e de 487,5 milhões de euros, respectivamente. O impacto conjunto da alienação dos títulos e do fecho das respectivas posições de cobertura (swaps de taxas de juro) traduziu-se numa menos valia depois de impostos de 102 milhões.

Ulrich explicou que a operação, “muito discutida, há muito tempo”, pela equipa de gestão, quis “reduzir a volatilidade futura dos rácios de capital” do banco devido à entrada em vigor das novas regras de Basileia III, a 1 de Janeiro. Estas ditam que as menos valias potenciais associadas à divida pública passam a estar reflectidas, aos preços de mercado, em cada momento, no rácio common equity Tier 1 (CET 1) dos bancos. “Neste novo quadro, pensámos que as posições que tínhamos eram grandes demais e poderiam sujeitar o banco a uma volatilidade que não nos parecia aconselhável”, disse o presidente do BPI. O banco tem neste momento em carteira 850 milhões de dívida pública portuguesa, quando em Junho de 2012 tinha mais do triplo do valor.

“O problema não tem a ver com perdas efectivas nos títulos da dívida, que não vislumbramos, nem para Portugal, nem para Itália”, mas sim com o seu impacto nos rácios, na eventualidade de uma nova crise. "Se em 2016 houvesse outra crise, o valor dos títulos poderia cair 20%, 30%. No limite, poderíamos ter de fazer um aumento de capital só por causa da flutuação dos preços, mesmo que a dívida fosse paga quando chegasse à maturidade, em 2019", exemplificou.

Foi por isso "uma medida de prudência para o futuro", que aproveitou "um momento favorável”, referiu Ulrich, lembrando que a venda dos títulos até originou uma mais-valia de 64 milhões de euros (o prejuízo registou-se não nos títulos, mas nos swaps, derivados de cobertura de risco de variação das taxas de juro).

"Obsessão" com o reembolso dos CoCo
A carteira de títulos de capital contingente (CoCo) e obrigações de dívida pública portuguesa e europeia atinge neste momento 1758 milhões de euros. Fernando Ulrich disse esperar que o montante "rapidamente se reduza" com o reembolso antecipado de CoCo no montante de 420 milhões. O BPI tem "uma verdadeira obsessão" com o pagamento destes títulos ao Estado, disse Fernando Ulrich, que também destacou "o esforço muito significativo" do banco na "redução do risco cruzado" entre risco soberano e risco bancário. "Espero que os responsáveis financeiros nos dêem crédito por isto", acrescentou.

Com o reembolso, já em Março, de 500 milhões de euros de CoCo, a melhoria das cotações das obrigações de Portugal e Itália com vencimento em 2019 e a venda de metade da carteira, bem como a alienação (por 86 milhões de euros) de obrigações subordinadas de seguradoras europeias, o banco terá, no final de Março, um rácio CET 1 de 9,7% e um excesso de capital (o capital que fica acima do limite mínimo permitido) de 482 milhões.

Ulrich disse esperar que “o Governo publique em breve” novas regras sobre os impostos diferidos activos que permitam gerar mais 226 milhões de euros de capital. Somando a este montante os 93 milhões de euros previstos com a operação de troca de preferenciais e dívida subordinada por acções que o banco vai propor aos accionistas, em Abril, e que deverá estar concluída em Maio, o excesso de capital poderá subir para 801 milhões.

Sobre o pagamento antecipado de CoCo (subscritos pelo Tesouro no montante de 1500 milhões de euros), o presidente do BPI manteve que os 420 milhões pendentes são para reembolsar antes do final do ano, eventualmente em Junho.

"As informações que estamos a divulgar hoje permitem-nos manter essa decisão [de reembolsar antes do final do ano] e talvez mostrar uma ambição maior", disse, embora remetendo qualquer decisão para depois da aprovação das contas do terceiro trimestre e da assembleia-geral de accionistas.

"Penso que seria bonito reembolsar este capital na totalidade dois anos certos depois de o termos recebido [Junho de 2012] e acabar o pagamento ao mesmo tempo que acaba o programa de ajustamento" português, disse o banqueiro. "Seria a nossa saída limpa", acrescentou. 

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